ALANA REISALGUNS DIAS DEPOIS
Só receber algumas ligações de Dario está me matando. Não nos falamos o dia todo e nem tenho intimidade como antes para cobrar a ele coisa alguma. Falávamos de coisas triviais, como foi o dia dele ou como está sendo o meu dia. Ele ainda não disse que dia vai vir embora e, para piorar, hoje ele não me ligou em momento algum. Estou chateada olhando no Instagram dele e vejo algumas fotos que ele postou algumas horas atrás. Meus olhos se enchem de lágrimas quando vejo a foto que carregou do leão em suas costas, todo completo. Ficou tão lindo, e ele colocou a seguinte frase: “A última gota de tinta fecha o capítulo, o leão agora é a fera que devora as dúvidas e os medos. Apenas as certezas prevalecerão.”
Meus olhos se enchem de lágrimas. Ele completou a tatuagem, ele se libertou. Está livre de todas suas dores, dos fantasmas do passado, e acredito que ele esteja livre de tudo que o aprisionava. Ele está pronto para seguir em frente. Subo mais algumas vezes e encontro outra foto onde ele fez uma nova tatuagem, uma atrás da orelha, no pescoço: um sol pequeno com raios solares em volta e a letra A dentro do sol. A frase que ele escreveu no feed me fez chorar aos soluços: “O sol na minha pele, a primeira letra do nome dela, uma expressão permanente do calor do seu amor, iluminando cada canto escuro da minha existência.”
— Mãezinha... — grito, incapaz de controlar a emoção que estava sentindo. Minha irmã corre para onde estou.
— O que foi, menina? — pergunta assustada ao entrar em meu quarto.
— Olha! — entrego meu celular para que as duas vejam. Estava tão emocionada e feliz. Elas vibram comigo até que meu irmão aparece e faz uma careta.
— Que coisa brega fazer uma tatuagem para homenagear uma mulher, depois elas nos rejeitam, metendo o pé em nossa bunda, e ficamos com a pele marcada para sempre. — fala amargurado, saindo para fora do meu quarto. Eu o sigo.
— Alguém quebrou seu coração, Marlon? — pergunto curiosa.
— Eu precisaria ter um para quebrá-lo, Alana. Só não vou pintar minha pele por mulher alguma. — reviro os olhos e bufo.
— Revoltadinho você, Marlon. — falo chateada, me jogando no sofá.
— E eu não sou uma mulher qualquer, Marlon, eu sou sua meia-irmã. — explico chateada, e ele se joga no sofá perto de mim, me abraçando e beijando meus cabelos.
— Eu sei, mana. Eu ainda não me acostumei com a ideia de que tenho uma irmã mais nova da qual eu tenho que defendê-la. Eu meio que odeio as mulheres, mas não tem nada a ver com você, tá ligado? — eu nego com a cabeça. Tem alguns dias que Marlon apareceu aqui, meu pai disse que seria bom nos conhecer. Ele atraiu vários olhares, não só por sua personalidade forte, como pelas tatuagens, cordões de ouro, anéis e essas roupas de marginal, que ele nunca descubra o que penso sobre ele. Mas meu irmão tem uma cara desses malandros que ficam em esquinas por aí. Ele jura que não é traficante, mas não diz nada além disso. Quando Dario me viu discutindo com ele, fiquei em pânico dele pensar que eu estava com alguém. Eu demorei a aceitar o toque de Marlon e ainda me sinto meio desconfortável. Nosso pai contou a ele sobre o que passei, e agora ele está se sentindo no direito de me proteger. Ele assustou Kleber, que agora está de férias, já que meu irmão disse que iria cuidar da minha segurança. Enfim, eu ainda não consegui me explicar para Dario sobre meu meio-irmão Marlon, e tenho medo dele estar pensando bobagem. Eu ainda repúdio qualquer toque masculino que não seja o de Dario. E meu corpo grita por ele cada vez que penso nele, que lembro de seus toques ou beijos.
— Nem comece, Marlon, você só é mais velho que eu 5 dias. — explico chateada, e ele beija meus cabelos antes de se levantar, meio incomodado também. Marlon parece meio um bicho arisco, arredio. Ele se mantém à distância de Vivian, deixando claro que ele era irmão dela também. E não, ele não é gay. Eu o vi pedindo a uma menina para “pagar um boquete” para ele, e a doida fez. Achei uma loucura isso acontecer em um beco escuro. Vi porque estava descendo no ponto do ônibus, pois a moça estava com a cabeça no meio das pernas dele e esqueceu de me buscar. Ele subiu as calças quando me viu e mandou a menina ir embora com a maior falta de educação, “vaza”, usou essas palavras frias e sem nenhum remorso. Eu nunca mais olharia para a cara dele. Pode ser bonito do jeito que for, com esses olhos verdes e essa pele morena clara, que nada faria eu me humilhar por um pedaço de nervo.
— Cinco dias, esses que viraram cinco anos, pelo tanto de experiência a mais que eu tenho, mana. Não sabe a vida fodida que eu levo. — fala um tanto quanto revoltado.
— E por que não sai dessa vida? — indago curiosa.
