CAPÍTULO 61

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                     ALANA REIS

Quando o estrondo cessou e a poeira se dissipou, imaginei o pior – que todos seríamos mortos e que seria nosso fim. Pela primeira vez, não me importei, contanto que toda essa loucura acabasse. Mãezinha tem uma dependência horrível e doentia por Delfino ou Jorge, sei lá, é tudo demais. Mas foi o suspiro de alívio e pânico que ouvi de mãezinha que me fez ter a certeza de que esse era o encontro com o passado dela. Ela olhou para o homem meio grisalho, moreno, com olhos frios e postura ameaçadora – meu pai. Ele foi ao encontro de Jorge e, com uma facilidade incrível, o colocou de joelhos, fazendo-o cuspir sangue após vários socos no rosto. José estava furioso, soltando grunhidos de puro ódio, e tudo parou quando mãezinha chamou seu nome. Foi então que vi meu salvador, o homem pelo qual meu coração desejava ver pelo menos mais uma vez. Só quis saber do refúgio de seus braços, do consolo de suas palavras. Tudo que eu precisava era me abrigar em Dario. Meu porto seguro, o homem que me fez sentir viva novamente, que me fez amar incondicionalmente. Ele me acalmou, e ali entendi que ficaria tudo bem, mas só porque ele estava comigo.

— Filha... — José me chama baixinho. Seus dedos das mãos estão todos feridos, seu olhar se suaviza ao me olhar e ao olhar para mãezinha.

— Eu nunca me cansei de procurar por vocês duas — diz, apertando a mão de mãezinha, que aceita aliviada e até feliz, parecendo outra mulher, com uma luz emanando dela, algo que nunca presenciei.

— Eu tive tanto medo de que você nos encontrasse e nos matasse. Eu o roubei, Rico, eu não queria, me perdoa — confessa mãezinha baixinho.

— Nunca mataria vocês, Regina. Eu sinto tanto pelas palavras que disse, por ter agredido você pelas traições. Eu me culpei e me puni por todos esses anos — desabafa, quebrado. Mãezinha ergue a mão para tocá-lo, mas ia desistindo quando José não permite e deixa que ela toque em seus cabelos, onde ele fecha os olhos.

— Me perdoe por tudo o prejuízo que causei por ter fugido e levado comigo sua filha, mas eu precisava protegê-la, estava desesperada. Eu não traí você, Rico, eu nunca te trai — choraminga ela, e ele a abraça. Eu encaro essa cena com lágrimas nos olhos. Paizinho sempre foi o amor da sua vida. Será que só existe um amor em nossas vidas? Será que só amamos uma vez? E se sim, será que Dario seria incapaz de me amar algum dia?

— Eu sei que não. Eu só fui descobrir depois que vocês fugiram que Delfino tinha armado tudo. Eu sinto tanto, Regina — repete esses nomes desconhecidos novamente.

— Regina? — repito o nome, afim de me acostumar. O nome soa tão estranho que parece até que estou falando de outra pessoa. Mãezinha me olha com um misto de vergonha, dor e tristeza.

— Quando eu fugi do seu pai — ela olha para José amorosamente.

— Esse aqui é seu pai, Alana, José Henrique Macedo — me apresenta o homem à minha frente formalmente.  

— Eu descobri tudo sobre você em poucas horas de pesquisa, Alana. E devo dizer que tenho orgulho da mulher forte, batalhadora e trabalhadora que você é, filha. Saber que você sempre lutou para sobreviver, defendeu sua mãe e irmã com unhas e dentes, aguentou calada tantas humilhações e abusos, e mesmo com tudo contra você não pirou a cabeça e saiu pelo mundo cometendo crimes é motivo de admiração e orgulho — ele diz suas palavras com tanto carinho que me leva às lágrimas. Quantas vezes eu desejei ter um pai? Quantas vezes eu sonhei com um cenário diferente onde eu não precisasse temer toques masculinos ou entrar em pânico ao ver um homem em um ambiente fechado comigo? E agora ter um homem perigoso dizendo ser meu pai e que tinha orgulho de mim me enchia de esperança e amor, um amor que não esperava sentir mais, um amor de uma filha para um pai.

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