Marcas

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Haviam tantas informações para a minha mente processar que eu me sentia cansada apenas em refletir sobre tudo. Não conseguia organizar meus pensamentos, eles estavam dispersos... e além disso, eu estava extremamente preocupada com a minha equipe, o coronel Alejandro e principalmente Simon; o tenente não saía da minha cabeça e como ele estava reagindo a toda essa situação.
Eu sei que Simon não irá desistir de mim, disso eu tenho certeza. Apenas tenho medo da angústia ter tomado seu coração e tê-lo deixado desesperado... Eu te amo meu amor, e quero que você fique bem.
O áudio do ex-sargento Javier virou meu mundo do avesso: há pouquíssimo tempo atrás eu estava nas mãos de Graves sem ter absolutamente nada contra ele, agora, eu tinha provas que poderiam incriminá-lo, e era o bastante por enquanto.
Presídio de segurança máxima para o senhor Phillip Graves? Prisão perpétua para o comandante? Que sonho...
De qualquer forma, eu precisava chegar na sala de controle e ver o que poderia ser feito. Do local, poderia ter uma chance e uma visão de planejamento... e quem sabe até liberar os Los Vaqueros e o coronel Vargas...
Meus pensamentos foram interrompidos pela porta pesada de metal se abrindo.
O comandante Phillip Graves entrou e puxou uma cadeira de metal, sentando-se. A porta então se fechou, e eu apenas me encolhi sentada no canto da cama, abraçando minhas pernas.
Quando Graves viu que eu não iria me aproximar, ele decidiu puxar sua cadeira mais perto de mim.
-Você realmente não pode ficar sem me ver...-falei, irônica.
-Talvez você seja mesmo a única coisa interessante por aqui. -ele encostou suas costas, lentamente-. O coronel Vargas é irredutível, o homem de poucas palavras... até torturar ele é chato.
Não respondi nada. É doloroso pensar que estavam machucando o coronel... Ele sempre foi uma pessoa adorável comigo.
-Por que você não come?
Graves olhava para os pratos de comida no chão, quase agrupados e apontava para eles, esperando uma resposta. Meus olhos se voltaram para o comandante enquanto eu balançava a cabeça.
-Acho que isso não é da sua conta. -murmurei.
-Você é realmente muito mal-agradecida. Tem alguns da equipe do coronel que nem comida estão ganhando e você...-ele olhou novamente para os pratos.
-Dê a eles então.
Graves apoiou seus cotovelos nos joelhos e me olhava fixamente; era um pouco assustador.
-Por que é tão difícil? Poderia ter facilitado as coisas para o seu lado e para o lado da sua equipe...
-É mesmo? Como? -perguntei, um pouco curiosa.
-Você conquistou a confiança deles, não é mesmo? Principalmente do tenente Ghost... Homem difícil, e mesmo assim vocês estão juntos. Isso ainda poderia me ajudar... digo, nos ajudar. Uma troca, entende?
Coloquei a mão na testa, dando uma risada de sua proposta inusitada.
Ele veio até aqui se humilhar?
-Isso significa um "não"? -ele continuou.
-Significa "nem fodendo". -respondi com raiva.
-Está bem então. -Graves se levantou-. Nada de acordo com você.
-Você apenas perde seu tempo comigo, comandante.
Ele então tirou um celular de seu colete, o posicionando horizontalmente com o apoio de uma estante.
Graves deu um sorriso diabólico enquanto caminhava lentamente em minha direção; eu tentei me levantar, mas ele me deitou na cama, prendendo meus pulsos acima da cabeça. Quando fui guitar, ele apenas colocou uma mão em minha boca, me encarando com seus penetrantes olhos azuis; seu rosto se aproximou do meu ouvido.
-Eu não sou assim. -ele sussurrou, e então aumentou seu tom de voz repentinamente-. Mas terá uma próxima vez, não é mesmo, docinho? -Graves sorriu enquanto olhava para a câmera.
