Consequências

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Era manhã, e poucas pessoas estavam na enfermaria. No local, permaneciam alguns soldados verificando ferimentos e tirando pontos, mas nada muito sério.
Eu estava ali, sentada em uma cama com lençol branco enquanto um jovem médico cuidava da minha perna.
-Pronto. -o médico me olhou quando trocou e terminou o curativo em minha perna. Ainda doía, mas muito menos que antes.
-Obrigada, senhor. -suspirei, enquanto tocava gentilmente o curativo.
O corte tinha o tamanho da palma da minha mão, e quase desmaiei quando tive que olhá-lo.
-O que você estava tentando fazer? -ele me olhava curioso enquanto tirava suas luvas e limpava os equipamentos.
-Ajudando meus colegas...-gemi quando me ajeitei na cama.
-Se matando? -ele levantou uma sobrancelha-. Sua perna ficará boa em breve, senhorita. Mas teve sorte de não ter uma infecção ou algo do tipo...
Eu respirei fundo e concordei. Ele tinha razão, no fim das contas.
Quando ele saiu, eu peguei minha bolsa que estava no chão, e tirei meu caderno de desenho.
Páginas e páginas de desenhos e rascunhos do tenente Ghost. Poucos de Soap e do capitão Price...
Virei uma página e comecei a fazer um desenho de König, sorrindo sozinha enquanto riscava a folha com meu lápis. O desenho ocupou todo o espaço vertical, obviamente.
-Olá, Megan.
Fechei o caderno quando vi Soap chegando. Fiz menção de levantar, mas ele me impediu, dizendo que não era necessário.
-Oi Sargento...achei que não estivessem na cidade.
-E não estávamos, fomos para a cidade mais próxima, Suldal, mas depois do acontecimento de ontem, temos que verificar o que houve. -ele se sentou na beirada da cama-. Como você está?
-Bem...eu acho. Tudo aconteceu tão rápido que ainda não consegui processar direito, sabe.
-Eu imagino. Mas Price ainda quer explicações, e te aguarda em uma sala, com Graves.
Desviei o olhar quando ele pronunciou o nome do comandante. Encarar duas provações ao mesmo tempo não seria nada fácil.
Quando me levantei, Soap perguntou se eu gostaria de ajuda, mas recusei educadamente. Quando colocava meus pés no chão, sentia a dor me remetendo e latejando na minha cabeça o que eu tinha feito.
Soap me levou até a instalação onde alguns generais ficavam, mas no caminho, percebi que muitas pessoas me olhavam. Pelo jeito, os soldados também adoravam uma fofoca.
Depois de passar por alguns corredores, Soap me deixou em frente à uma porta de metal, e com a mão no meu ombro, ele me desejou "boa sorte" mentalmente.
Quando entrei na sala, Price estava sentado atrás de uma mesa, enquanto Graves permanecia em pé do outro lado, encostado no canto da parede.
-Bom dia capitão, comandante. -comecei.
-Bom dia, recruta Taylor. -respondeu Price-. Quero que me conte tudo o que aconteceu ontem.
Apertei os olhos antes de começar.
-Meu drone estava com falhas no sensor térmico, senhor...enfim. -balancei a cabeça-. Eu tive problemas na comunicação com a minha equipe, e o sinal do drone foi simplesmente interrompido, cortado, não sei...mas antes disso acontecer, eu vi indicativos de minas terrestres na areia, algo que foi ignorado pelo comandante Graves.
-Ignorado? -ele foi até mim.
-Não interrompa, Graves. Já ouvi sua versão da história.
Ele voltou para a parede, resmungando.
-Meus avisos foram ignorados e eu fiquei desesperada, capitão, é verdade. E...me excedi com o comandante, desferindo um soco em seu rosto. Então deslizei para fora, cortei a perna e consegui chegar a tempo de avisar minha equipe.
Price me olhava insondável. Ele apenas concordava com a cabeça, mas não falava nada; somente me ouvia. Isso me deixava agoniada.
