Don't Let Me Down.

Testes

Vendo como seria difícil criar novos talentos ou habilidades, decidi aprimorar o que já tinha para conseguir melhorar um pouco mais minha reputação dentro do destacamento.
Na seção de academia, haviam várias barras diferentes para eu tentar. Algumas maiores, outras menores, outras mesmo no alto, mais desafiadoras.
Outras pessoas estavam ali fazendo seus exercícios e treinamento, então dessa vez, eu não tinha nenhum foco.
Andar sobre a primeira barra foi muito simples. Percebi que meu equilíbrio não havia me deixado e isso aumentou minha confiança.
As barras mais difíceis de se pendurar, eram as mais altas. Exigia muita força e que dirá, altura, me fazendo sentir mais uma vez humilhada.
Na parte exterior da academia, estavam alguns homens rindo uns dos outros enquanto praticavam slackline. Ghost estava entre eles.
-Você é muito ruim! -disse um deles, rindo.
-É muito difícil. -respondeu o que caiu, tentando se limpar.
-Quer tentar?
A voz de Ghost soou como um trovão em minha direção, enquanto todos me olhavam. Eu com certeza queria tentar, afinal era meu esporte favorito; mas o medo de falhar me deixou em choque.
-Sim, senhor.
Ele mirou com os olhos para a fita, enquanto ninguém mais ria. Era até um pouco perturbador.
Respirei fundo e comecei a me equilibrar na enorme fita esticada, sentindo ela se ajustar ao meu peso.
Eu não praticava slackline há algum tempo, mas eu e minha irmã mais velha éramos quase arrogantes, querendo provar que uma era melhor que a outra. Mas se eu caísse, ela estava prontamente disposta a me levantar para tentar novamente.
-Ela é muito boa. -murmurou um dos homens.
Depois de ter a certeza de me sentia bem, resolvi dar um salto e não deu certo, me fazendo desequilibrar, mas não cair, pois alguém havia me pegado...
Ghost me segurou e me colocou em pé. Meu sangue ficou gelado e senti minhas bochechas esquentarem; eu com certeza estava vermelha como um tomate.
Murmurei um agradecimento, mas acredito que ele não tenha me ouvido e fui embora o mais rápido possível.
***
Fiquei trancada em meu quarto por não sei quanto tempo. Eu apenas olhava para o teto branco, esperando algo acontecer enquanto meus pensamentos me torturavam.
Estou aqui há menos de um mês e já estou estragando tudo. Não faço nada direito!...por que? Por que eu tive que passar essa vergonha em frente ao tenente?!
-Recruta! Reunião na sala do capitão Price.
Fui tirada do meu abismo pela voz de Soap batendo na porta e indo embora. Rapidamente coloquei meu uniforme e prendi meu cabelo em um coque.
Só não fui a última a chegar pois Gaz veio logo após. Quando vi que Ghost estava na sala também, desviei o olhar rapidamente, ficando ao lado de Soap como meu "ponto cego", enquanto Price estava a nossa frente, Gaz no lado direito e ele ao lado esquerdo da mesa. Sobre ela, havia um grande mapa com alguns círculos vermelhos em pontos pré-estabelecidos, e algumas fotos.
-Senhores e senhorita. -capitão Price começou-. Uma chamada direto do Urziquistão -ele apontou no mapa-. Nossa Inteligência descobriu que a Al-Qatala está ajudando a financiar o tráfico de armas para os ultranacionalistas russos e isso seria crucial para um futuro conflito nos Balcãs ou mesmo no Báltico. Todos sabem que...
Enquanto ele falava, percebi o quão tenso ele estava. Era óbvio, Price era responsável pelo que iria acontecer nas missões, mas sua voz também expressava cansaço por sempre ter que combater os mesmos malditos terroristas, que apenas trocavam de nomes, mas tinham os mesmos propósitos de destruição em massa e claro, acima de tudo, o lucro com a morte.
-Faremos uma visitinha a Jamal. -Soap levantou uma sobrancelha e sorriu.
-Entendido? -Price concluiu-. É uma missão acima de tudo, de reconhecimento.Capturando essa "filial" deles, teremos mais acesso ao banco de dados. -ele olhou diretamente para Ghost, que assentiu-. Recruta, você será nossa mochila, então esteja preparada. Isso é tudo...dispensados.
Em tempos antigos, eu seria um cavalo de guerra. Faria quase tudo, mas não teria reconhecimento algum.
Esperei todos saírem, e quando Ghost foi cruzar a saída, o chamei gentilmente.
-Senhor! -ele se virou, e Soap fechou a porta.
-Algum problema?
-Eu hã...preciso lhe agradecer por hoje mais cedo, e pedir desculpas pelo mesmo motivo, senhor. Não quis parecer mal-educada, apenas tive receio de deixá-lo em uma situação constrangedora.
Ghost levantou os olhos e olhou para a porta, pensativo, durante alguns segundos. Nessa pequena janela de tempo, vi o quanto ele poderia ser assustador, principalmente pelo seu tamanho e jeito misterioso.
-Está tudo bem. -ele por fim respondeu, com sua voz grossa-. Vá descansar, recruta.
E antes que eu pudesse dizer algo, ele havia ido embora.
Eu havia criado uma situação inteira de tortura em minha cabeça, por nada.
Apenas suspirei enquanto ia para o dormitório, sem ter a certeza de que iria conseguir dormir por conta do nervosismo pela missão...ou se iria ter êxito em parar de pensar sobre o tenente Ghost.