Gravidade

675 64 4
                                        

Algo estava muito errado no ar. Esse pressentimento, o aperto em meu coração indicavam alguma coisa diferente, mas eu não tinha certeza do que seria. Minha mente estava confusa; mil pensamentos por hora, e todos refletiam em minhas suspeitas.
E se eu estiver errada? E se eu estiver imaginando coisas demais? Ver Phillip Graves novamente deixou meu cérebro sobrecarregado em relação a acusações.
Eu poderia contar tudo o que penso ao capitão Price e tenho certeza que ele me entenderia, mas agora não parecia ser a hora certa de encher ainda mais a cabeça dele com problemas.
Tudo esse meu cenário piorou quando não consegui encontrar Graves ou qualquer outro soldado da Shadow Company pela base sul de Alejandro. Ao perguntar ao sargento Soap sobre isso, ele apenas respondeu que achava que Shepherd havia retirado seus homens do México, para não criar mais problemas. Mas, isso apenas era uma suposição.
-Você não parece muito bem. -Ghost se aproximou de mim enquanto estávamos no refeitório, se sentando ao meu lado.
Eu apenas olhei fixamente para a mesa branca onde apoiei meus cotovelos, pensativa.
-Me sinto estranha, tenente. -olhei diretamente para seu rosto, protegido pela máscara de caveira.
-Você é a única pessoa que eu deixo me chamar pelo nome por aqui. -ele pendeu a cabeça para o lado, me encarando-. Aconteceu alguma coisa?
Dei um leve sorriso com suas palavras carinhosas.
-Não, é só que... eu me sinto mal por algum motivo. Sabe quando você sente que algo ruim vai acontecer a qualquer momento?
-Sei... eu acho. -ele deu de ombros-. Precisa ser mais específica.
Minhas mãos começaram a tremer, como se algo aterrorizante tivesse me dado um susto; foi o suficiente para Simon colocar sua mão sobre a minha e se aproximar.
-Megan, o que está acontecendo? -seu tom de voz era rígido.
-E-eu estou com medo. -minha pele arrepiou-. É o Graves.
-Eu te prometi que ele nunca mais vai chegar perto de você ou te ameaçar.
Seus olhos estavam bem abertos, esperando um motivo para a minha tristeza.
-Eu sei, Simon. É ruim ter Graves por perto, mas pior ainda é não saber onde ele está agora. Isso dá margem para muitas coisas...
Ele acenou com a cabeça, me entendendo.
-Fique calma, Meg. Vamos cumprir essa missão, mas para isso, preciso de você focada e tranquila. Estarei ao seu lado.
Coloquei minha cabeça em seu ombro, respirando fundo e tentando esquecer minhas preocupações.
***
Na parte da tarde, fui diretamente na sala do coronel Vargas para conversar com ele.
-Boa tarde coronel, espero não estar atrapalhando. -bati a continência depois de fechar a porta da sala.
-Não atrapalha. Sempre tenho lugar para os 141. -ele lançou um sorriso, pedindo para que eu me sentasse na cadeira à frente dele-. Espero que minha sobrinha não esteja falando muito ou te atrapalhando. Peço perdão por isso.
Deixei escapar um riso, entendendo seus motivos.
-Não se preocupe, coronel. Luna é bem alegre e motivada, às vezes falta um pouco disso na nossa profissão.
-Tem razão. -ele sorriu-. E então? Gostaria de falar comigo sobre algo específico?
Respirei fundo antes de continuar, mantendo meus olhos fixos no rosto do coronel.
-Senhor, o que você acha do comandante Phillip Graves?
Alejandro lentamente encostou suas costas na cadeira, com um suspiro. Ele saberia que nossa conversa não seria muito fácil.
-Quanto mais longe de mim, melhor. -resmungou ele-. Espero que Graves já esteja no país dele, sem querer se intrometer nos nossos assuntos.