-O que tem a dizer sobre isso, comandante? -Price perguntou a Graves, que deu alguns passos para frente.
-Que sua subordinada me agrediu e poderia ter feito pior, tendo em vista que estava em posse de uma arma. -ele me olhou, e eu balancei a cabeça-. E nós vasculhamos a área, Price, e não captamos nada. O que ela fez foi um ato suicida!
-Não captaram nada...ou não quiseram nos avisar que captaram algo? -eu o olhei, fazendo despertar sua ira.
-O que está querendo insinuar, menina? -ele se aproximou de mim, com os olhos bem abertos.
-É o que você ouviu, comandante. Se a carapuça serve...
-Chega! Vocês dois! -Price bateu o punho na mesa e se levantou, e nos afastamos-. Obrigado pelos relatos, agora temos as duas partes.
-E ela, Price? -apontou Graves.
-Da minha equipe, eu cuido. Pode ficar tranquilo, Graves.
Esse cara parece uma criança birrenta.
Graves estava irado quando saiu da sala e bateu a porta. Antes dele ir, pude perceber que deixei uma marca vermelha em seu rosto.
Eu e Price nos olhamos, e ele indicou para que eu me sentasse na cadeira.
-Recruta, eu não estou aqui para resolver esse tipo de problema, você entende? Não é a minha função.
-Eu sei...me desculpa capitão. Pedir desculpas não irá resolver o que eu fiz, mas foi tão...
-Imprudente? Arrogante? Recruta...-ele suspirou-. Você desobedeceu seu tenente. Desobedeceu seu comandante e o agrediu. Colocou em risco a sua vida e as vidas de seus colegas. Você poderia ter comprometido o funcionamento de nossa operação com esse seu ato.
Eu mordi o lábio, tentando aliviar a tensão.
-Eu fiz o que fiz porque achei que fosse o correto. Na hora não pensei nos riscos, capitão.
-Claro que não. Nós nunca pensamos nisso, nesses momentos...
-Eu sei o que aconteceria com eles se continuassem o caminho. E eu quis evitar.
-Não desconfio de suas boas intenções, Taylor. Apenas lembre-se que somos soldados, e o que nos importa são os objetivos a serem cumpridos. Às vezes, nossas boas intenções podem nos trair.
-M-mas König, e Ghost...-disse, trêmula.
-Todos esses homens aí fora são meus irmãos, e eu os amo. Eu praticamente criei o Soap! Mas sabe o que faz de nós um time? Uma equipe de verdade? A sintonia. Todos temos o mesmo objetivo.
-Então...eu deveria ter deixado eles seguirem em frente?
-Não posso medir suas ações com a minha régua. Mas seu ato imprudente salvou muitas vidas. Mas, apenas se lembre que já temos muitos malucos suicidas por aqui...
Price não estava errado. É muito difícil balancear a razão e a emoção nesses momentos, e tenho certeza que pra ele também seria uma decisão difícil.
-Antes de sair, me responda sobre a sua desconfiança do comandante. Por que o enfrentou daquela forma? -Price continuou.
-Eu, hã...quis ver se ele tinha algo a dizer sobre isso, senhor. Afinal somos dois lados conflitantes.
O capitão pareceu analisar meu rosto e refletir minha resposta por alguns segundos.
-Bem, você está liberada, Taylor. Tire o dia de hoje para descansar sua perna, mas amanhã não te darei sossego.
Eu me levantei, agradecendo sua compreensão. Antes de sair, ele me chamou a atenção novamente.
-Você deveria estar feliz, pelo menos um pouco. Fez a vontade de metade dos homens aqui. -ele me olhava enquanto acendia seu charuto.
-Salvar vidas?
-Não, dar um soco em Phillip Graves.
Deixei um riso escapar quando bati continência a ele. Saí da sala com meu humor um pouco restaurado, principalmente por ter conhecido esse lado compreensivo e até acolhedor do durão Price.
Mas era óbvio, meus problemas não acabariam por aí.
