DÁRIO MARTINELLI
DIAS DEPOIS
Estava imerso em várias papeladas por horas. Teremos que contratar outro agrônomo; uma quadra está com o solo preparado para o plantio de café, e estamos empenhados em cultivar café totalmente orgânico. Esperamos obter um lucro significativo, já que estão bem aceitos no mercado. Isso requer muita estratégia e manejo; nada pode sair do planejado, ou pragas e doenças podem afetar o solo e as folhas, comprometendo a produção. Eu esfrego meu rosto e me jogo no encosto da cadeira. Isso não deveria ser problema meu, mas não consigo parar de pensar em Alana. Hoje é sexta-feira, e estou com vontade de ir lá e levá-la para casa. Sei que hoje ela está trabalhando; perguntei sobre seus horários a Ângelo. Não sei o porquê, mas sinto a necessidade de protegê-la. Nada tira da minha cabeça que ela precisa de ajuda, que precisa de alguém que se importe com ela. Eu quebrei a cara uma vez, mas dessa forma é diferente; eu não tenho a intenção de namorá-la, até porque eu não tenho pretensão alguma de algum dia namorar alguém. Para mim, sempre será sexo, curtição sem amarras. Então, acredito que posso ser amigo de alguém, posso ajudar alguém que precisa. Depois de pensar muito, resolvo que assim que o horário de trabalho terminar, irei a Albuquerque buscar Alana e levá-la para casa.
Estou finalizando a análise de algumas planilhas de várias fazendas próximas quando meu pai entra no escritório, junto com Joaquim, o Encarregado, Douglas, o Agrônomo, e Nivaldo, o Gerente Agrícola. Eles se sentam, e então começamos a reunião.
— Quais quadras precisam de desbrotamento? — pergunto, e então Nivaldo e Joaquim listam todas as quadras do lado sul da propriedade. Usamos numeração e o nome do café por placa em cada quadra para facilitar o reconhecimento, já que são centenas de quadras e placas, todas listadas e cada uma com um tratamento diferenciado do solo, assim como o grão, as folhas, a época de colheita, tudo milimetricamente calculado e anotado. Sem o acompanhamento adequado, perderíamos o café para pragas e doenças, sem falar que a safra seria afetada.
— A quadra 230 está pronta para o arranquio dos pés de café. — comenta Joaquim, que continua de pé.
— Você já fez a análise de solo, Douglas? — meu pai pergunta ao agrônomo.
— Sim, senhor Francesco, como prevíamos, os pés de café não estão produzindo como o esperado a dois anos, e os pés de café são bem antigos e depois da doença que custamos controlar não tem muito o que fazer. — ele puxa uma pasta e entrega a mim e a meu pai.
— Aí está uma análise detalhada do solo, eu avaliei toda a quadra e por isso digo que o solo pode sim ser afetado caso não tenha o arranque imediato. — então eu passo os olhos por toda a papelada em que ele nos entregou e fico satisfeito.
— Quando podem começar com os cuidados da área? — pergunto.
— Assim que o arranquio for feito, Joaquim ficará responsável pela turma que fará a limpeza da área. — comenta Nivaldo.
— Certo, Nivaldo. Vocês têm nosso aval para o arranquio da quadra 230. — libera meu pai.
— Antes limpem a área ao redor das plantas e cuidem do desligamento do sistema de irrigação. — termino de listar o que deve ser feito, e damos a reunião como encerrada. Depois que todos saem, ficamos apenas meu pai e eu.
— Pai, eu vou passar este final de semana em Albuquerque. Eu queria ficar na casa da nossa família, minha cobertura está alugada. O senhor se importa? — pergunto, esperando que ele não me faça perguntas.
— Claro que não, Dario. Pode usar. A casa é nossa. — no entanto, ele me olha com seus olhos perscrutadores.
— Já que você está indo tanto para Albuquerque, deveria fazer uma visita em nossas terras. Tem alguns meses que não passamos por lá. — eu penso por alguns minutos, e não vai ser nada mal já que não tenho reunião nenhuma marcada.
— Tudo bem, eu passo pelas fazendas para dar uma fiscalizada. — meu pai balança a cabeça.
— Você não está indo para lá só para evitar ver seu irmão, não é? — ele me analisa, esperando a resposta.
— Contribuiu muito para tal decisão, mas não é só por ele. É um conjunto da obra. — ele me olha com certo pesar.
