-Meg!
Desta vez, a voz de Emily me tirou do meu "transe" e me fez desviar o olhar, enquanto ela se aproximava.
Quando ela chegou na porta e viu Simon, sua expressão era de puro terror. Rapidamente, Emily bateu a porta e a trancou.
-Um terrorista, Meg! -exclamou, preocupada.
Luis se levantou e foi até nós, claramente confuso.
-N-não é um terrorista, Emily!
Balancei a cabeça e abri novamente a porta, deixando o tenente levemente desconfortável.
-Esse é o...
-Tenente Simon Riley. -ele me interrompeu, estendendo a mão para ela cumprimentar.
-Ah... você. -ela cruzou os braços, dispensando o cumprimento.
Droga. Falei muito sobre Simon para Emily, tanto de forma negativa quanto positiva. Tenho receio do que possa acontecer...
-Vocês se conhecem? -Luis perguntou.
-Ele é o tenente do meu... antigo destacamento. -corrigi.
-Eu, hã... -Simon me olhou, timidamente-. Gostaria de saber se poderia conversar com você, Megan.
A temperatura do meu corpo aumentou subitamente.
Me preparei todo esse tempo para que isso nunca mais acontecesse, mas de nada adiantou. Vê-lo agora, é como se fosse a primeira vez...
Olhei para Emily, que deu de ombros, e ofereceu passagem para Simon entrar.
-Quer que eu te deixe sozinha? -ela sussurrou em meu ouvido.
-É a sua casa, não posso fazer isso com você. -balancei a cabeça. Luis e Simon pareciam se encarar enquanto isso.
-Isso é um sim. -ela abriu um sorriso irônico-. Vem, Luis, vamos ao mercado, precisamos comprar algumas coisas.
Luis estranhou, mas mesmo assim aceitou.
-Sei que consegue aguentar essa barra. -ela continuou-. Mas qualquer coisa, você sabe...
Concordei com a cabeça. Antes de saírem, Emily nos lançou uma pergunta.
-Como você conseguiu chegar na minha casa? Quer dizer, eu nunca te vi na minha vida, então seria impossível saber meu endereço...
-Megan me falou seu nome, e eu tenho o sobrenome de vocês. É a única pessoa com esse nome em Liverpool, e eu sei o quanto você é importante para sua irmã. Não foi difícil, mas me desculpe se pareceu assustador. -Simon respondeu, metódico.
-Cruzamento de dados, Emi. Já fiz muito isso. -completei.
-Vocês me dão medo pra cacete. -ela respondeu, enquanto batia a porta atrás de nós.
E, estávamos sozinhos novamente, depois de tanto tempo. Para os dois lados, havia tanto o que falar, e nada ao mesmo tempo. Se nossos corações batessem em sincronia, eu saberia o que ele estava pensando ou o porquê de sua visita.
-Por favor. -fiz menção para que ele se sentasse no sofá-. Eu irei lhe trazer um chá.
Não há nenhum inglês nesse mundo que recuse um bom chá, a qualquer hora.
Quando retornei com uma xícara, ele agradeceu. Me sentei em uma poltrona em sua frente, esperando por ele começar.
-Você está bem? -ele perguntou-. E desculpe mais uma vez por ter assustado sua irmã e ter chegado assim... me sinto um intruso.
-Está tudo bem. -dei um sorriso fraco-. Isso foi uma surpresa para todos.
Ele concordou com a cabeça. Simon deu mais um gole em seu chá antes de colocar a xícara na mesinha de vidro em sua frente, e então me olhou fixamente.
-Megan, eu queria primeiro te pedir perdão por tudo. Tudo o que eu te fiz e tudo o que eu disse. Pode não ser o melhor momento e acredito que você não queira mais me ver, mas... eu precisava te encontrar.
Engoli a seco, ouvindo cada palavra e tentando desviar do caminho do meu coração. Eu tentava a todo custo não deixar nossa última conversa influenciar meu julgamento. Era difícil pesar suas palavras, mas eu tentava me concentrar.
-Faz um tempo que não nos vemos. -respondi.
-Megan, foram dias que...
Sua respiração falhou, e ele desviou o olhar.
-Por favor, continue o que ia dizer. -o olhei, compreensiva, enquanto Simon respirou fundo.
-Foram dias que eu detestei viver sem você.
Ele me trouxe de volta aquele sentimento. Aquele sentimento que apenas ele poderia fazer dominar em meu coração e alma. Minha mente sempre apagava quando eu estava com Simon, e agora não era diferente. Eu estaria errada em ainda sentir algo tão profundo e caloroso quanto o amor por esse homem que havia me humilhado?
-Simon, eu...-balancei a cabeça.