-Acho isso bem difícil, coronel. -desviei o olhar-. Vim aqui justamente para falar sobre isso... Sei que iremos partir hoje para a sua base no norte de Las Almas, mas se fosse possível... gostaria que o senhor adiasse isso.
Alejandro franziu as sobrancelhas.
-Por que está me pedindo isso?
-Sei que pode parecer bobo, senhor, mas não sinto que iremos ter positivo neste trajeto.
-Não posso impedir o encaminhamento de nossa missão por um... mau pressentimento, senhorita Taylor. Você me entende. -eu acenei com a cabeça, concordando-. Isso tem a ver com Phillip Graves?
-Sim. Eu não me sinto confortável com esse homem, e muito menos longe dele. Não sabemos do que ele é capaz, senhor...
Alejandro compreendeu onde eu queria chegar.
-Apenas tente manter-se calma, certo? -ele se aproximou, me encarando-. Estamos com os olhos bem abertos em relação ao comandante, não há necessidade de preocupação com isso.
Concordei com a cabeça. Quando saí da sala, respirei fundo, tentando relaxar com as palavras do coronel Vargas, em vão.
Espero que seja somente minha mente me enganando.
***
À noite, fomos em direção à base norte de Alejandro.
Na parte da frente do carro, estava o próprio coronel dirigindo, enquanto eu ficava no meio de Soap e Ghost. No meio do caminho, segurei a mão do tenente e entrelacei meus dedos com os seus; era sutil e significava muito para nós dois.
-Fico feliz por estar ao meu lado. -sussurrei para Simon.
-Ainda bem que minha presença nunca te afastou. -ele respondeu, e eu apenas balancei a cabeça.
Quando chegamos, Alejandro grunhiu algo ininteligível, saindo do carro.
Haviam alguns carros bloqueando nosso caminho, e soldados com uniformes completamente pretos estavam espalhados pelo local. Eu, o sargento e o tenente saímos, sem entender nada.
Eu conheço esses uniformes...
-O que é isso?
Alejandro se aproximou de Phillip Graves, que já estava no local. Soap ficou ao lado do coronel enquanto eu apenas esperei ao lado de Simon, mais atrás.
-Este é o futuro imediato. Fiquem longe do portão. -respondeu Graves, que estava com alguns de seus homens atrás dele.
-O quê? -Soap o olhou, confuso.
-Você me ouviu.
-Você está louco, essa é a minha base. -disse Alejandro.
-Não é uma base. -continuou Graves-. É uma instalação secreta considerável... Então estou pegando para mim. Vocês estão liberados e agradeço pelos serviços.
Meu queixo caía lentamente a cada palavra pronunciada pelo comandante. Nesse momento, uma chuva leve começou.
-Não, não, não... -Alejandro balançou a cabeça-. Eu não recebo ordens de você.
-Foi o que você disse a Hector Castillo? Não deveria estar surpreso pela sua afiliação com um narcotraficante... -Graves levantou uma sobrancelha.
-Que porra você acabou de dizer, pendejo...-Alejandro deu um passo para frente na direção de Graves, mas Soap o parou com o braço.
-Você ficou louco, Graves. -disse o sargento.
Dois soldados da Shadow Company se aproximaram de mim e de Simon, nos olhando fixamente.
Isso está começando a me assustar pra cacete...
-Não façam isso. Não... façam isso. -Graves apontou para Soap e Alejandro-. Ninguém precisa se machucar aqui.
-Você está nos ameaçando?
A voz áspera de Ghost soou como um trovão em direção a Graves.
-Soldado, eu não faço ameaças. -ele respondeu-. Eu faço garantias. Então não vamos fazer isso.
-Vou chamar o Shepherd. -Soap balançou a cabeça e se virou.
-General Shepherd manda lembranças. -respondeu Graves, fazendo Soap parar-. Ele disse que isso não seria fácil.
-Ele sabe sobre isso? -Ghost o olhou.
