O dia da missão finalmente havia chegado. Era impossível esconder o nervosismo e o frio na barriga; mas eu deveria me controlar. Eu deveria colocar meus pés no chão e pensar que as coisas iriam dar certo, e principalmente, me concentrar nos objetivos.
Além disso, coloquei em minha mente que iria conversar com o tenente sobre o diálogo que eu ouvi dele com Soap e Gaz, mas isso iria acontecer somente depois da missão ser bem-sucedida. Eu, de forma alguma, iria querer distraí-lo.
Meus pensamentos vagavam naquela conversa entre os três, e como Ghost havia se aberto com os outros homens. Suas palavras ecoavam não só em minha mente, mas em meu coração, apontando como o tenente estava entrelaçado nessa história, assim como eu. Afinal, estávamos tão próximos nos últimos tempos que eu não conseguia mais me ver solta dessa situação. Eu apenas gostaria de abraçá-lo e apertá-lo contra meu corpo, e dizer que tudo ficaria bem, e que eu compreendia totalmente seus sentimentos.
***
Barakett ficava distante da capital, dificultando nosso acesso. Cada quilômetro que passávamos, a ansiedade me alertava de alguma coisa. Quando isso acontecia, eu apertava minha AUG contra o peito e tocava o revólver no coldre lateral.
Vocês irão salvar a minha vida desta vez. Sem loucuras ou correr de forma alucinante pelos lados...tenho uma missão e irei cumpri-la.
Nosso plano era afunilar os terroristas. Eu e o tenente Ghost ficaríamos na companhia de alguns "libertadores" de Farah, em um velho prédio a alguns quilômetros de distância de Barakett enquanto os outros estariam na base militar da Al-Qatala, destruindo o VTOL e seus UAV's. Quando não houvesse mais como resistir, os terroristas fugiriam, e então nossas duas equipes iriam encurralar os restantes, exterminando-os.
Vai dar certo. Vamos conseguir.
***
Estava amanhecendo quando os carros nos deixaram perto da construção. Alguns poucos homens estavam por perto, mas foram facilmente neutralizados pela equipe de Farah.
Antes de saírem, Price, Soap e Gaz espalharam explosivos por toda extensão vertical do prédio, no final, dando o dispositivo de explosão para Ghost...aquilo foi assustador.
-Fiquem alertas. -Price advertiu antes de sair. Eu concordei com a cabeça, rapidamente.
Os homens de Farah se dispersaram por todos os andares, nos deixando o último andar e o teto comigo e Ghost. O tenente estava ajoelhado avaliando suas munições enquanto eu observava a janela pelas lentes do binóculo. Estávamos em um cômodo gigante que se assemelhava à uma cozinha, mas totalmente destruída.
-Viu algo? -perguntou ele.
-Não, senhor. Apenas areia...e areia.
O tenente respirou fundo antes de colocar seus óculos novamente.
-Você já controlou um Predator, recruta? -ele perguntou, me fazendo perder a concentração.
-Não, senhor, mas é meu sonho. -dei uma breve risada-. Pude ver como funciona, mas nunca estive no controle.
O Predator era meu sonho de consumo. Um veículo aéreo não tripulado (UAV) que oferecia suporte, onde lançava mísseis de destruição que eram controlados remotamente.
-Roach sempre acaba o destruindo quando temos um. -Ghost resmungou-. Com certeza você terá mais cuidado.
Dei um sorriso sem graça.
-Bravo 0-7, na escuta? -disse Price no rádio.
-Vá em frente, Bravo 0-6. -respondeu Ghost.
-Acabamos de entrar na base deles, e há uma movimentação militar considerável, bem menos do que eu esperava. Estamos tentando não chamar muito a atenção.
-Permissão para pedir suporte aéreo, senhor. -Ghost me olhou.
-Permissão negada, Bravo 0-7. Ainda não podemos chamar atenção e não chegamos no VTOL. Desligo.
Estreitei os olhos, estranhando a situação.
-Eles já sabem que estamos lá, senhor...deveriam estar à frente de nós, não temos nenhum fator surpresa.
-Devemos nos atentar a isso. Apenas não perca o foco, recruta.
Assenti, hesitante.
Os minutos se passavam, e Price não havia mais nos contatado.
Mas tudo piorou quando vi diversos carros se aproximando e parando em frente ao prédio. Alguns passaram reto, mas não eram nossos.
-Tenente, aproximação desconhecida. -entreguei o binóculo a ele.
-Merda. Bravo 0-6, estamos com problemas aqui.
-O que está acontecendo, Bravo 0-7? -Price respondeu em meio a um tiroteio.
