Nova realidade

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Eu nem conseguia acreditar que havíamos realmente cumprido nossos objetivos em nossa missão. Isso não se dava porque eu duvidava de minha própria equipe, não, mas porque parecia algo tão distante e que demoraria muito mais... Mas no final, tudo deu certo.
O melhor de tudo foi ver que o capitão e o  piloto estavam vivos e bem, o que me deixou extremamente aliviada.
Price é durão mesmo... Imagino quantas vezes ele já assustou a morte...
Todos ali estavam comemorando o nosso sucesso; alguns, no entanto, olhavam para os seus companheiros desertores mortos no chão, com dúvidas. Como eles julgariam os atos de seus ex-aliados, homens que treinaram juntos no mesmo local durante anos? Era injusto com suas próprias consciências.
Já Alejandro não teve esse "carinho" com os traidores. Ele teria dito que nunca apertou o gatilho com tanta força e vontade como hoje.
***
Enquanto Price se recuperava dos leves ferimentos que teve na queda, eu ajudava Simon; em seu rosto já começavam a aparecer algumas manchas vermelhas pelo golpes de Graves. Mesmo morto, ele ainda conseguia nos dar alguns problemas...
-Desculpe tê-la empurrado. -disse Simon, quase que sussurrando.
Eu não estava me preocupando com isso, afinal, compreendia o lado do tenente Ghost; a raiva estava falando mais alto naquele momento e como eu o julgaria? Ele estava na frente do homem que mais odiava no mundo, então nada ficaria entre os dois.
Dei um pequeno sorriso e beijei sua testa.
-Seu nariz está sangrando...-murmurei, enquanto o olhava com um pano, tentando limpar seus ferimentos.
Eu já havia limpado sua tinta preta nos olhos, o que me fez sorrir.
É tão bom olhar para o rosto dele sem a balaclava ou a pintura... isso me faz encarar quem é o Simon Riley de verdade.
-Vou ficar bem...-ele coçou os olhos, claramente cansado.
-Só fique quieto, está bem? -falei, enquanto aproximava o pano de seu nariz.
Simon colocou sua mão em meu pulso e o apertou gentilmente enquanto eu limpava a sujeira em seu rosto.
Quando terminei, o olhei com um sorriso, satisfeita.
-Aqui dói? -pressionei levemente meu dedo indicador na linha de seu maxilar.
-...não. -ele respondeu com um rosnado baixo.
Com certeza dói... e mesmo assim ele não deixa de bancar o durão.
-Você está pronto para ir, senhor Riley. -falei enquanto limpava minhas mãos-. Apenas recomendo que você cuide desses ferimentos...
Ele balançou a cabeça com um sorriso.
-Só sairei daqui com você. -Simon levantou uma sobrancelha.
Com um sorriso, peguei em sua mão e saí do local com ele.
Nos encontramos com o restante da nossa equipe em uma sala para conversar o que seria decidido para o futuro.
-Qual será o próximo passo? -perguntei, olhando para todos.
-Enviar Mahed para os Estados Unidos, mas não sairá daqui enquanto Laswell não chegar. -disse Alejandro-. Ele ficará sob a jurisdição da CIA.
Todos estão bem mais hesitantes em relação aos americanos agora. Ouvi falar pouco de Laswell, mas sei que ela tem uma forte amizade com o capitão. Se Price confia nela, então eu também confio.
-Notícias de Shepherd? -perguntou Soap.
-Nada. -respondeu Price-. Nossa Inteligência está trabalhando para encontrá-lo... Provavelmente fugiu, já que seu subordinado de maior confiança morreu.
-Eu sabia. -resmungou Alejandro-. Nós iremos encontrá-lo.
Price concordou e deu um suspiro longo, se sentando em uma cadeira.
***
Já era noite e quase madrugada quando Laswell e seus homens da CIA chegaram. Ela primeiro cumprimentou Price e se desculpou pelos danos que Graves causara, embora ela não tivesse participação nenhuma nisso.
Mahed foi entregue aos agentes da CIA, que o levaram até o avião que eles chegaram; a proteção ao líder da Al-Qatala seria bem forte.
Olhei para a senhora Laswell, enquanto conversava com Price.
Kate Laswell já estava na casa dos quarenta anos. Era loira e seu cabelo estava curto, dando um ar ainda mais imponente a ela.
Ela tem a feição de uma autoridade respeitada. Todos aqui a admiram... e a temem.
-Fizeram um bom trabalho por aqui. -Laswell olhou para todos nós.
-Vocês não foram apresentadas formalmente ainda. -Price olhou para mim e então para Kate-. Essa é nossa tão famosa recruta, Megan.
Ela se aproximou de mim com um pequeno sorriso nos lábios.
