CAPÍTULO 7

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                     ALANA REIS 

Tantas coisas aconteceram nesta semana que passou. Eu não fui à sala do Senhor Rivera; eu não quero problemas, já tenho tantos. A mulher é filha de um homem muito influente em nosso estado. Isso só traria dores de cabeça, e minha família nunca ficaria do meu lado; iriam falar que eu estava querendo chamar atenção, querendo dinheiro, essas coisas maldosas. Eu só quero um pouco de paz e não mais tumulto. Acredito que o Senhor Rivera entendeu meu silêncio; ele não me procurou mais, e soube por Jessica que ele foi para Belo Horizonte. O homem tem tantos negócios que nem sei se em algum momento ele tem algum descanso.

Os dias no trabalho foram normais e sem grandes emoções. Conseguia chegar em casa normalmente sem Jorge me esperar; ele só me espera às sextas e sábados, quando ele bebe. Por isso, estou tão triste e preocupada; sei que terei que lutar com ele. Às vezes, penso até quando vou conseguir evitar. Às vezes, temo por minha vida, mas só deixaria ele encostar em mim quando estiver morta. Ninguém merece viver assim; tenho 24 anos, poderia muito bem me virar sozinha, morar em algum lugar pequeno. Mas me preocupo com minha mãe e sua saúde. Ela precisa de mim; sempre que tenho vontade de dar um basta, ela adoece, me fazendo retroceder em minhas decisões, mantendo-me cativa e refém.

Aqui estou eu novamente na picape de Dario. Eu desconfiava dele; ninguém nunca me ajuda porque quer, sempre tem um preço. Eu queria poder acreditar nas pessoas com mais facilidade, mas depois de tanta decepção e tristeza, não há como não ficar ressabiada. Mas não sei por que, em meu íntimo, pede que eu confie em Dario; ele não tem por que me fazer mal ou me prejudicar de alguma forma. O homem tem o mundo aos seus pés; talvez ele queira mesmo me ajudar, e vou abraçar essa ajuda, pelo menos um pouco de alívio e alegria nessa minha vida tão solitária, triste e infeliz. Ele demora a responder minha pergunta.

— Meu pai pediu para verificar algumas de nossas fazendas aqui em Albuquerque. E então, pensei que poderia dar uma carona a você. O que acha? — eu olho para ele, admirando sua beleza. Dario é bonito demais, e ele sabe disso.

— Acho ótimo. — sorrio, agradecida.

— Aqui em Albuquerque, vocês possuem quantas fazendas? — minha curiosidade venceu.

— Só aqui temos 5. — eu fico de boca aberta.

— Todas com café? — ele confirma com a cabeça.

— Sim, mas não apenas café. Sempre tem época do plantio de feijão e milho. — ele faz uma curva, e entramos na estrada de chão.

— Em algumas existe pomares, açude. Então, quase todas nossas fazendas, além da produção principal do café, têm o plantio de outras culturas. — ele está concentrado na estrada.

— Nossa, muito legal, Dario. — falo sorrindo.

— Sim, é. Eu poderia ter ido para Belo Horizonte, sabe? Eu tive a oportunidade de trabalhar com meus irmãos. Poderíamos empregar as pessoas certas para cuidar de tudo, mas eu gosto do contato com a natureza, de poder andar no meio do cafezal, estudar a cultura do café, pegar o grão. Essas coisas simples têm um enorme valor para mim. — ele fala com tanta entrega e paixão que chego a ficar admirada.

— Sua paixão pelo café é visível. — eu falo e vejo seu rosto transformar-se em uma carranca; ele parece estar pensando em algo ruim, pois aperta o volante do carro, não olhando para mim em nenhum momento, e então ele fala.  
— É a única paixão que terei na vida. — ele fala tão baixo, como uma promessa, algo que parece ser dolorido para ele. Isso me intriga, mas fico em silêncio; consigo identificar quando alguém tem alguma dor, algo que perturba sua alma, pois acontece comigo. Fazemos todo o caminho em silêncio, e quando ele estaciona, eu olho para ele sorrindo.

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