Farah Karim era realmente uma inspiração para todos, principalmente para as as mulheres no exército. Comandante das Forças de Libertação do Urziquistão, era uma líder admirada que espalhava patriotismo e esperança para seus aliados.
Pude conhecê-la dias depois da missão de captura de Mahed; ela nos ajudaria na tradução dos documentos e claro, contra a coalizão local.
-Estes com certeza são manifestos que iriam virar panfletos a favor do governo no futuro.
Nós duas estávamos em uma sala de controle da base subterrânea, e Farah lia os documentos que eu havia pego.
-Eu sabia. -olhei para ela enquanto andava pela sala, um pouco ansiosa-. Mahed caiu, quais as chances disso acontecer com o presidente também?
-Bem, é o presidente que financia a Al-Qatala. Se uma peça do dominó cair...
Cruzei os braços, respirando fundo. Se tudo isso era difícil para mim, é de imaginar como seria para Farah, que está nessa luta desde pequena. Ela era uma mulher bela com traços árabes bem fortes, como seu nariz protuberante. Sua pele queimada pelo sol fazia ela aparentar mais do que trinta anos que realmente tinha.
-A propaganda é alma do negócio, não é? -lancei um sorriso para ela, que retribuiu.
-E é assim que nasce um déspota. Luto e tento todos os dias libertar meu povo dessa tirania, mas grande parte ainda prefere não enxergar a realidade...mas jamais irei desistir.
-Você é uma guerreira, Farah. Uma líder altruísta de verdade.
Ela sorriu gentilmente.
-Eu apenas quero que todos tenham liberdade...mas não se pode ganhá-la, apenas conquistá-la.
Concordei com a cabeça. Por mais triviais que fossem as nossas conversas, eu estava feliz em poder falar com uma mulher, depois de tanto tempo em operação.
-Eles se importam com você.
Eu já estava saindo quando Farah chamou minha atenção. Ela me olhava curiosa.
-Desculpe? -sorri.
-Os 141. Vejo como cuidam de você e como tentam ajudá-la.
-Eu os considero como meus irmãos mais velhos...às vezes superprotetores. -dei uma risada
-De mulher para mulher, apenas tenha cuidado com esses contatos. -ela desviou o olhar enquanto se concentrava no que dizia-. Temos que amá-los, mas não podemos sofrer...porque a perda queima nossa alma.
Farah sabia que meus laços com meus companheiros eram fortes, e isso poderia me atrapalhar e principalmente, atrapalhar nossos objetivos em comum.
-Por mais mórbido que seja dizer isso, sinto que é mais fácil eu levar um tiro letal do que eles. Tenho tendência a atos suicidas...
-Eu soube da sua reputação. -ela sorriu, querendo rir-. Você é corajosa, não posso negar isso.
-A líder das Forças de Libertação do país me dizendo isso? Me sinto honrada.
Ela sorriu sem graça.
-Apenas atente-se que eles estarão ao seu lado e todos têm o mesmo objetivo. Mas, mesmo contra nossa vontade, somos forçados a obedecer essas ordens...há pessoas com a visão mais apurada para a situação e enxergam coisas que não vemos.
Eu sabia do que Farah estava falando, e não discordava dela em nenhum ponto. Era, apenas, dolorido tentar ver as coisas por esse ângulo, afinal, eu faria de tudo para salvar e ajudar meus companheiros...mesmo que isso significasse me sacrificar e até, arriscar o êxito da missão.
Isso era altruísmo ou egoísmo da minha parte? Arriscando salvar uma pessoa, eu poderia arriscar todo andamento de uma missão. Não há como pesar isso...O que o tenente Ghost faria? É impossível tirar esse pensamento da minha cabeça...
***
-Esses são os planejamentos deles. -disse Farah, olhando para os documentos na maleta.
Estávamos todos nós em uma reunião, discutindo sobre os achados no carro de Mahed. A mesa de metal estava repleta de papéis contendo as mais diversas informações.