-Veículos inimigos. Temos alguns conosco, outros seguiram a rota para a base militar.
-Estamos perto do VTOL e dos UAV's. Vinte minutos, câmbio.
Ah, droga...
-Foi uma armadilha...-Ghost resmungou-. Os terroristas estão vindo do sul...
Senti um arrepio quando ouvi tiros sendo disparados pelos andares inferiores. Os terroristas tinham duas rotas para a entrada no prédio: leste e oeste.
-Trouxe munição reserva, recruta? Porque iremos precisar. -Ghost continuou, enquanto colocava uma mão em meu ombro-. Vigie a rota oeste enquanto eu fico na ala leste.
Ele me deixou parada enquanto corria para o outro lado do local, esperando qualquer movimento. Rapidamente me dirigi até a parte oeste do local, que me levava à uma porta aberta para à escadaria.
-Youssef, como está sua equipe?! -Ghost contatou o operador de Farah, que estava nos andares inferiores.
-Muitos homens. -ele respondeu, trocando tiros-. Todos estão m...
-Youssef?...-perguntei.
-E...vou...mald...
A voz cortada e abafada de Youssef indicava o que estava acontecendo. Mais nada foi ouvido.
-Porra! Estamos sendo incurralados, recruta. -Ghost foi até mim-. Vamos ter que lutar.
Minha respiração acelerou enquanto eu mordia o lábio.
Vamos lá...
Corri até a porta oeste, ficando frente a frente com um homem alto com uma shotgun. A fechei rapidamente, e ele logo atirou. Esperei para que pudesse passar e o neutralizei com a minha arma.
Não posso utilizar granadas aqui, esse prédio pode cair a qualquer pequena detonação.
Olhando pelas janelas, mais carros da artilharia inimiga chegavam, e aparentemente todos os homens de Farah já estavam caídos.
Eu tentava acertar o máximo de inimigos enquanto saíam dos carros, mas eram muitos, e minha munição já estava acabando. Quando cheguei em meu último pente, o desespero subiu instantaneamente.
Não, não, não, não, não, não, não...
O tenente então fechou sua porta e tentou fazer uma barricada improvisada com algumas coisas que encontrou pelo local.
-Preciso de munição, recruta! -ele me olhou.
Minhas mãos estavam tremendo, deixando minha arma instável. Me virei, enquanto ele retirava todos os pentes que encontrava em minha bolsa; haviam alguns, mas nenhum para a minha arma.
-Recruta, olhe para mim.
Meu corpo não me obedecia. Por mais que eu quisesse olhá-lo, o medo me impedia.
-Recruta! -Ghost colocou a mão em meu ombro e me balançou, violentamente.
-S-sim, senhor...
-Me escute. Você ainda tem munição na sua arma? -afirmei, hesitante-. Certo, preciso que você saia daqui. Vá pela ala oeste, eu irei atrair a atenção deles e seu caminho ficará limpo. Entendeu?
-Mas e o senhor? -minha expressão de medo era visível.
Ele então tirou o dispositivo que iria acionar todas os explosivos pelo prédio. Com a explosão, todos ali morreriam, inclusive ele.
Quando a ficha caiu, meus olhos se abriram com o mais puro terror. Nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar essa cena dantesca.
-Você tem três minutos, recruta.
Eu apenas balancei minha cabeça, sem acreditar no que ele estava dizendo.
O tenente com um movimento rápido de sua mão livre, puxou minha cabeça para o seu peito, enquanto acariciava meus cabelos com as pontas dos dedos.
-Você tem três minutos, recruta. -ele repetiu, sussurrando-. Agora vá.
Ghost se afastou. Eu não poderia captar suas emoções através de seus óculos escuros, o que me deixava agoniada.
-Vá, Megan! -ele gritou.
O tenente não teria munição suficiente para todos os homens, e nem poderia enfrentá-los sozinho. Dei a ele meu revólver, caso fosse de alguma ajuda.
Ele então se ajoelhou, esperando uma aproximação inimiga.
Eu corri.
Corri o máximo que minhas pernas aguentavam, mas contra a minha vontade. As lágrimas caíam enquanto sons de tiro poderiam ser ouvidos. Quando me encontrei com um inimigo, descarreguei todo o meu pente nele, que rapidamente caiu.
Eu não queria saber...tudo isso seria destruído, e o tenente morreria para me salvar e para atrasar os inimigos.
Eu cheguei cansada na metade do prédio. Corpos jaziam no chão, para todos os lados enquanto a fumaça subia.
Não poderia...
Não conseguiria...
Eu preciso.
Mas você não pode.
Eu posso.
E vai conseguir?
Eu irei tentar.
Tola.