O comandante tirou lentamente a mão que cobria minha boca, ainda me olhando sorridente, para então encostar seus lábios nos meus rapidamente, sem sequer me dar direito de resposta.
Não...
Meu coração acelerava enquanto ele apenas se levantava e ia até o celular, pegando-o novamente.
-É o suficiente para tirar um homem do sério. -ele sorriu-. O tenente Ghost ficará tão bravo com você...-Graves franziu as sobrancelhas, irônico.
-Não...-me levantei desajeitada, mas ele apenas não ligou e saiu do local, fechando a porta na minha cara.
Ele vai enviar isso para o Simon... Deus, me sinto tão culpada, tão suja, tão contaminada... Eu preciso sair daqui.
Deitei minha cabeça na cama, com raiva e cansada. Eu precisava fazer alguma coisa, mas o quê? Como eu fugiria do local e ajudaria meus colegas se todas as minha forças estavam sendo sugadas por esse homem terrível?
Desesperadamente limpei meus lábios com minhas mãos, tentando tirar qualquer resquício de Philip Graves ali.
Não posso chorar... Ele faz isso para me desestabilizar, e não posso ceder. Você vai morrer, Phillip Graves.
***
No dia seguinte, reuni todas as forças que tive para pensar no que iria fazer, e então concluí que eu iria embora do local. Não importava como, mas eu não estaria mais sob a custódia de Graves, nem mesmo em sonho.
Certo...
Fui até a estante de gavetas e peguei o gravador de voz, guardando-o no bolso e minha chave de fenda, retirando rapidamente a grade do duto de ar.
Subi, rastejando o mais rápido que podia até o quarto do coronel Vargas. Ele estava sentado em sua cama, olhando fixamente para o que parecia ser uma fotografia.
Deve ser a família dele... ou pessoas que importam muito. Minha dor aumenta pensando nele, afinal, no fim do dia, ele voltaria para os braços de alguém. É o que eu espero com Simon; não sei o que faria se fosse ele nessa situação. O desespero iria me matar... Bem, é melhor não atrapalhar o coronel nesse momento. Ele precisa sentir esse momento sozinho...
Respirei fundo e continuei rastejando pelos dutos; meu objetivo era chegar até a sala de comando da base, para eu poder ter um panorama da situação.
Ao chegar na grade, aguardei alguns momentos para os guardas saírem do local e eu ter uma chance de entrada.
Quando eles saíram e a sala ficou vazia, percebi que era o meu momento.
Hora de incorporar  o James Bond...
Tentei ajustar meu braço pela grade e percebi que mesmo apertado, eu conseguiria retirar os parafusos com a chave de fenda.
Mesmo sendo extremamente desconfortável, retirei cuidadosamente o objeto e lentamente deslizei para fora do duto, tentando fazer o mínimo de barulho possível.
Legal, estou dentro.
Deixei a grade no chão e fui até os painéis iluminados. Toquei os inúmeros botões ali, tentando entender a função de cada um.
Havia ali algumas telas que me mostravam as imagens de câmeras de segurança, me dando a noção total do problema: inúmeros homens em quartos como o meu, alguns tão cansados que mal conseguiam levantar da cama.
Droga... Graves vai pagar por isso.
O comandante e alguns soldados estavam em uma sala, torturando um homem, aparentemente da equipe do coronel Vargas.
Porra. Preciso ser rápida.
Ali haviam várias travas de seguranças automáticas que poderiam abrir as portas que usavam esse tipo de fechadura, possibilitando a saída de vários soldados de Alejandro. Mesmo me arriscando, olhei novamente para a câmera onde Graves estava, e ele continuava no mesmo local com seus homens. Um outro botão, dessa vez vermelho, de emergência, estava no painel, que iria trancar todas as portas imediatamente; era uma ótima medida de segurança...