Coloquei as mãos para trás enquanto analisava a situação.
-Conseguiu algo? -perguntou Alejandro.
-Várias coisas. -respondeu ela-. A Al-Qatala está construindo um VTOL e enviará vários UAV's para o México.
-Alta tecnologia para o cartel. -resmungou Price.
-Tudo isso está sendo feito em Barakett, quase como um polo dos terroristas...a cidade é altamente militarizada. -ela apontou no mapa do país, uma cidade ao norte da capital, quase na fronteira-. Esse VTOL não pode decolar.
-E o que eles pretendem com isso? -perguntei, atraindo a atenção.
-Se eu responder que é apenas para fortalecer sua milícia...eu estaria equivocada. -ela me olhou-. De qualquer forma isso é benéfico para algumas pessoas, só devemos descobrir quem.
Estávamos mexendo com coisas muito perigosas. O sinal de alerta piscava toda hora em minha mente, me dizendo que eu deveria recuar e pensar muito antes de continuar.
-Iremos iniciar uma missão para Barakett e fazer uma surpresa para eles. -disse Price, com um pequeno sorriso.
-Todos vocês não serão o suficiente. -Farah pontuou-. Contem com a minha ajuda.
-Ótimo. -Alejandro sorriu-. Vamos montar um plano, precisamos de no máximo dois dias.
Farah assentiu, se mostrando satisfeita com a nossa organização. O tenente Ghost apenas ouvia tudo, silenciosamente, sem interromper.
Mas seus olhos...aqueles olhos castanhos estavam expressando mais do que concentração. Ele parecia preocupado com algo, alguma coisa que apenas palavras não conseguiram descrever.
***
Quando era noite, eu já estava exausta de tanto treinar e exercitar minhas pernas. Eu havia corrido por tanto tempo que quando parei, me sentia desorientada.
Enquanto percorria o corredor do dormitório rumo aos chuveiros, ouvi um burburinho abafado vindo do quarto de Soap e Gaz. Me aproximei da porta enquanto me secava meu rosto com a toalha.
-Não sei, não posso...não parece o certo. -falou uma voz.
-É, sinto pena de você. -seguiu uma segunda voz com sotaque escocês, rindo.
É o sargento Soap.
-Se você não conversar com ela, não vai ter como saber. -uma terceira voz, mais rouca, foi ouvida.
É o sargento Gaz...mas sobre o que eles estão falando? Ou melhor, sobre quem?
-Eu não consigo. -a primeira voz falou de novo, abafada-. Eu não quero contaminá-la com minhas ideias...apenas queria deixá-la segura, mas vê-la no meio dessa guerra chega a ser intragável.
Quem? Quem? Quem?
-As mulheres são assim, cara. -disparou Gaz-. E com a Megan não é diferente. Inclusive ela já deve ter notado o que você quer com ela...
Quando ouvi meu nome, meus lábios tremeram e minha mente apagou por alguns momentos. Eles estavam discutindo sobre mim, mas não parecia algo negativo...
-Eu gosto dela...mais do que deveria. Sua companhia me faz feliz, e isso está acabando comigo.
Eu reconheci a voz no momento. A voz áspera e carregada com o sotaque inglês.
Essa voz...é o tenente Ghost?...e-ele gosta de mim? Mas como?
Meu coração acelerou e eu resolvi sair do local, com a cabeça nas nuvens. Minhas bochechas estavam vermelhas e eu não sabia como esconder, e apenas uma pergunta perturbava minha mente...
Como o tenente Simon Riley deixou esse tipo de sentimento florescer?
Quem quer que me visse na hora, iria me flagrar com um sorriso enorme em meu rosto, que me denunciava.

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Don't Let Me Down.
Romance(PRIMEIRA TEMPORADA)>>>Quando Megan Taylor consegue sua admissão na Task Force 141, ela pulou de felicidade pelo sucesso que obteve e por seu sonho estar se realizando. O tenente Simon "Ghost" Riley, sempre taciturno, viu que a nova recruta teria mu...