Balancei a cabeça e limpei as lágrimas, vendo que não poderia escapar pela rota oeste, que estava bloqueada. As escadarias a leste estavam livres, aparentemente sem movimentação.
Só vou ter uma chance.
Corri desesperadamente para os degraus, mas não iria descer. Subi freneticamente; o tenente não iria se sacrificar.
Consegui chegar no corredor rumo a porta oeste onde Ghost estava, e os tiros continuavam. Minhas pernas tremiam e eu ignorava a dor que latejava por todo o meu corpo.
No final do extenso corredor pude ver o tenente no chão, enquanto um homem estava sobre ele, com uma faca se aproximando em sua à sua garganta.
Antes que pudesse correr, um homem de capacete saiu de um quarto à direita, ficando de costas para mim. Em sua mão direita, estavam algumas dog tags, que pingavam sangue. Em volta de seus ombros estava um tipo de "armadura" que o protegia de ataques na nuca.
Eu não tinha munição na AUG.
Eu não tinha o meu revólver.
Eu não poderia jogar uma granada.
Sem pensar, joguei minha arma ao chão, saquei minha faca e forcei meus pés a correrem.
O maldito estava tão focado em matar Ghost que nem me ouviu.
Pulei em suas costas e o apunhalei no peito tantas vezes quanto podia.
O homem que era um pouco mais alto que eu então se virou, me olhando com raiva. Tentei dar mais um golpe, mas não consegui; ele sorriu brevemente quando senti o cano de sua pistola tocar minha roupa, na área desprotegida pelo colete a prova de balas.
Com meu breve movimento de esquiva, ele puxou o gatilho.
E então...
A dor, o choque...tão diferente.
Antes de cair, eu o golpei em sua jugular, o deixando para morrer e desabar do lado oposto.Seja bem-vinda, novamente.
Quer tentar?
Ficará mais atenta se dormir. Sou seu superior, isso é uma ordem.
Somos uma equipe.
Eu percebi que sua equipe melhorou...
Recruta! O que está fazendo aqui?!
Farei valer a pena sua coragem.
Eu te avisarei quando estiver chegando...
Não deixarei Graves chegar perto de você.
Por que eu não estou surpreso em ter você novamente em minha sala?
O meu pai era um merda.
-Recruta...
Você é corajosa, não posso negar isso.
-Recruta...
Eu gosto dela...mais do que deveria.
-Megan!
Abri instantaneamente meus olhos, com a respiração acelerada, observando os detalhes ao redor. Olhei para cima e vi o tenente Ghost; meu corpo estava apoiado no seu peito, enquanto ele me segurava com um braço e atirava com o outro. O dispositivo de explosão estava jogado no chão, sem ter sido utilizado. O corpo do homem que atacou o tenente com uma faca, estava ao nosso lado, sem vida.
Eu havia sido atingida na lateral direita do meu corpo, e tentava apertar com as mãos para estancar o sangramento. Mas a cada respiração, um choque se espalhava.
-Ten...-tentei falar, sentindo a dor lancinante.
-Bravo 0-6, na escuta?! Bravo 8...a Megan foi atingida! -gritou Ghost no rádio.
-Merda! -respondeu a voz no outro lado-. Quatro minutos, Bravo 0-7!
-Não tenho quatro minutos! -Ghost rebateu.
-Tenente...-tentei mais uma vez, quando os disparos cessaram por alguns momentos.
-Megan...-ele me olhou-. Por favor...
-Tenente!
Gritei, chamando sua atenção totalmente.
-Eu também gosto de você.
As palavras saíram fracas, mas lotadas de sentimento. Ele ficou ali, me encarando sem reação. Eu sabia o que aconteceria comigo, mas vê-lo a salvo valeu todo o sacrifício.
O sangue saía do meu corpo assim como minha própria vida...
-Estamos chegando, Bravo 0-7. -a voz no rádio soou novamente.
Ghost se levantou e me carregou no colo, vendo que estaríamos seguros por um tempo. Ele correu subindo pelos degraus, chegando ao teto do prédio.
O brilho do sol matutino cegava os meus olhos, mas isso não importava.
Minha respiração pesava, e a dor não era tudo o que me restava. Eu estava com ele e me sentia bem.
A agonia pulsava, mas eu a ignorava.
E, a balaclava de caveira foi a última coisa que vi antes de fechar os olhos.

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Don't Let Me Down.
Romance(PRIMEIRA TEMPORADA)>>>Quando Megan Taylor consegue sua admissão na Task Force 141, ela pulou de felicidade pelo sucesso que obteve e por seu sonho estar se realizando. O tenente Simon "Ghost" Riley, sempre taciturno, viu que a nova recruta teria mu...