-Mas eu me lembro dela. -Kate levantou uma sobrancelha-. Foi você quem arrumou algumas confusões com Phillip Graves, não é?
Nesse momentos todos me olhavam, e eu fiquei tímida.
-S-sim, senhora. Mas foram confusões por boas causas, lhe garanto. E também já enviei o celular dele para uma perícia detalhada...
Ela deixou escapar uma risada e balançou a cabeça.
-A senhora ficou furiosa comigo quando dei um soco em Graves. -continuei-. Se lembra?
-Eu me lembro sim. Mas não foi uma fúria duradoura... afinal todos tínhamos algo contra Phillip.
Houve então um curto espaço preenchido pelo silêncio.
Esse homem trouxe problemas para tantas pessoas... Preciso esquecê-lo de vez. Não há mais necessidade de ficar lembrando de algo que só nos trouxe tormento e dor.
Quando Laswell e seus homens foram embora, pude relaxar um pouco, já que tínhamos que esperar nosso avião que vinha da Inglaterra para finalmente voltarmos para casa.
A CIA se certificou de não ter nenhum tipo de ameaça de resgate a Mahed.
Eu me sinto aliviada... aliviada como não me sentia há dias ou talvez há meses.
Enquanto retirava meu colete tático, Soap se aproximou de mim, a passos quase silenciosos.
-Oi, Megan.
-Sargento? -me virei, encarando-o.
-Apenas queria saber como você está. -ele sorriu enquanto encostava-se em uma mesa.
-Estou bem, sargento...-segurei o colete na mão-. Apenas estou cansada, acho que preciso dormir por uma semana inteira.
Minha resposta o fez rir.
-Logo estaremos em casa.
-É o que eu mais quero! -respondi, animada-. Hm, sargento...
Continuar encarando Soap só me fazia lembrar do dia que ele me flagrou com Simon e ficou extremamente sem graça...
-Algum problema? -ele me olhava.
-Não tive tempo de pedir desculpas por aquele dia. Quando você entrou no quarto e me viu com o tenente...
Fechei os olhos e balancei a cabeça, sentindo meu rosto ficar vermelho de vergonha.
-Tudo bem, sério. -ele levantou as sobrancelhas-. Apenas acho que eu deveria ter batido na porta e...
-Não foi sua culpa, de qualquer forma, sargento...-abri um breve sorriso.
Soap colocou uma mão no ombro e apertou gentilmente.
Fico tão feliz que as coisas sejam fáceis assim com você, sargento.
***
Estávamos no hangar do QG recuperado e o amanhecer nos dava as boas vindas quando o avião da Task Force 141 chegou para nos levar para casa.
Cocei os olhos enquanto levava meus equipamentos para o interior do avião; sentia necessidade da minha cama.
-Não será um adeus. -Alejandro disse a Price enquanto apertavam suas mãos-. Tenho certeza que trabalharemos juntos novamente.
Price concordou com um sorriso no rosto.
Simon percebeu que eu colocava as mãos nos olhos como uma criança.
-Você precisa aumentar sua resistência ao sono.
Eu o olhava com um sorriso.
Caramba... Eu me lembro quando ninguém sequer imaginava como era o rosto do tenente Ghost, agora ele está aqui, perambulando livremente sem sua balaclava para todos verem.
-Não tenho culpa se a minha cama chama por mim...
-Não sei porque você está preocupada. -Gaz falou enquanto guardava uma caixa no bagageiro-. O tenente vai ir babando te carregar se for preciso...
Segurei o riso enquanto Simon balançava a cabeça, com um leve sorriso.
Todos então se despediram dos Vaqueros e de Alejandro. Eu fui a última a ter contato com ele.
-Obrigada por tudo, coronel... Passamos por poucas e boas. -levantei as sobrancelhas.
-E mesmo assim, olha só. -ele bateu no peito-. Estamos bem vivos.
Dei uma risada e então ele estendeu sua mão.
Com um sorriso, o abracei gentilmente e Alejandro retribuiu.
-Se cuide, coronel. -sorri.
-Você também, niña.
Fui então para o avião, e enquanto a porta se fechava, o coronel acenava um adeus para nós.
Acho que sentirei pelo menos um pouquinho de saudade do México.
***
Me sentei ao lado de Simon, que passou seu braço em volta do meu ombro e beijou minha cabeça.
-Me avise quando chegarmos...-murmurei.
-Não irei te acordar, meu amor. -ele beijou minha testa, enquanto eu fechava os olhos e encostava sua cabeça na minha.
Antes eu queria poder sonhar com você e nunca mais acordar... Mas apenas quando estou com ele, vejo que a realidade com Simon é muito melhor do que eu poderia sequer imaginar.

Don't Let Me Down.Onde histórias criam vida. Descubra agora