CAPÍTULO 18

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             DARIO MARTINELLI 


Eu passei a madrugada toda pensando no que implicaria um namoro falso com Alana, tudo que isso significaria para nós dois. Eu sempre fui muito pacífico com Alana, sempre mostrei meu lado leve, divertido e amigável para ela, e não teria problema algum continuarmos se isso não tivesse evoluído para um namoro falso. Eu não posso magoar os sentimentos dela, e para mim não existe essa história de amor ou felizes para sempre; são histórias ilusórias que as pessoas inventaram para fantasiar algo que não existe. Então, preciso mostrar a ela meu pior lado, meu verdadeiro eu; objetivo, sério, focado, só razão, nenhuma emoção. A única que possuía tudo de mim... enfim, percebi quando ela saiu da sala magoada e esperei que ela voltasse e desse sua opinião e esclarecesse suas dúvidas. Ela se sentou em minha frente com o rosto sério e com as mãos no colo; nesse meio tempo, o almoço já havia sido servido, e eu dispensei Jessica.

— Me corrija se eu estiver errada. Você também vai precisar de mim, é isso? — Eu estava levando uma garfada para boca quando paro no meio do caminho, baixo minha mão e encaro Alana. Mágoa é isso que vejo em seu olhar, mágoa, tristeza e decepção. Essa menina é tão transparente.

— Sim. Caso contrário, sua família perceberia que se trata de uma farsa. Eu tenho alguns jantares de negócios, e muitos deles saem nos jornais da cidade e às vezes até mesmo no de BH. Somos um conglomerado, pois além da fazenda Martinelli e várias outras fazendas espalhadas pelo Brasil, temos a empresa sede em BH, cafeterias espalhadas por todo país, exportamos para fora do Brasil nosso café com nossa própria marca, e além disso produzimos nosso próprio pó de café. — Explico tudo pausadamente e de uma forma que ela entenda que somos grandes, não apenas uma fazenda produtora, mas sim empresas, indústrias e por aí vai. Trabalho demais para três irmãos.

— Resumindo, preciso estar sempre com uma mulher do lado, seja para passar a noite em alguma festa de família ou apenas para não ir sozinho a algum evento. Portanto, se quiser que essa farsa seja convincente, terá que participar de alguns eventos e festas comigo. Eu tinha outras pessoas que fazem aparições comigo; se você não aceitar, terei que chamá-las. — Esclareço. Ela me encara por vários e vários minutos antes de começar a comer. Percebo que ela gostou muito do prato escolhido, pois ela fecha os olhos e parece degustar, ao soltar um suspiro. Eu tenho que segurar um sorriso. Eu também como um pouco, esperando que ela absorva tudo que foi dito.

— Não tenho roupa para esses eventos que você participa e nem saberia me portar ao lado de alguém como você. — Diz amargurada.

— Roupas não são o problema; como será para meu benefício, cobrirei todos os gastos, e sobre participar comigo de algum evento será tranquilo, não tem segredo. — Declaro.

— Isso não dará certo, Dario. — Ela decreta derrotada.

— Por que não?

— Eu não nasci para isso, tá legal? Eu não sei... isso será uma catástrofe. — Alega desesperada.

— Ei... respira, lembra. — Espero ela se acalmar; talvez tenha pegado pesado demais com ela.

— Não dá para voltar atrás agora, Alana. Sua irmã contou para sua mãe que estamos namorando; sua mãe foi lá fora atrás de mim, e antes de você chegar, ela me contou tudo sobre você e como eu não poderia brincar com seus sentimentos. — Dona Sônia parece ser uma mãe muito amorosa; contou sobre Alana com carinho, a luta de uma menina para dar um tratamento digno à mãe que tem artrite reumatoide, as dores que ela tem nas juntas e como isso a impossibilita de trabalhar, e que Alana começou a trabalhar aos 19 anos para sustentar a casa sozinha, e a filha precisava de um descanso, precisava se divertir, ser feliz, aproveitar o melhor da vida, e não é dentro de casa que ela vai conseguir isso. Tudo que Sonia falou sobre Alana me fez admirá-la. E eu fui sincero quando disse que vou cuidar dela e farei tudo que eu puder para deixá-la feliz, mesmo com certas regras.

— Como vamos fazer? — Percebi o embargo da sua voz. Eu pego a mão dela em cima da mesa e aperto com carinho.

— Vamos tentar, o que acha? Eu te ajudo e você me ajuda; dará certo, eu vou cuidar de você. — Declaro sorrindo para aliviar tudo que disse antes. Alana é doce demais para ter meu lado sombrio e amargo. Não gosto de vê-la triste. Fiz uma nota mental de não usar mais meu lado ruim com ela; ela não merece isso. E não quero vê-la magoada mais.

— Tudo bem, eu aceito tentar. — Ela sorri contida.

— Então estamos resolvidos, me passa seu número e salva o meu. — Peço. Ela retira um celular todo quebrado da bolsa e me assusto.

