Leo

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-Prenda a respiração se quiser acertar seu alvo.

Fiz o que Yuri me falou, me privando de respirar por alguns segundos.
Eu me concentrava em ver apenas meu alvo: um grande barril vermelho vazio.
O cano da arma ainda se movia um pouco, mesmo eu segurando com firmeza e com certa força.

Liberei o ar em meus pulmões pois não consegui me concentrar o suficiente.

-Tenha calma. -ele murmurou.

-É muito difícil. -disse, ofegante, sem retirar o olho da luneta.

-Você está se concentrando muito em não errar, ao invés de pensar em acertar. -ele comentou.

-É exatamente a mesma coisa. -respondi.

Ele apenas deu um sorriso, balançando a cabeça.

Soltei o ar pela boca e puxei o gatilho; por não ter calculado o vento, a rota da bala fez uma curva e foi ridiculamente longe do alvo.

-Ahh! Mas que...-rolei para o lado, suspirando e olhando para o céu nublado.

Eu já estava deitada de bruços há alguns minutos e já sentia uma certa pressão em minhas costelas.
Yuri se abaixou e colocou joelho no chão, me olhando.

-Hoje está ventando muito. -ele olhou no horizonte-. Podemos tentar outro dia, se achar melhor.

-Não.

Rolei novamente olhei para a luneta do rifle, encarando com certo nervosismo o alvo.

-Duas marcações acima e três marcações à direita. -ele falou, me auxiliando.

Mesmo sentindo o vento forte, não me permiti desistir; não era algo nem que eu gostava de imaginar, por mais difícil que as coisas estejam ou aparentam.

Vamos, Leonor. Você consegue, eu sei disso. Não é a primeira vez que você atira com essa arma. Vamos, e se um dia você precisar dela para salvar a sua vida? Duas marcações acima e três à direita...

Puxei o gatilho novamente, sentindo a coronha da arma bater em meu ombro.
O tiro fez a mesma curva, mas desta vez, acertou no barril, o atravessando.

-Eu consegui! -bati na areia ao meu lado, me levantando e olhando de forma animada para Yuri.

-Sim, você conseguiu. -ele sorriu brevemente-. Quer continuar?

-Sim, por favor.

Quando me sentei para carregar a arma, Nikolai apareceu com um cigarro.

-Quer destruir blindados com isso? -Nikolai me olhou.

-Não tinha pensado nisso. -respondi.

Observei as balas no pente; eram grandes e grossas e capazes de perfurar máquinas pesadas.

-Chumbo grosso. -confirmei com a cabeça-. Mas não sei se consigo ficar quieta na mesma posição por muito tempo.

-Gosto de armas assim. -Nik respondeu-. São destruidoras e ninguém sabe de onde vem o tiro. Meu pai me ensinou a atirar com um rifle quando eu tinha nove anos.

Desviei o olhar, me desconcentrando por alguns segundos. Memórias dolorosas vieram em minha mente; flashes de meu pai segurando um rifle que ele tanto amava. Ele amava tanto armas que me deu uma carabina de brinquedo, algo que havia deixado minha mãe furiosa.

-Meu pai era da Artilharia Real. -eu olhei para Nikolai e então, para Yuri-. Não posso falar por ele... Mas ensinariam suas filhas a atirar?

Nikolai deu uma tragada em seu cigarro e sorriu, olhando para o horizonte. Me deitei de bruços novamente, concentrado minha mira através da luneta da arma.

Don't Let Me Down.Onde histórias criam vida. Descubra agora