CAPÍTULO 60

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               DARIO MARTINELLI

Acordei cedo com as ligações de Carina me perturbando. Mesmo assim, posterguei o quanto pude, pois sei que ela viria com mais manipulações e torturas psicológicas. Fui à academia, treinei até me faltar o ar e as forças, tomei um banho, um suco, e falei com Alana por vídeo durante uma hora, até ela me dar a certeza de que estava tudo bem e que sua mãe estava de pé e Jorge tinha saído. Dirigi-me ao meu escritório quando meu celular tocou sem descanso, pelo que pareceram horas, e atendi estressado.

— Oi. — ela soltou um muxoxo.

— Não é assim que você deve responder a sua amiga. — me corrigi. E soltei um suspiro.

— Em que posso ajudar, Carina? — perguntei sem paciência.

— Faltam poucos dias... — sua voz deu uma leve tremida.

— Eu sei...

— Você virá, não é?

— Sim, eu vou. — Respondi resignado, e ela ficou em silêncio por algum tempo.

— A loucura já está vindo, sabia, Dario? Eu sinto ela... — confessou com a voz embargada, e eu fechei meus olhos, passando a mão pelos cabelos. Era sempre a mesma história. Todos os dias, por quatro vezes, ela me ligava e chorava. E eu ouvia. Já descobri quem está prejudicando os negócios da nossa família, e agora preciso marcar uma reunião com todos para revelar. É tanta coisa para eu resolver de uma vez só, que me sinto sobrecarregado. Meus demônios já estão me agarrando, e a besta em mim está emergindo.

— Vai passar, Carina, sempre passa. Lembra o que eu disse? — perguntei controlado.

— Sim.

— E está seguindo direitinho?

— Sim.

— Então você ficará bem, só não beba nada de álcool nem use drogas. — pedi com jeito.

— Nem maconha? — tive que respirar fundo.

— Não. Nenhum tipo de drogas ou bebidas.

— Tá.

— Me prometa, Carina.

— Só se você prometer vir aqui. Eu não vou conseguir passar sem você, Dario. E se você não vier, será culpado de outra morte, e dessa vez não será uma promessa vazia. A última vez, você deve se lembrar. — não permiti que ela continuasse a falar, bati minha cabeça na parede para não ouvir mais nada.

— Eu vou, caramba! Eu estarei lá, está bem. Só pare de me acusar. Pare de fazer com que eu me sinta culpado. — implorei.

— Mas você é! Você é o culpado!

— Não sou, Carina, eu não sou, droga! — gritei, perdendo a paciência, e joguei meu celular na parede. Ele se partiu em mil pedaços, e eu apreciei por um tempo, até que a dor e a fadiga foram tão fortes que soltei um grito tão alto, estridente e desesperado. Quando perdi as forças, me ajoelhei no chão com a cabeça voltada para baixo. Eu não sou culpado, não sou...

O desespero engolfou minha alma, minha vontade de acabar com tudo era tão grande. Deixei malditas lágrimas descerem, deixei-me levar pela dor, e ela dilacerou tudo por dentro. Dias como esse, eu me sinto podre e oco. Minha garganta está dolorida, e mesmo assim não consegui me livrar do sentimento opressor de culpa, solidão e desamor. Sinto-me tão só na minha dor, tão perdido. Carina está me consumindo, ela está conseguindo entrar na minha cabeça e arruinar tudo. Eu preciso ser forte por Alana. Ela precisa de mim. Só espero que ela consiga seguir sem mim. Pretendo organizar toda sua vida, deixá-la bem, estável e feliz, e então eu... Meus pensamentos pararam quando meu escritório foi invadido por duas pessoas que eu nunca esperava ver em minha casa. Eles me olharam primeiro procurando por alguma ameaça, e depois tentando entender o motivo do choro e dos joelhos no chão. Estou tão perdido que custo a ter reação para me levantar. Respiro fundo, limpo meus olhos e nariz, e me levanto, corrigindo minha postura e os encarando.  
— Por que estão na minha casa e invadiram meu escritório? — a pergunta saiu ríspida, dura e embargada. Malditas lágrimas na hora errada.

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