Don't Let Me Down.

Calor

Três, quase quatro meses era o tempo que eu já estava morando com Simon.
Nas primeiras duas semanas, foi um pouco difícil me acostumar, mas depois que nos dedicamos a conversar sobre os assuntos do cotidiano e o que aconteciam na casa, os problemas foram solucionados. Bem, Simon ainda queria fazer tudo sozinho e me poupar dos trabalhos domésticos, então eu simplesmente fiz ele abandonar essa ideia; fiz uma pequena divisão de trabalhos e coloquei na geladeira, o fazendo rir e por fim, concordar com isso.
No início, a primeira a saber disso foi Emi; ela ficou extremamente feliz e quis logo ir para Manchester, visitar a casa e saber como iam as coisas. Fiquei um pouco receosa, mas Simon não viu problema nenhum nisso.
Ele, inclusive, me repreendia quando eu dizia "sua" casa... De tanto repetir, agora era a "nossa" casa.
A melhor coisa do mundo era acordar e olhar para o lado, admirando e sentindo a presença de Simon ao meu lado, respirando calmamente enquanto dormia. Inclusive, eu sempre acordava cerca de trinta minutos antes de Simon, para fazer um bom café da manhã para ele. Tudo isso me deixava tão viva, apenas o admirar tendo sua refeição, as coisas simples do dia a dia eram as melhores.
Eu o amo, muito... Não me importaria em ficar para sempre te observando fazendo coisas do cotidiano. Bem, eu sou doida por pensar assim? Hm, talvez um doida bem apaixonada, eu admito.
***
-Você sabe que dia é hoje?
Simon me abordou enquanto eu limpava a cozinha, me olhando de maneira curiosa.
-Hm, deixe-me ver...-coloquei a mão no queixo e olhei para o calendário-. Hoje é sábado, amor.
-Sim, hoje é sábado, mas...-ele ficou atrás de mim e colocou sua cabeça sobre a minha-. Hoje é dia de fazermos algo diferente.
-É mesmo? -me virei e olhei com um sorriso-. Acabamos de almoçar, já limpamos a casa... Tem alguma ideia em mente? -perguntei, já adivinhando a resposta.
-Tenho sim, e você com certeza não vai recusar. -ele sorriu brevemente e correu para o quarto, me deixando por alguns segundos.
Como um raio, ele voltou, com as mãos nas costas como se escondesse algo.
-Tenho alguns presentes para você. -ele mostrou em suas mãos duas coisas: um envelope pequeno, branco, e um tipo de... passaporte?
-Legoland...! -peguei o passe em minhas mãos e o abri, com um sorriso-. M-mas Simon...
-Não reclame, eu sei que você gostou, Meg.
Realmente; meu sorriso enorme não iria enganá-lo.
O passe tinha uma foto minha que foi tirada em passeio de parque com Simon; isso aumentou ainda mais o meu sorriso.
-E é um passe anual. -Simon continuou-. Você pode ir quando quiser. Tenho certeza que vamos nos divertir muito.
Simon parecia diferente... muito mais sorridente e disposto a embarcar em aventuras, mesmo que um pouco infantis, comigo.
-Obrigada de verdade, meu amor. -dei um beijo em seus lábios, apertando o passaporte em minhas mãos, com alegria.
-E isso aqui também. -ele me deu o fino envelope branco.
Ao abri-lo, haviam dois ingressos para um jogo de futebol, entre Manchester United e Aston Villa. Eu olhei para Simon, sem acreditar.
-Vai ser na próxima semana, e...-Simon apontou para o ingresso-. Classe executiva, vamos ver a partida em um andar superior do estádio.
-Uau...-abri um sorriso enquanto ouvia suas palavras-. Simon, obrigada, não sei como te agradecer.
-Você não precisa me agradecer por nada, meu amor. -ele disse, beijando minha testa-. Agora, nós vamos sair.
Eu abaixei os itens em minha mão e foquei em seu rosto, balançando a cabeça, sem acreditar.
-É mesmo? E o que vamos fazer?
-É surpresa, não posso te contar. -Simon pendeu a cabeça para o lado, enquanto admirava minha feição de curiosidade.
-Não vale! -exclamei, rindo.
-Vale sim.
Ele rapidamente me pegou no colo e me levou ao quarto.
-Bem, você poderia me dar uma dica pelo menos de como é esse lugar. Se é frio, calor... Sabe, para eu escolher uma roupa.
-Hm, boa tentativa, espertinha. -Simon estreitou os olhos, sorrindo.
Revirei os olhos enquanto buscava por um vestido no armário. Ao ver meu vestido verde com detalhes em preto, que ia até os joelhos, abri um sorriso enorme.
Esse foi o vestido que eu usei quando eu e Simon saímos depois do nosso reencontro. Depois disso, essa peça se tornou ainda mais especial para mim. Hm, vai ser esse vestido... e um tênis!
Simon também já havia se vestido: uma camiseta cinza e calça esportiva com seus inseparáveis tênis; seu estilo básico era simplesmente amável.
***
No carro, eu não parava de perguntar sobre o nosso destino.
-Já sei! -eu disse-. Nós vamos correr, fazer alguns exercícios... É isso!
-Hm, pode ser. -Simon respondeu, de forma ambígua.
-Vou ficar doida...-bati o pé de forma ansiosa no carro.
-Será uma viagem um pouco longa, então você terá muitas ideias ainda... Te aconselho a descansar, amor. -ele piscou, me deixando ainda mais curiosa.