Quando cliquei para liberar as travas, uma senha foi pedida. Digitei "GravesÉUmMerda", mas a senha estava incorreta. Tentei com "LosVaqueros", e mesmo assim, nada.
Droga... Tenho certeza que a senha simplesmente não vai estar escrita por aqui... O coronel Vargas! Sim, ele sabe dessa senha, preciso vê-lo agora... Estou fazendo progresso!
Olhei para a tela de câmeras novamente, mas, desta vez, Graves não estava ali, o quarto permaneceu vazio; meu corpo arrepiou com a visão.
Me virei rapidamente, vendo a porta ser aberta: era o comandante e três soldados da Shadow Company: todos armados.
-Você...-Graves grunhiu, se aproximando. Seu rosto era de pura raiva e tensão.
O comandante olhou para trás, vendo a grade no chão e o duto aberto: era a receita perfeita para me condenar.
-E-eu...-tentei falar algo, me apoiando na mesa de controle.
Graves então lentamente desfez sua feição de raiva, me olhando com um pequeno sorriso malicioso.
-Você não para de me surpreender, não é mesmo? -ele se aproximou, ficando próximo do meu rosto.
Porra...
Engoli a seco, desviando o olhar. Nesse momento, Graves pegou meu rosto entre suas mãos, me forçando a encará-lo.
-Pelo jeito, você é mais competente que eles. -ele olhou rapidamente para os soldados que estavam ali-. Nenhum deles previu isso, não é? Incompetentes! -Graves largou meu rosto.
-Não confia nos seus próprios homens? -murmurei.
-Confio...-Graves apoiou cada uma de suas mãos no painel, me prendendo-. Não em todos, mas...
Estávamos tão próximos que pude sentir o hálito fresco de Graves em meu rosto.
Quando ele foi se mover, outros soldados entraram na sala, desesperados, fazendo Graves se virar.
-Estão invadindo a base, senhor! -gritou um deles.
-Invadindo...? -Graves respondeu, sem entender-. Até posso saber quem são...
É a minha hora de fugir.
Rapidamente apertei o botão vermelho com tanta força que tive certeza que o quebrei. Antes de fugir, peguei seu celular que estava à mostra no colete.

Alerta: aguarde até o fechamento de todas as portas e trancas eletrônicas. Alerta...

Graves murmurou algo ininteligível, me fazendo correr antes que a porta eletrônica se trancasse.
-Peguem ela!
Fui correndo em disparada encontrando soldados da Shadow Company por todos os lados. Entrei no primeiro quarto que vi pela frente, totalmente escuro. Ao ouvir barulho de tiros e granadas serem jogadas, me escondi debaixo da cama.
Droga, o que está acontecendo? Será que são os 141...?
Esperei por mais um pouco até os tiros cessarem. Passos pesados se aproximaram da entrada do quarto enquanto tentava fazer o mínimo de barulho possível.
Um homem entrou com uma arma com uma lanterna acoplada, vasculhando cada canto.
-Limpo!
Essa voz...Sargento Soap!
-Sargento! -gritei.
Soap mirou sua lanterna para todos os lados enquanto eu saía do esconderijo com as mãos levantadas.
-M-Megan? -ele falou enquanto abaixava a arma.
Era mesmo o sargento John MacTavish. Sem acreditar, apenas o abracei forte, sem querer soltar.
-Você não faz ideia de como é bom te ver...-sussurrei enquanto apertava seu corpo.
-Fiqu... ficamos! Ficamos preocupados pra caramba com você. -ele encostou sua cabeça na minha.
Era o primeiro momento de conforto que eu tinha há dias.
-E-e o tenente? -gaguejei.
-Procurando por você.
Houve uma batida na parede do corredor, alta e forte.
Nós dois fomos ver o que aconteceu, e no final do corredor estava ele, Ghost, segurando um homem pelo colarinho, contra a parede, suspendendo-o no ar.
-Onde ela está?!
