Uma segunda vez

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No domingo, acordei disposta e animada, um pouco diferente de Emily, que estava de ressaca.
-Toda vez que eu prometo a mim mesma que não vou beber muito, acabo fazendo justamente o contrário...-ela comentou, no café da manhã.
Nunca tive interesse em qualquer tipo de bebidas alcoólicas. Por mais que em diversas ocasiões meus colegas de trabalho me chamassem para bares ou festas, eu ia, mas sempre recusava o álcool. É sempre tão amargo e nunca me trazia nenhuma sensação boa.
-Mas mesmo assim...-ela continuou-. Tenho planos para nós duas hoje, irmã.
-E eu posso saber o que é? -perguntei, enquanto lavava a louça.
-Uma empolgante caminhada no parque.
Sua voz não parecia nada empolgada com a ideia, o que me fez rir.
-Tem certeza que está disposta para isso?
-Estou...-ela respondeu, fechando os olhos-. Apenas preciso de um remédio para dor de cabeça e um banho bem gelado.
A parte positiva de tudo isso é que Luis cuidava muito bem de Emily. Ele não bebia muito e ajudava a controlá-la nesse sentido, mesmo minha irmã sendo extremamente teimosa; ele fazia o que podia e eu era grata por isso.
Depois de um banho longo e bem gelado, ela retornou, um pouco melhor.
-Me lembre de não fazer isso de novo, Meggie. -ela murmurou, enquanto se arrumava.
-Meus avisos e nada são a mesma coisa. -argumentei.
-Nossa, pude jurar que ouvi a voz de nossa mãe falando isso.
Revirei os olhos rindo, enquanto saíamos da casa.
***
O sol da manhã estava forte, e isso significava que teríamos um dia lindo pela frente. Várias pessoas estavam no parque, caminhando com seus animais, casais conversando, pais brincando com seus filhos...
-Se lembra daquele carinha que você gostava na adolescência... hm, como era mesmo o nome dele? -Emily me chamou a atenção, enquanto caminhávamos pela pista.
-Adam? Aquele que se parecia com o...
-Justin Bieber! -ela completou-. Isso, Adam. Soube que ele se casou recentemente e foi morar no Japão.
-Caramba, que legal. -levantei as sobrancelhas.
-Ainda bem que ele já está bem longe daqui né? Eu detestava aquele cara.
-E qual era o problema? -dei uma risada.
-A ambiguidade. -ela respondeu sem hesitar-. Eu lembro de quando você se declarou para ele e apenas ficou te agradecendo, sem nem ao menos dizer que não sentia o mesmo por você.
-Mas...-balancei a cabeça-. Nem eu me preocupo mais com isso. Por que está lembrando dessas coisas agora?
-É verdade. -ela sorriu-. Apenas me lembrei dele e... não quero que você sofra mais por essas coisas, Meg.
Desviei o olhar, franzindo as sobrancelhas.
Eu sei de suas intenções, Emi, apenas me sinto presa e bem presa ao meu passado. Uma corrente forte me puxa para trás todos os dias, e meu alívio é não olhar para ela e tentar seguir em frente. Eu nem sequer me importo o suficiente para detestar o Adam.
-Meg & Dia, minha linda, me fala mais sobre aquele homem que você conheceu ontem. Você nem abriu a boca sobre ele! E olha que sou sua melhor amiga...-ela me olhou com um semblante triste, fingido.
-Ah, o nome dele é Miguel e ele deve ter uns quarenta anos.
-E...?
-E ele é um coronel do exército dos Estados Unidos. Não preciso dizer mais nada, só tenho azar com esse tipo de coisa.
Emily levantou as sobrancelhas, como se comprovasse o que eu havia dito.
-De qualquer forma... vai chegar o dia que um homem vai gostar tanto, mas tanto de você, que vai ser ele quem vai sofrer por esse seu coração. Ainda mais agora com esse estilo, você só vai arrasar corações, irmã.
Balancei a cabeça, rindo.
Acho que Emily ainda está sob efeito das bebidas que tomou ontem.
***
Depois que chegamos em casa e preparamos um almoço, Luis nos surpreendeu com sua visita.
-Acredito que cheguei tarde. -ele falou, enquanto nos observava lavando a louça-. Querem ajuda?
-Estou começando a achar que você vem nos visitar apenas para comer. -provoquei, rindo.
-Concordo com a Meg. -Emily levantou uma sobrancelha-. Não se preocupe, estamos quase terminando.
-Vocês estão quase certas. -ele pendeu a cabeça para o lado, sorrindo.
Emily balançou a cabeça, rindo, enquanto servia um copo de suco bem gelado para Luis.
-Então, Luis... -me aproximei, rindo-. Quando você vai pedir minha irmã em casamento?
Ele claramente não esperava por essa pergunta, fazendo-o engasgar com a bebida.
-Hã, eu... -ele coçou a nuca, enquanto Emily esperava por uma resposta-. Bem, no dia que ela quiser.
Awn.
-E se eu quiser hoje?
-Bem, você sabe, preciso comprar a aliança e isso pode demorar uns dias, então...
-Ridículo. -Emily balançou a cabeça, com um sorriso irônico.
-Ei. -interrompi-. Não quis causar um desentendimento. Apenas acho que vocês foram feitos um para o outro, sem mais.
Os dois se olharam por alguns segundos, ambos com um sorriso fofo em seus lábios.
Emily e Luis merecem ficar juntos para sempre. Com eles, me sinto boba, quase como em um conto de fadas. Seria eu um cupido nessa história?
Fomos interrompidos pela campainha tocando.
-Meg, pode atender por favor? Pode ser o carteiro. -disse Emily.
-No domingo? -estranhei.
-Sei lá. -ela deu de ombros.
Ao abrir a porta, pude jurar que senti meu coração parar por um milésimo de segundo, para então acelerar.
Meu queixo caía lentamente enquanto eu olhava a pessoa em minha frente, desacreditada.
Simon Riley, o inconfundível tenente com a balaclava de caveira.
O que ele quer aqui...?
Assim como eu, ele não fazia nada, não dizia nenhuma palavra ou nem mesmo se mexia. Nossos olhares estavam conectados um ao outro, e havia tanto para sentir ou ser dito naquele momento...
A dor tomou conta do meu ser, assim como a felicidade instantânea.
Nos últimos dias eu estava criando uma fortaleza de sentimentos dentro de meu coração, afinal, não gostaria de ter que provar mais uma vez o amargo gosto da decepção na vida. Mas, ao ver Simon novamente, me encarando, vi que essa fortaleza que julgava tão poderosa e impenetrável, nada mais era do que um castelo de cartas, que desmoronava lentamente...
-Meg, quem é?
Emily gritou da cozinha, mas não pude responder, tamanha a minha hipnose no momento. Eu não conseguiria concentrar forças para vocalizar alguma coisa.
Não havia máscara de caveira costurada ou óculos, apenas sua balaclava convencional e seus olhos castanhos, claros e gentis. Parecia ser exatamente o mesmo Ghost, o mesmo tenente Simon Riley por quem eu havia me apaixonado...

Don't Let Me Down.Onde histórias criam vida. Descubra agora