-Você é um chato, Simon Riley.
Ele balançou a cabeça, sorrindo.
***
Depois de cerca de três horas no carro, comecei a reconhecer os locais pelos quais nós estávamos passando.
E-eu já passei por aqui... e não foram poucas vezes! Espere... é Lowestoft?!
-Simon, você está me levando para Lowestoft? -sussurrei enquanto olhava pela janela do carro.
-Eu sabia que não iria conseguir manter isso em segredo por muito tempo. -ele riu-. Sim, e vamos conseguir ver o pôr do sol.
Faz tanto tempo que não vou a praia que até esqueci de certa forma, como é sentir os pés na areia... Quando eu era criança, adorava descer até a praia de Gunton Warren com Emily, enquanto ela corria atrás de mim.
-Pakefield. -apontei quando vi a praia com as pequenas casas coloridas.
-Você já veio aqui? -ele perguntou.
-Algumas vezes. -dei um sorriso-. Não havia a necessidade de irmos a outra praia quando morávamos no sul da cidade, tínhamos uma praia quase apenas nossa. E poder voltar agora, depois de tanto tempo, para fazer um passeio com o amor da minha vida... Você não para de me impressionar, Simon.
Simon sorriu e acariciou minha perna, arrancando de mim um suspiro.
Ele estacionou em um local próximo e saímos do carro, já tirando nossos calçados e começando uma caminhada. Éramos os únicos ali a admirar o sol se abaixando... A amarelo, laranja e vermelho se misturava com as cores da água, fazendo um cenário ainda mais hipnotizante.
-Não me importaria em ficar dez horas dentro de um carro apenas para ver isso. -apontei para o horizonte e então entrelaçamos nossos dedos enquanto andávamos-. Agora imagine, você ficar comigo por tanto tempo seguido em um mesmo local...!
-Eu estaria perdido! -ele respondeu rapidamente e eu dei um soco leve em seu braço.
-Você é um bobo.
-Um bobo bem apaixonado por você. -ele murmurou.
Depois de andarmos por alguns metros, decidimos parar um pouco e admirar o cenário que era simplesmente divino; soltei suavemente a mão de Simon enquanto respirava fundo.
Sinto falta disso, desse sossego... apenas Simon me proporciona isso. Como alguém poderia me proporcionar essa sensação tão facilmente? Quer dizer, com ele eu realmente me sinto em casa, amada de verdade.
Minhas narinas se enchiam com o cheiro da praia; a areia molhada e a água sendo salpicada em meu rosto pela brisa, que acariciava nossos corpos.
Ao abrir meus olhos, procurei por Simon, que estava ajoelhado meu lado.
-Simon, o que você está fazendo? -dei uma risada.
-Eu não sei como te dizer isso, Meg. -ele começou e pegou gentilmente em minha mão-. Nunca fui um homem tão sentimental mas quando te conheci... isso mudou.
-Simon...-sussurrei, sentindo uma sensação fria em meu corpo.
-Megan, você é a única coisa que importa para mim. Ver seu sorriso, ouvir sua risada... O dia todo, quis criar um cenário perfeito para você apenas para isso. Eu não te trouxe aqui apenas para um passeio.
-Não...?
Simon soltou gentilmente minha mão e retirou de um de seus bolsos da calça, uma pequena caixinha preta envolta em um fino veludo. Quando ele a abriu, meu coração parou por um milésimo de segundo.
Eram duas finas alianças de ouro, que brilhavam com a luz do sol que as tocava.
Simon respirou fundo antes de continuar.
-Megan, você aceita se casar comigo?
Senti minhas pernas tremerem, e aquela sensação fria foi substituída por um choque de calor que percorreu todo o meu corpo. Minha boca se abria lentamente e dos meus olhos, lágrimas se formavam.
-É claro que sim!
Imediatamente me joguei em seus braços, não me importando em sujar minha roupa ou coisas do tipo. Depois da minha resposta positiva, chorei como um bebê, e era um choro de felicidade, por um motivo de alegria tão intensa que merecia algo assim.
-Meu amor...-ele nos levantou e me olhou-. Por que está chorando? -Simon acariciou minha bochecha.
-Porque eu não esperava por isso, Simon...-limpei minhas lágrimas com as mãos-. Caramba, eu te amo muito, cara.
Ele abriu um sorriso e depositou um beijo em meus lábios. Simon então pegou a menor aliança da caixinha e colocou em minha mão direita.
-Coube perfeitamente. -abri um sorriso.
-Sim... Eu imaginei que você iria usar o menor número de aliança possível.
Bobo.
Peguei gentilmente a caixinha de suas mãos e dela, coloquei a aliança na mão direita de Simon.
-Você já havia se imaginado com isso? -acariciei sua mão.
-Não... nunca. Foi você quem despertou isso, essa vontade em mim. Você é a coisa mais especial da minha vida, Megan, eu te amo.
-Eu também te amo, Simon. -o abracei, forte-. Você não tem nem ideia.
Simon havia conseguido criar o cenário perfeito e a condição perfeita. Eu o amava e ter agora, essa nova etapa em minha vida, significava um nível de renovação de nossos sentimentos.
Eu queria ter todos os laços possíveis com Simon; eu já sentia que ele fazia parte da minha alma, da minha essência... E me casar com ele era o ápice dos meus sonhos, sonho este que estava prestes a se realizar.