***
Ficar o dia inteiro em um quarto no dormitório não fazia o meu tipo, mas fui praticamente obrigada. O lado bom disso é que recebi visitas; Vargas conversou comigo e disse que não acreditava que eu tinha feito tudo aquilo.
Para um soldado da minha patente, era realmente algo que beirava ao inacreditável, e tive sorte por não ter sido expulsa.
Na parte da tarde, resolvi aproveitar as minhas últimas horas de descanso indo até um local afastado de toda a instalação, apenas para admirar o pôr-do-sol. Me sentei na areia, atrás de alguns carros; eu realmente não queria ser vista.
Fechei meus olhos enquanto sentia a luz solar tocar meu corpo e me relaxar...
Tantas coisas aconteceram nos últimos dias e tudo tão rápido...eu não sei se eu me arrependo de algo, apenas gostaria de ter mais tempo para refletir minhas ações e suas consequências...
-Sabia que estava aqui. Eu te atrapalho?
Meus pensamentos foram quebrados pela voz áspera de König, que me olhava como um titã com sua altura.
Balancei a cabeça, pedindo para que se sentasse ao meu lado.
-Achei que estivesse com o tenente Ghost e os outros.
-Ainda tenho quinze minutos. -ele respondeu, olhando para frente.
-Acho que sou a pessoa mais famosa por aqui...-resmunguei, fazendo ele rir.
-Só ouvi alguns comentários. Estão dizendo até que você apontou uma arma para o Graves.
Eu levantei meus braços, balançando a cabeça.
-E-eu não fiz isso!
-Claro que você não fez. Mas eu pagaria para ter visto essa cena. Graves deve ter te caçado como um animal pelos arredores...
-Com certeza.
Depois de alguns segundos em silêncio, decidi provocá-lo.
-Já que salvei sua vida, você me deve um favor. -levantei uma sobrancelha, com malícia nos lábios.
-É justo...-ele estreitou os olhos-. E o que você quer?
-Quero ver seu rosto, já que não terminamos esse assunto no outro dia...
Seus olhos demonstraram certa surpresa, mas ele parecia esperar por este pedido.
Antes de concordar, König olhou muito bem o local para se certificar de que somente nós dois estávamos no local.
-Cuidado para não se assustar...-ele murmurou e eu apenas balancei a cabeça, sorrindo.
König tirou lentamente seu capacete e por fim, o capuz preto que escondeu por tanto tempo seu rosto.
Quando o vi, meu queixo caiu, enquanto ele tentava ajeitar o cabelo bagunçado.
König era lindo. A tinta preta em sua testa e olhos contrastava com sua pele branca, quase pálida.
O rosto e expressões dele eram um misto de grosseiro com delicadeza, diferente do que eu poderia imaginar.
Seu cabelo loiro era cortado em um wolf cut que se extendia pela nuca, com certo volume, e as laterais da cabeça eram raspadas. Um moicano com mais estilo, eu diria.
-Você é lindo...-O encarei sem piscar.
-Acho que você bateu sua cabeça em uma pedra na queda. -ele sorriu.
Meu corpo arrepiou e meu coração acelerou; eu nunca tinha ficado tão perto dele dessa forma.
König me observava sem falar mais nada, mas esperava o próximo movimento. Seus olhos alternavam entre meus olhos e minha boca.
Mordi meu lábio inferior antes de me aproximar dele e beijá-lo.
Minha pele pegou fogo quando nossos lábios se tocaram e aproveitaram um beijo longo; um beijo em que duas pessoas ansiavam por tanto tempo.
As mãos de König acariciavam minhas costas, enquanto eu tocava gentilmente em seu cabelo, tentando puxá-lo o mais próximo possível.
-Tenho algo para você. -ele separou nossos lábios e me olhou, com a respiração irregular.
A palma de sua mão repousou em meu peito, me fazendo deitar na areia.
Deus, será que ele...
Meus pensamentos estavam bagunçados, e eu já nem lembrava de nada do que havia acontecido nos últimos dias.