— Como se sai de algo para o qual você nasceu? É meu trampo, nosso pai me criou para ser seu sucessor. — explica um tanto perdido, e logo sai sem me dar explicação alguma. Meu coração corta de pena de Marlon, Daniel não quis seguir os passos do nosso pai. Ele está cursando faculdade, quer se tornar um advogado. Disse que, quando nosso pai ou irmão forem presos, ele terá como tirá-los da prisão. Seria até engraçado, se não fosse trágico. Minha mãe teve uma ponta de ciúmes quando Marlon apareceu, mas o menino é tão de boas, como ele fala, “suave”, que rapidinho conquistou a “velha”. Meu pai nunca se casou. Ele teve algumas mulheres e teve esses dois filhos com mulheres diferentes, e mesmo assim ele disse que foi necessidade para ter herdeiros. As conversas deles são cheias de sotaques e rasteiras, mas gosto de ouvi-los conversar. Estava presa em meus pensamentos até que vejo Vivian se aproximar com meu celular com uma cara estranha.
— O que houve, Vivian? — pergunto preocupada. Ela morde a unha e se senta perto de mim.
— Uma tal de Carol Gusmão elogiou a tatuagem de Dario com intimidade demais. Achei estranho e fui olhar o perfil dela, e ela tem uma foto tirada com Dario a pouco mais de dois minutos. Olha. — Pego o celular das mãos de Vivian um tanto apressada e vejo a foto da mulher loira. Só aí já me deixou possessa de raiva. Eles estavam em um restaurante ou algo do tipo, sentados em uma mesa, ele com um copo em mãos e ela com um sorriso odioso nos lábios. Bufei de raiva. Só a foto dos dois tem duzentas curtidas. Algumas pessoas dão parabéns ao casal, me deixando ainda mais irritada. E o pior é que a tal Carol Gusmão curtiu os comentários, ela não negou. Em um ataque de raiva, ligo para Dario, mas as chamadas não são completadas. Eu tento novamente e nada. Estou tão possessa de raiva.
— Que cara é essa? Estava agora quase cagando de felicidade. É bipolar, mana?
— Não comece, Marlon, estou puta de raiva. — Respondo mal-humorada, fugindo para meu quarto. Ele vem atrás de mim e não me deixa fechar a porta.
— Qual é o problema agora?
— Olha. — Entrego meu celular para Marlon, que olha para as fotos e a tatuagem.
— Pô, a tatoo dele ficou maneira. — Eu quero acertar Marlon na cabeça.
— Estou mandando você olhar a foto dele com a mulher. — Explico nervosa.
— Pô, mó gostosa! Eu pegava fácil se desse mole.
— SAI DO MEU QUARTO AGORA, MARLON! — Grito alto, jogando nele o travesseiro.
— Ou sua louca! — Ele sai do meu quarto gargalhando, e eu começo a chorar. Ele volta e se senta na minha cama, sério.
— Quer que eu bata nele para você? Posso acertá-lo algumas vezes e sair ileso. — arregalo os olhos ao perceber que Marlon falava sério.
— Não, Marlon, tá maluco? — Estou convivendo demais com ele. — Só fiquei magoada pela foto e as curtidas dessa loira falsa. — Marlon faz um barulho estranho com a garganta.
— Sabe que isso não significa nada, não é? — Eu não respondo, continuo com a cabeça coberta pelo travesseiro.
— Deve haver alguma explicação, mana, ele nem está encostado na mulher. Repare na foto, estão sentados de longe. — Salienta Marlon, e Vivian entra em meu quarto com um sorriso travesso.
— Levante e se arrume, vamos para um barzinho. Você posta foto lá e manda para o Dario também. — Me chama, e eu levanto a cabeça para encará-la.
— Ficou doida, Vivian?
— Claro que não, Alana, mas pense comigo, se ele ver que você está se divertindo, vai sentir ciúmes e voltar mais rápido. Como Marlon ressaltou, também não vejo nada demais na foto, a não ser que essa loira de farmácia está tentando de alguma forma fisgar seu homem. — Eu olho para ela, magoada.
— Não está ajudando, Vivian.
— Mas vai me agradecer quando ele voltar correndo para casa, anda. Eu liguei para Jessica e Kleber, e eles aceitaram ir conosco. — Comunica e sai do meu quarto. Tenho vontade de dizer que não vou a lugar algum, mas quando resolvo olhar meu celular novamente, vejo outra foto dessa lambisgoia com meu namorado e a legenda com a seguinte frase: “Passando um tempo com meu amigo de longa data.”
Fico tão irritada que me levanto da cama decidida.
— Saia, Marlon, vá se arrumar, pois iremos a uma boate hoje. — Marlon, que ama um caos, esfrega as mãos e sai do meu quarto sorrindo faceiro. Dario Martinelli, você vai me pagar!
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uma farsa com o milionário
Romance○ Slow Burn ○ Friend To Love ○ Fake Date ○ Mocinho Protetor ○ Mocinho quebrado Dario Martinelli, aos 28 anos, é um homem de negócios bem-sucedido que acreditava ter toda sua vida planejada milimetricamente. Metódico, imaginava ter tudo sob controle...