-Ele me colocou no comando dessa operação, e é isso que eu estou fazendo. Vocês precisam se acalmar, e a Shadow Company irá terminar o que vocês começaram. -Soap e Ghost se olharam rapidamente-. Por que estamos falando como se isso fosse uma negociação? Não é. Eu tenho minhas ordens e vocês tem as suas.
-E quem você acha que é, cabrón? -falou Alejandro, irado-. Meus homens estão aí dentro!
-Eu acredito que não. Seus homens... foram detidos. -Graves respondeu, dando de ombros.
Alejandro arregalou os olhos.
Não, não...
-Volte... e vá avisar o Price... -Ghost sussurrou para mim, rapidamente.
Nesse momento, o coronel Vargas atacou Graves, que rapidamente o deteve com ajuda.
-Graves, mas que merda! -gritou Soap.
-AGORA! -Ghost gritou para mim.
Os dois soldados a nossa frente atacaram, mas o tenente não teve dificuldades em neutralizar os homens. Soap deteve um homem, que se soltou e atirou de raspão em sua perna, fazendo-o cair.
Peguei meu revólver na mão e cruzei o asfalto, indo até a guarita esquerda, ficando cara a cara com um soldado da Shadow Company. Felizmente fui mais rápida que ele, atirando em seu pescoço e fazendo ele cair no chão.
-Vá Johnny, saia daqui! -gritou Ghost-. Soap, vá!
Quando fui pular o pequeno muro, vi que mais soldados estavam chegando na rodovia abaixo.
Merda...
O soldado que abati tinha deixado cair uma chave de fenda, e eu que estava sem armas brancas, resolvi pegá-la e escondê-la na manga da minha camiseta.
Me abaixei, ficando fora de vista e ouvindo nada mais que sons de tiros e golpes.
Espero que Simon e Soap tenham conseguido fugir... Deus, eu sabia que tinha algo errado.
-Ghost, você está aí? -perguntou Graves, vasculhando o local-. Filho da puta. Encontrem os dois! -gritou para os soldados.
Eu não teria muitas opções. Tinham apenas seis balas no tambor do revólver e uma chave de fenda; se eu fosse o Rambo, qualquer plano com esses itens iriam dar certo.
Soldados estavam chegando na parte inferior, e haviam outros por todos os lados. Se eu tivesse sido mais rápida, teria conseguido fugir como ordenou Ghost. Mas isso não fazia parte da minha personalidade, fazia?
-GRAVES! -gritei enquanto estava abaixada.
-Oh, vejam o que temos aqui.
Quando escutei passos se aproximando de mim, dei um tiro para o alto.
-Não se aproxima, porra. -resmunguei-. Deixe o coronel Alejandro comigo e iremos embora.
Uma risada irônica ecoou pelo local.
-Puta arrogante. -ele falou-. Acha que comanda as coisas por aqui? Tragam ela para mim.
Soldados se aproximaram, um de cada lado; pude atirar apenas de raspão em um, enquanto o outro me deixava imobilizada. Mesmo me debatendo, ele me levou com certa facilidade para Graves, que me olhava com um ar de superioridade.
O coronel Vargas estava no chão, desacordado.
-Maldita... -resmungou Graves.
Tentei me mexer novamente, mas o soldado prendeu bem meu corpo.
Graves deu sua arma a um de seus soldados, deixando suas mãos livres.
-Solte-a. -ele ordenou.
Quando o soldado me soltou, Graves me olhou diretamente nos olhos.
Sem ter tempo de dizer algo, o comandante desferiu um soco forte no meu estômago, me fazendo cair no chão e ter dificuldades para respirar, enquanto soltava gemidos de dor.
Apertei meus dedos no asfalto, tentando me levantar, mas a dor estava se espalhando pelo meu corpo.
Um homem então me levantou e me colocou em seu ombro, como se eu não pesasse nada. Antes de apagar, tive a certeza de ver um sorriso enorme no rosto de Graves.

Don't Let Me Down.Onde histórias criam vida. Descubra agora