-Sei que estou errado por chegar neste ponto. -ele interrompeu-. Mas espero não ter percebido meus erros tarde demais.
-Simon, só estou um pouco surpresa. -o acalmei-. Achei que nunca mais te veria. Tudo aconteceu tão rápido e me machucou profundamente...-balancei a cabeça-. Minha irmã está ajudando muito nesse processo.
-Foi o que eu havia pensado. -ele levantou o queixo, me observando.
Senti o calor do meu corpo aumentar, então me levantei sem graça e fui até a cozinha, me apoiando na pia. Respirei fundo, enquanto escutava passos atrás de mim.
-Eu não sou uma coisa que você pode afastar e querer de novo quando quiser, Simon. -apertei os olhos-. Isso não é justo.
-Por isso eu estou aqui, para te pedir perdão pelos meus erros. Eu te feri, é verdade, só que também peço que entenda o meu lado. -ele murmurou.
Me virei, ficando de frente para Simon. Seus olhos pareciam cansados.
-Então se explique. Por que você foi tão duro comigo? O que eu fiz de tão errado para ser humilhada por você?
-Você nunca fez nada errado. Foi apenas a minha culpa me torturando dia após dia... Megan, quando você levou aquele tiro, achei que iria te perder, e esse foi o pior sentimento que tive em toda a minha vida.
-Sentimento de perder alguém sob seu comando? -pontuei.
-Não, o sentimento de perder a única pessoa que eu amo em minha vida. O sentimento de perder a única coisa que importa para mim...
Sua resposta fez meu corpo vacilar. Minha respiração acelerou e Simon não desviou o olhar, me deixando ainda mais envergonhada; isso significava que ele não estava desconfortável falando isso.
Ele... me ama?!
-E se te ver longe era a melhor maneira de te ver segura, então essa foi minha solução. Uma resposta rápida para um problema complexo... -ele balançou a cabeça-. Eu também brinquei com o seu sonho, Megan.
-Eu me senti um lixo na nossa última conversa... a pior pessoa do mundo, a mais incompetente.
Simon deu um passo a mais, nos deixando ainda mais próximos.
-Peço desculpas também por ter sido rude. Como eu falei, uma solução rápida, e que iria te machucar, mas tudo o que eu disse não é verdade e sabe disso... se eu não te afastasse, você ainda iria continuar sendo a "Mega-n-Suicida".
Balancei a cabeça, com um breve sorriso no rosto.
-Me chamam assim agora? -levantei uma sobrancelha.
-Você ficou bem famosa por seus feitos. -ele respondeu-. Você...
Chega, tenente.
Antes que ele continuasse, peguei sua mão e coloquei em minha cintura, bem no local onde fui atingida.
-Eu fiz isso porque eu te amo, Simon. -minha voz ficou trêmula-. Faria de novo quantas vezes fossem necessárias, porque eu não quero te perder.
Seus olhos pareceram compreender o que eu havia dito. Ele não parecia tão surpreso, e, ainda assim, senti sua respiração falhar.
-Não quero que você se machuque por minha causa. Nunca. Mas isso saiu do controle com você levando um tiro... por favor, tente me entender.
Eu estava na frente do homem que eu amava... na frente do homem que eu havia salvado duas vezes. De modo algum eu gostaria de que ele se machucasse de qualquer jeito que fosse; mas eu tentava, mesmo que silenciosamente, compreender sua preocupação. Simon havia perdido tudo, sua família tinha sido massacrada e ele não pôde fazer nada. Se eu sou a única coisa que lhe restava, então faltou pouco para o tenente ter um alguns ataques cardíacos com minhas tendências suicidas.
-Da mesma forma, você deve me compreender e me respeitar. Eu sou militar porque eu amo o que faço. -desviei o olhar.
-Tudo bem. -ele concordou com a cabeça-. Apenas tenha ciência de que ordens foram feitas para serem cumpridas.
-Sermão de novo? -levantei as sobrancelhas.
Ele balançou a cabeça e quando foi responder, pulei em seu corpo para um abraço apertado, que rapidamente foi devolvido.
Sentir seus braços envolvendo meu corpo foi a melhor sensação que eu poderia ter após esse longo período de "recuperação"; era melhor do que qualquer coisa. Acariciei sua nuca enquanto nossas testas se encontravam.
-Você não sabe o quanto eu senti sua falta. -ele sussurrou, me deixando sem graça.
-Bem, na próxima vez que você me chamar de incompetente em alguma coisa, tenho certeza que vai sentir mais do que a minha falta, futuro senhor infértil. -abri um sorriso.
Ele balançou a cabeça.