A voz grossa do tenente trovejou pelo local, ameaçando o soldado, que não sabia o que responder.
Ghost então o apunhalou no pescoço de maneira nervosa, fazendo jorrar sangue. Price e Gaz olhavam aquela situação, um pouco tensos.
Corri até ele e abracei suas costas, respirando irregularmente.
-Você...
-Eu estou aqui, Simon...-murmurei, enquanto ele se virava e me olhava, um pouco mais calmo.
Simon me apertou contra seu corpo, largando a faca no chão. Eu olhava para Price e Gaz, que agora estavam na presença do coronel Vargas também e alguns dos Los Vaqueros, que sorriram para nós.
-Senti tanto a sua falta...-ele sussurrou-. Graves...! Ele te machucou, meu amor?
Tê-lo ouvido me chamando dessa forma me fez abrir um pequeno sorriso.
Abaixei a cabeça, olhando para seu corpo.
-Graves não te enviou nenhum vídeo? -sussurrei.
-Não, nada. -Ghost me olhou preocupado-. O que ele fez?!
-N-nada. Ele disse que ia gravar um vídeo e enviar para você, dizendo tudo o que faria comigo... apenas para te provocar. -menti.
Me sinto horrível por ter mentido para ele dessa forma, é verdade... Mas não quero que ele fique ainda mais preocupado.
-Eu vou matá-lo, Meg. -Ghost sussurrou, me abraçando ainda mais forte.
Eu sei que vai fazer isso, amor.
-Graves e parte de sua equipe fugiram. -Price informou.
-Deixe que fujam por enquanto. -respondeu Alejandro-. Vamos pegá-los. -seus homens concordaram.
-E eu tenho algo bem... comprometedor para o senhor Graves. -mexi no bolso, retirando o gravador de voz-. Você conhece um homem chamado Javier Avila, coronel?
-Sim, claro. Era um dos meus homens...
-Então vai querer ouvir isso. -entreguei o gravador a ele-. Bem, todos vocês vão querer ouvir...
Quando andamos pelos corredores até a saída, pude ver o rastro de destruição que Ghost havia feito.
***
Depois disso, fomos até o hangar, limpar de vez o local.
Tirei o celular de Graves do bolso, olhando para o meu reflexo no aparelho.
Isso pode ser uma prova de crime. Eu odeio esse homem com todas as minhas forças... Ele não irá fugir por muito tempo.
-Você está bem?
Olhei para trás, vendo Simon me encararando.
-Estou... apenas me sinto um pouco cansada e com fome. -passei a mão pela barriga, ouvindo-a roncar.
Simon pressionou meu corpo contra o dele, parecendo estar finalmente calmo. Talvez não permanentemente, mas momentaneamente.
-Eu fiquei doido sem você.
-Agora estamos aqui, bem. -dei um leve sorriso.
-Foi minha culpa...-ele abaixou o queixo, tocando minha cabeça.
-Não foi sua culpa! -coloquei seu rosto entre minhas mãos, sentindo sua máscara fria-. É do Graves, e da Shadow Company... você não tinha como prever isso e jamais irei cobrá-lo. Faz parte da nossa profissão...
Simon respirou fundo. Ele sabia que eu estava certa, e que jamais iria culpá-lo por algo assim; era injusto.
-Eu te amo, Simon. -continuei-. Você é a coisa mais importante para mim, não se esqueça.
-E você para mim. -ele rapidamente respondeu-. Mataria cada soldado da Shadow Company apenas para poder te ver de novo.
Estreitei os olhos.
-Isso é algum tipo de declaração? -abri um sorriso.
-Para a nossa profissão... pode ser sim.
Balancei a cabeça enquanto apertava meu rosto contra seu peito. O som de seu coração batendo era tudo o que eu queria ouvir de novo; suas mãos acariciando minhas costas e apenas a sua presença ali, naquele local, me indicava que eu estava segura com o homem que eu amava, finalmente.

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