— Sabe, filho... — estou prevendo palavras que não gostarei de ouvir.
— Às vezes... você nem chegou a amar Eloá. Já pensou que pode ser apenas uma idealização que você criou sobre ela? — passo a mão por minha barba, tentando entender o que meu pai está dizendo.
— Explique melhor, pai. — peço, e então ele limpa a garganta e continua.
— Você a conheceu ainda muito jovem, viu nela tudo que procurava em uma mulher para ter um futuro, se casar, ter filhos. Você fantasiou isso. Criou ideias, sonhos, mas esqueceu o essencial. — eu não vou perguntar o quê a ele, mas sei que ele vai dizer.
— Você esqueceu de conquistá-la; você foi amigo, filho. Não dá para modificar um sentimento depois que ele está enraizado. — eu penso por alguns minutos, me levanto de onde estou e caminho em direção à porta em silêncio.
— O senhor acha que eu errei em imaginar um futuro com Eloá? — pergunto com a voz rouca e triste.
— Não. Você errou em não saber como deixar de ser amigo para ser namorado. Você não trabalhou na atração de vocês. Você não trabalhou na conquista. Talvez, filho, você sequer tenha se apaixonado por Eloá. Pense nisso. — ele também se levanta e se aproxima de mim, batendo em meus ombros.
— Não me diga, apenas reflita; você se sentia atraído por ela? Tão atraído que não podia ficar perto dela sem ter o desejo de beijá-la? Seu coração perdia uma batida quando a via? Você desejava vê-la todos os dias? Contava os minutos para que se encontrassem? Sorria ao lembrar dela? Tudo isso, filho, é está apaixonado. Todos esses sentimentos, a ansiedade, a energia pulsante que passa por seu corpo como eletricidade, que te deixa ligado, que faz você correr ao encontro da pessoa a cada chance que você tem apenas para ficar ali, na presença dela para sorrir, chorar, para beijar, se amar. — ele se afasta de mim, mas antes ele me dirige um olhar conhecedor.
— Talvez você só ame a fantasia que criou e que sempre a viu como uma amiga. E se ressente por perder essa sua idealização de algo que você não encontrou. Guarde minhas palavras, filho, o dia que você encontrar sua pessoa, você sentirá tudo que eu descrevi e muito mais. — e com isso, ele sai do escritório, me deixando pensativo sobre tudo que ele disse. E se ele estiver dizendo a verdade? E se eu nunca me apaixonei? Eu tento não ir por esse caminho. Eu saio do escritório para meu quarto a fim de me arrumar.Horas depois, quando estou saindo para Albuquerque, vejo Corrado e Eloá chegando. Dou tudo de mim para esperá-los se aproximarem.
— Boa noite, Dario. — cumprimenta Corrado.
— Boa noite, Corrado. — Eloá se aproxima para me abraçar, e eu a abraço sem jeito; ainda não me sinto confortável com sua aproximação.
— Boa noite, Eloá. Como tem passado? — ela custa a se afastar do abraço, e seu perfume fica impregnado em mim, e eu odeio isso.
— Boa noite, Dario. Estou bem. — ela me pareceu triste, e eu queria perguntar o que ela tinha, o que havia acontecido para o sorriso sumir de seu rosto, mas me contive.
— Que bom. Vocês estão chegando, e eu estou saindo. — eles me olham intrigados.
— Para onde está indo, Dario? — Eloá pergunta, e eu sorrio.
— Para Albuquerque; o pai pediu para vistoriar algumas fazendas por lá neste fim de semana. — Corrado franziu o cenho, e eu não deixo ele questionar.
— Vou indo. Até mais. — respiro fundo quando saio de perto deles. Assim que estou no meu carro, eu ligo o som e deixo a música entrar em meus ouvidos e levar embora a raiva, o rancor, a dor, o ciúmes, as dúvidas, tudo que me perturba, que me deixa irracional. Eu não posso desejar a mulher do meu irmão; isso é demais até para mim. Chegando em Albuquerque, vou marcar uma transa qualquer.
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uma farsa com o milionário
Romance○ Slow Burn ○ Friend To Love ○ Fake Date ○ Mocinho Protetor ○ Mocinho quebrado Dario Martinelli, aos 28 anos, é um homem de negócios bem-sucedido que acreditava ter toda sua vida planejada milimetricamente. Metódico, imaginava ter tudo sob controle...