Eu havia entendido seus motivos; sempre fui uma pessoa extremamente sentimental, então medidas administrativas não funcionariam comigo. Em resumo, a única forma de me tocar profundamente, seria pelo coração...
-Queria poder te ver de novo. -olhei em seus olhos.
-Você sempre será bem-vinda em minha casa. E... eu gostei muito de seu novo estilo.
Com um sorriso bobo, rapidamente pedi que ele rabiscasse em um pequeno pedaço de papel seu endereço.
Manchester... então ele não havia abandonado totalmente seu passado.
Nesse mesmo momento, Emily chegou com Luis, ajudando-a com as compras. Eu e Simon nos despedimos de maneira rápida. Só pude relaxar de verdade quando ouvi o som de seu carro indo embora.
***
Três dias depois, decidi por fim, que iria até a casa de Simon. Emily de certa forma não concordou com isso, e eu compreendia seu lado.
-Eu só quero te ver bem, irmã. -Emily ponderou.
-Eu sei, Emi... é só que finalmente eu posso reencontrá-lo e poder dizer tudo o que quero, de verdade. Eu o conheço, e sei que carrega o peso do mundo nos ombros. Ele não iria vir até aqui se não sentisse o mesmo que eu sinto.
Emily sorriu com o canto dos lábios.
-Você é mesmo uma boba apaixonada. E eu vou fingir que não é nada estranho gostar de um cara mascarado, ok?
Com um sorriso, dei de ombros enquanto arrumava minha bolsa para sair. O item mais importante era o envelope que continha o resultado da avaliação no drone.
Simon e os outros precisam saber disso, e principalmente, das minhas suspeitas.
***
Depois de quase uma hora no metrô, eu havia chegado no distrito de Trafford, finalmente.
Me lembro da última vez que vim para cá. Foi em um passeio escolar...
Depois de alguns quarteirões da estação de metrô, cheguei em uma área mais "verde" e arborizada. Até o ato de respirar havia ficado mais confortável.
Após alguns minutos de procura, cheguei no endereço no pequeno papel rabiscado.
A casa era grande, com um pequeno jardim na frente, que parecia abandonado há... algum tempo. Ao lado, dividindo o telhado com a casa, estava uma porta larga de aço para a garagem.
Se tem garagem é porque tem carro. Ele tem carro, logo... deve ser.
Respirei fundo e me aproximei da porta marrom, tocando a campainha.
Depois de alguns segundos ouvi passos pesados indo até o local. Pelo olho mágico, me senti um pouco vigiada...
E então a porta se abriu, revelando um homem alto que se surpreendeu comigo.
-Uh, eu... eu acho que eu me enganei, desculpe senhor. -me virei, envergonhada.
-Megan...?
É a voz dele. E-e eu vi seu rosto...
Minha respiração permanecia irregular enquanto eu o encarava, sem acreditar.
Simon era totalmente diferente do que eu tinha imaginado ou desenhado. Seus cabelos eram castanhos e curtos, assim como sua barba por fazer. O que mais me chamou a atenção em seu rosto era seu queixo um pouco protuberante... era um detalhe fofo.
-É que você... está sem... -tentei falar, enquanto apontei para o meu próprio rosto.
Simo disfarçou a risada, enquanto pedia para eu entrar.
Eu o observei por alguns segundos enquanto ele fechava a porta. Simon estava com um moletom preto, calça jeans e... pantufas de patas de urso?
Quando olhei aquilo, tive que desviar meu olhar para não rir. Mas era impossível.
-Aconteceu alguma coisa? -Simon levantou uma sobrancelha.
-Não! Não, é só que... -olhei diretamente para suas pantufas, contorcendo meus lábios para segurar a risada.
-Ah, isso! Foi um presente de aniversário do Johnny, de alguns anos atrás...
-É fofo.
Então o tenente Ghost usava pantufas de urso? Eu nunca nem poderia imaginar essa cena.
A casa de Simon era grande, e ainda tinha um segundo andar. Perto da cozinha havia uma porta, que dava direto para uma área livre nos fundos, com uma piscina desativada, uma mesa e algumas cadeiras.
Uau.
-Você mora em uma mansão. -sorri, enquanto me sentava no sofá.
-Não é tudo isso. -ele sorriu, enquanto se sentava ao meu lado-. Quer alguma coisa?
-Não, obrigada. -desviei o olhar.
Estávamos então em silêncio. Eu me sentia uma adolescente novamente em um primeiro encontro, sem saber o que falar e envergonhada.
-T-tenho algo para te mostrar. -gaguejei. Eu não conseguia encarar Simon por muito tempo sem sua balaclava. Ele era tão bonito.
Revirei minha bolsa e retirei o envelope, dando a ele.