König sorriu, tirando minhas botas e meias, e com cuidado, minha calça.
Ele levantou minha camiseta espalhou beijos pela minha barriga, enquanto eu fechava os olhos e tentava prever seus próximos atos. Era impossível, não tinha certeza; a única coisa que estava certa era de que eu estava completamente em suas mãos.
Depois de beijar a parte interna das minhas coxas, ele puxou minha calcinha para o lado e me olhou antes de começar seu "trabalho".
Sem dizer nada, joguei minha cabeça para trás e fechei os olhos.
Minha mente apagou enquanto eu sentia sua língua em movimentos lentos e suaves. Não tinha guerra, terroristas, comandantes raivosos ou tenentes; apenas duas pessoas se satisfazendo.
Uma de minhas mãos foi diretamente ao seu cabelo, o acariciando enquanto tinha a sensação mais prazerosa da minha vida.
Até que, depois de pouco tempo, senti meu prazer chegar no ápice e não conseguir mais me segurar.
Minha boca aberta, e meu corpo tentando captar cada segundo desse êxtase me denunciavam; os espasmos eram incontroláveis.
König me puxou para olhá-lo enquanto minha cabeça ainda girava.
-Caramba...-murmurei.
Quando fui tentar beijá-lo, ele hesitou sorrindo.
-Quero ficar com o seu gosto.
Eu balancei a cabeça enquanto escondia meu rosto em seu pescoço, fazendo nossos corpos ficarem grudados. Isso deu margem para sentir seu membro enrijecido em minha virilha, e eu deixei escapar um gemido pela sensibilidade.
-Droga...-ele olhou no relógio-. É melhor ir, não quero que falem ainda mais de você.
Nós rimos enquanto ele me ajudava a colocar minhas roupas. Quando fiquei em pé, senti as pernas moles, trêmulas como gelatina.
König se sentou no chão, arrumando o equipamento e colocando seu capacete e capuz novamente. Antes de tomar meu caminho, ele pegou em meu pulso gentilmente.
-Eu vou terminar o que comecei. -ele disse em tom malicioso.
Fiz o caminho de volta, um pouco desorientada.
O que acabou de acontecer? Nós realmente íamos...?
Me sentei em um local longe do movimento da instalação, enquanto fechava os olhos e acariciava as têmporas, tentando raciocinar.
-Recruta.
Olhei para cima e vi Ghost, se sentando em minha frente.
Não, agora não...
-Cap...sarg...tenente! -me levantei, batendo continência.
-Queria saber como está, depois de tudo isso.
Ghost estava apenas com sua balaclava de caveira e sem óculos escuros. Seus olhos castanhos eram claros e curiosos.
Sem passar vergonha, sem passar vergonha, sem passar vergonha...
-E-eu estou bem. Um pouco perturbada ainda, mas...estou bem. -confirmei.
-Que bom. Eu gostaria de te agradecer por ter ido até nós...mesmo sendo extremamente perigoso. -ele olhou para a minha perna.
-Eu desobedeci suas ordens e fiz tudo aquilo...sei que vocês fariam o mesmo por mim.
Ele confirmou com a cabeça, sem hesitar.
Quando ele fez isso, König passou atrás de Ghost, me lançando um olhar de forma maliciosa, deixando minhas pernas tremerem novamente.
-Bem, eu preciso ir, recruta. -Ghost se levantou-. Amanhã você estará conosco novamente?
-S-sim, tenente. -gaguejei-. Não tão firme, mas forte.
Pelos seus olhos, pude perceber que ele sorriu. Antes de sair, Ghost hesitou.
-Se precisar de algo, tentarei te ajudar. Farei valer a pena sua coragem.
Eu concordei com a cabeça, sorrindo e me sentando novamente, vendo-o ir embora.
Duas coisas não saíam da minha cabeça naquele dia e perturbaram meu sono: o ato impuro e pecaminoso com König e as palavras castas e genuínas de Ghost; dois atos que eu jamais imaginei que viriam desses homens.

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