Novos amigos?

1.2K 117 26
                                    

Depois de ter realizado a missão, minha confiança aumentou. Por mais que seja arriscado dizer, eu havia aproveitado o tempo que passei com o tenente Ghost. Eu não sabia o que ele pensava sobre isso, mas tentei o meu máximo para que ele não me visse como um peso ou um fardo a carregar em possíveis operações no futuro.
***
Teríamos um novo aliado na guerra contra os terroristas: os Los Vaqueros, um destacamento muito importante do exército mexicano. Seria quase como a própria Task Force 141, mas uma versão latina.
O líder e coronel Alejandro Vargas se demonstrava irritadiço com o avanço do cartel em seu país.
-Há problemas em todos os pontos cardeais. -Alejandro olhou para Price, que concordou.
-Temos uma boa base de dados agora. -Soap se pronunciou-. Capturamos alguns sinais de uso das redes, mas ele fortaleceram sua segurança.
-Hora ir ao campo então, homens. -Alejandro sorriu.
Uma nova operação estava começando a ser montada e se chamaria "Prometeu". A missão seria mais duradoura e por consequência, mais difícil. O nervosismo pela situação fazia a minha ansiedade subir muito.
-Você não parece ter experiência em campo.
Alejandro falou para mim, enquanto eu saía da sala. Estávamos sozinhos, e me voltei para ele.
-E não tenho, senhor. Participei apenas de uma missão aqui, mas passei dois anos como voluntária, auxiliando corredores humanitários na Polônia e Ucrânia.
-Tensões na Crimeia? -ele levantou o queixo, e eu me aproximei.
-Sim, há três anos atrás, senhor.
Ele assentiu, se sentando na cadeira de metal e apoiando seus cotovelos na mesa.
O coronel Vargas tinha cabelos pretos e olhos castanhos, e sua barba era baixa, quase por fazer. Ele com certeza usava seus atributos físicos para amedrontar inimigos.
-Conte-me suas experiências. Fiquei curioso em como você conseguiu chegar aqui, senhorita...? -ele virou levemente seu rosto.
-Recruta Megan Taylor, senhor. Bem, eu...
Contei quase toda a história da minha vida para o coronel, que parecia muito interessado em ouvir. Em vários pontos me senti constrangida em falar sobre a minha carreira; afinal eu estava a frente de um homem com anos e anos de experiência, e eu não tinha bagagem alguma para competir. A parte que eu mais adorei em descrever foi sobre a ginástica e como ela tinha mudado a minha vida para melhor.
-E quantas medalhas você ganhou?
-Uma de ouro, duas de prata e duas de bronze. Sou razoavelmente boa nisso, e tenho que compensar...afinal, sou péssima em lutas.
Ele soltou uma risada.
-E eu não tenho equilíbrio algum para barras.
Continuamos conversando e eu disse que era boa com controle de drones e pequenos artefatos tecnológicos.
-Certo! -ele concluiu-. Prometo que terei algo para você nesta operação.
Nos despedimos enquanto meu rosto demonstrava sinais claros de vergonha.
Por que todos esses caras precisam ser tão charmosos?...
***
Enquanto o tempo passava, fui tentando melhorar minhas habilidades de tiro, e, principalmente de luta. E em um desses dias, fui apresentada ao gigante e assustador König, um operador austríaco do Exército Alemão, que iria nos ajudar em Prometeu.
Ele era ainda maior que Ghost, e usava um capuz no estilo "executor" da idade média, com buracos apenas nos olhos. E, quanto mais me aproximava dele, percebia que era um gigante gentil. Bem, pelo menos comigo; eram dois metros de pura afeição com o sexo feminino.
Nós treinávamos tiros ao alvo quase todos os dias, e ele era um ótimo instrutor.
-Pegue essa agora.
Konig me deu uma shotgun Bryson 800, e era muito pesada. Eu, inclusive, nunca tive muito apreço pelas shotguns, principalmente pelo peso e barulho que elas faziam.
Peguei ela de uma maneira desajeitada e König me ajudou com isso, encostando e pressionando a arma em meu ombro.
-Segure firme, ou vai quebrar sua clavícula. -ele apontou para o alvo, e colocou o fone em meus ouvidos.
Respirei fundo e senti a brisa em meu rosto, com minha consciência um pouco mais leve por não ter ninguém além de nós no local de treino. Tentei manter a firmeza em meus pés e, não passar vergonha desta vez.
Quando atirei, senti o recuo absurdo da arma, acertando a borda do alvo.
-Ai...
Entreguei a arma para König, que a pegou com apenas uma mão. Para ele parecia ser a coisa mais fácil, simples e leve do mundo.
-Quando atirei com uma dessas pela primeira vez, senti como se um elefante estivesse pisando em meu ombro. Mas foi ótimo ter dominado essa arma.
Ele rapidamente a virou, e disparou, acertando o alvo.
De qualquer forma, tinha sido a primeira vez que alguém havia me compreendido, ali dentro. Era simplesmente incrível o quão assustador e acolhedor König poderia ser, e esconder minha animação enquanto eu estava ao seu lado, era até um pouco difícil...com ele eu posso agir de uma maneira "normal", quase até sem formalidades.
-Preciso de metade de sua força e altura. Pode ser? -perguntei, deixando meu fone suspenso na nuca. Ele riu, ficando de perfil e mostrando orgulhosamente a bandeira da Áustria em seu braço esquerdo.
-Não posso, faz parte do meu trabalho. -ele resmungou, brincando.
Depois de guardar as armas, chamei sua atenção uma última vez.
-Não tive a chance de agradecer você pelo que está fazendo por mim e comigo.
-Não precisa agradecer.
Sua voz áspera veio quase como um murmúrio em minha direção. Não tem como mentir sobre isso; era delicioso ouvir sua voz, principalmente quando ele estava ensinando algo.
Fiquei ali, parada, vendo-o ir embora em passos largos.
***
No dia seguinte, tive uma surpresa na sessão de sparring: Ghost e König lutavam incansavelmente no ringue, como duas feras ambiciosas pela vitória. Nenhum dos dois cedia.
E, ao que parece, todos ali que assistiam a luta eram impressionados pela força que os dois homens possuíam; alguns Los Vaqueros que treinavam no local, conversavam entre si, e de certa forma com alegria, por não ter os dois como inimigos.
Depois de algum tempo, os lutadores sacaram suas facas, um tentando desarmar o outro. O barulho das lâminas se encontrando era um pouco assustador, me deixando tensa. Até mesmo Gaz, que estava o meu lado, não fazia suas piadas costumeiras.
-Algum dos dois já caiu?
Soap surgiu entre nós, e Gaz balançou a cabeça.
Nesse momento, König virou o braço de Ghost, e o derrubou de costas no chão. O som da queda foi muito alto.
-Que boca amaldiçoada...-Gaz ironizou Soap, que riu.
-Mais uma vez...-Ghost disse, enquanto se levantava com a ajuda de König.
Dá para sentir de longe uma tensão entre esses dois. Será que somente eu percebo um leve desconforto de Ghost com relação a König? Quero dizer, é muito difícil ganhar de Ghost em qualquer sentido, mas o gigante austríaco conseguiu isso, e o que mais impressiona é a resistência desses homens. De qualquer forma, fico muito aliviada em tê-los na mesma equipe e com os mesmos objetivos. Apenas me sinto mal por estar torcendo um pouco mais para König ganhar contra meu próprio tenente...

Don't Let Me Down.Onde histórias criam vida. Descubra agora