-É o resultado das análises no meu drone. -continuei-. Peguei o envelope um pouco antes de me demitir...
Ele olhava atentamente para cada palavra nos papéis, e quando terminou, parecia atordoado.
-Você deixou seu drone sem supervisão por muito tempo? -Simon perguntou.
-Poucas vezes. -murmurei-. Mas eu não achei que haveria alguém para prejudicar a equipe. E eu tenho minhas suspeitas.
Simon concordou.
-Phillip Graves? -ele levantou uma sobrancelha.
-Sim, ou alguém de sua equipe que foi ordenado a fazer isso. De qualquer forma, não posso fazer acusações sem provas.
Olhei para a minha perna. Pensar no que eu havia feito parecia uma loucura sem tamanho.
-A CIA não irá nos ouvir sem provas concretas. Bem... temos trabalho a ser feito então. -ele sorriu.
Nós...?
-Não faço mais parte da equipe, eu me demiti. -o encarei.
-Sua carta precisa ser assinada pelo setor administrativo para você estar fora. E ela não está assinada até agora... -Simon sugeriu.
-M-mas... -balancei a cabeça.
-Digamos que o setor lhe deu uma licença, então você tem... mais uma semana antes de voltar ao trabalho.
Meus lábios tremeram enquanto Simon abria um sorriso lentamente.
-Então eu ainda estou na Task Force 141?! -perguntei, sem acreditar.
-Claro, Megan. Eu sei o quanto isso é importante para você.
O sorriso que surgiu em meu rosto foi libertador; da mesma forma que minhas esperança foi se esvaindo depois que me demiti, ela voltou. A alegria inundou meu corpo, contagiando até mesmo Simon.
Sem me conter, o abracei, pulando em seu colo.
Nos olhamos por alguns segundos. Ele não conseguia disfarçar o sorriso tímido em seus lábios.
Coloquei minhas mãos em volta de seu pescoço, enquanto olhava cada detalhe de seu rosto; eu não queria perder nada. Me aproximei lentamente até nossos lábios colidirem em um beijo intenso e apaixonado.
Eu não queria mais esperar porque não haviam motivos para isso. Tudo o que queria estava bem na minha frente.
Simon acariciou lentamente a minha cintura, enquanto beijava meu pescoço.
-Eu quero ter você dentro de mim... -sussurrei em seu ouvido, fazendo ele suspirar.
***
No quarto de Simon eu já estava extasiada apenas em olhar para o seu corpo belo e musculoso.
As nossas roupas estavam espalhadas por todo o canto; parecíamos tão sedentos um pelo outro que isso não era relevante.
Quando fiquei por cima dele, fazendo movimentos lentos, Simon se obrigou a acariciar a cicatriz em minha cintura. Mesmo amando o nosso ato, ele pareceu distraído com isso.
-Olhe para mim... -murmurei, enquanto retirava sua mão e a levava até meu rosto. Ele sorriu com o gesto.
Rapidamente, Simon se levantou e me olhou diretamente, com um pequeno sorriso. Enrolei meus dedos em seu cabelo, enquanto eu o sentia ir ainda mais profundamente.
-Eu nunca mais vou te deixar... -ele sussurrou, colocando os lábios em meu ombro, para abafar os gemidos.
-É melhor manter sua palavra. -murmurei-. Ou sofrerá comigo, tenente.
-É mesmo? -respondeu, beijando meu pescoço-. Você parece tão ameaçadora...
-Duvida do meu potencial? -puxei levemente seus cabelos, fazendo ele morder meu pescoço com certa força. Aquilo me deixou ainda mais excitada... Simon me virou, ficando por cima e aumentando sua intensidade.
Senti-lo dentro de mim era a melhor sensação do mundo; nossos corpos se conectaram de uma maneira poderosa.
-Simon... -gemi, enquanto o abraçava e arranhava suas costas. Seu ritmo aumentou, me fazendo gritar.
Quando ele se desfez em meu interior, o agarrei ainda mais, para sentir cada pequena contração ele poderia me proporcionar.
Simon desabou ao meu lado, me puxando para o seu peito.
-Eu te amo. -ele sussurrou, beijando o topo da minha cabeça.
-Agora você me fez te amar de verdade. -brinquei, rindo.
Eu poderia ficar ali com ele naquela situação para sempre, não me importaria. Eu o amava e ele me amava; e isso bastava.

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Don't Let Me Down.
Roman d'amour(PRIMEIRA TEMPORADA)>>>Quando Megan Taylor consegue sua admissão na Task Force 141, ela pulou de felicidade pelo sucesso que obteve e por seu sonho estar se realizando. O tenente Simon "Ghost" Riley, sempre taciturno, viu que a nova recruta teria mu...