— Qual é o seu número? — Ela pergunta numa simplicidade tão linda que eu não tenho coragem de falar nada. Eu passo meu número, e decidimos mais algumas coisas quanto ao nosso relacionamento. Eu expliquei que sempre que o tal Claudio aparecesse era para ela me chamar; também falamos sobre passarmos alguns fins de semana juntos ou todos, dependendo da disponibilidade de cada um, ficou acordado tudo direitinho. Ela nem aproveitou direito a comida, e entendo que foi o nervosismo; preciso trazê-la aqui outra vez com mais tempo e sem assuntos pesados a serem tratados. Eu esperei com ela até dar a hora dela entrar no trabalho, prometendo que buscaria ela ao fim do expediente e fui embora para a casa dos meus pais. Com tudo isso acontecendo, eu precisei pedir a Caetano para conversar com os amigos dele para entregarem meu apartamento; não quero ficar na casa do meu pai, temo que um dia desses ainda terei que dividir essa casa com Corrado e Eloá, e será um pesadelo se isso acontecesse. Claro que depois que se pede uma casa precisamos dar tempo para os inquilinos saírem, e eles me pediram alguns dias. Sigo para casa pensando em tudo que está acontecendo em minha vida, e como fui de um homem mulherengo para um que tem relacionamento? Quando estaciono meu carro na garagem da casa, percebendo que Caetano me esperava, desço do carro e espero que ele se aproxime.

— Boa tarde, Dario. Está morando em Albuquerque agora? — Sonda ironicamente ao me acompanhar para dentro da casa enorme dos meus pais, seguimos para a sala de visita. Eu vou até o bar e sirvo nos dois copos uma dose de uísque.

— Quando escolho essa bebida é porque as coisas não andam bem. — Caetano me conhece bem demais.

— Está certo. Eu fiz uma burrada enorme, Caetano. — Confesso, esfregando minha mão livre pelos meus cabelos.

— Não é novidade alguma, Dario. Você sempre está fazendo alguma burrada há algum tempo. Qual foi a dessa vez? — Interrogou. Eu me sento na poltrona de couro, jogando minha cabeça para trás, olhando para o teto por algum tempo. Sem coragem para confessar a merda da vez. Eu respiro fundo e resolvo abrir o jogo. 
— Lembra da garota no Executive Rivera Dining?
— Qual? A ruiva gostosa que você roubou de mim? Ou a loira? Você pega tantas mulheres, Dario, não tenho ideia de qual seria. — Eu viro toda a bebida em minha boca, que desce lascando tudo, e eu balanço a cabeça.
— Eu não dormi com essa. — Revelo.
— Milagre. Você pega tudo que tem boceta e cabelos claros. — Eu me sento nervoso com aquela merda de papo.
— Para de me julgar, caralho!
— Certo. Então pare de fazer rodeios e diga de uma vez, de qual mulher está falando. — Pede impaciente.
— Lembra da garota que eu fiquei observando enquanto limpava a mesa no restaurante? — Ele parece ter que puxar do fundo da memória.
— Claro, aquela morena gostosa que você estava secando. — Eu concordo com a cabeça.
— Nós meio que ficamos amigos... — O vagabundo começa a gargalhar e chega a virar as pernas para o ar.
— Qual a graça, porra? — Inquiro irritado.
— Você... eu nunca vi você ser amigo de uma mulher, Dario. Você transa com elas e as descarta, não tem paciência com papo furado. — Zomba como se eu fosse um filho da puta sem coração.
— Do jeito que você fala parece que sou um galinha. — Digo contrariado. Ele para de rir e me olha sério.
— Não parece, Dario. Você é um mulherengo da pior espécie. — Eu levanto da poltrona.
— Não tem como conversar com você, porra, não leva nada a sério.
— Foi mal, cara, continue. — Eu vou até a janela e olho para o jardim da propriedade, onde, como se é esperado, tem um canteiro de flores com todo tipo de cores e qualidades.
— Antes de dizer qualquer coisa sobre não ter amizades com mulheres, eu tenho uma amizade com Carina, e a gente não transa. — Tento me explicar, mas é inútil.
— Ela não conta, Dario. Uma porque vocês já foderam, e outra porque aquela mulher é um carma na sua vida, uma mulher daquela é uma penitência. — Eu não posso negar, Carina foi o maior erro da minha vida. É vivendo e aprendendo. Enfim, consequências fodidas.
— Mas me diga o que tem a moça gostosa. — Não sei por que, mas não gostei de Caetano chamando Alana de gostosa.
— Ela teve alguns problemas com o ex-namorado dela, não sei se o Thiago contou algo a você. — Ele nega com a cabeça.
— A fim de ajudá-la, eu ofereci a ela um relacionamento falso. — Falo de uma vez. Ele me olha como se tivesse visto uma assombração.
— Você o que?
— Você ouviu bem, Caetano.
— Você está doente, Dario? Você nunca fez isso na vida, mulheres se jogam em seus pés, nunca vi comprometimento algum seu. Nem mesmo Carina, que fez um inferno em sua vida, conseguiu o que queria. — Mas ela tentou, ela fodeu com tudo, aquela mulher é louca.
— Não será um relacionamento sério, Caetano, é apenas uma troca de favores. — Esclareço.
— O que motivou você a tomar tal decisão quando pode ter a mulher que quiser?
— Alana... ela é diferente, Caetano. Sabe quando uma pessoa consegue extrair sua melhor parte, aquela que traz seu lado bom apenas por estar perto de você? Alana é assim, ela não pede nada em troca, ela apenas se doa. — Só paro quando vejo ele me observando de uma forma estranha.
— Ela deve ser boa mesmo. — É tudo que ele diz.
— Como vai fazer com Carina? Se ela colocar a mão em sua garota, não sobrará nada. — Argumenta Caetano, e eu fico irritado.
— Eu não tenho nada com Carina, Caetano, só transei com ela duas vezes, quase dois anos atrás. — Solto frustrado.
— E essas duas vezes acabaram de te arrastar para o fundo do poço, Dario. Não esqueça que eu estava lá, eu vi o que ela fez com você. Carina é venenosa, ela te manipula ao incitar seu ódio, ela alimenta em você um amor impossível, ela quer ver você preso a Eloá para assim tê-lo por perto ou seja lá o que se passa naquela mente doentia dela. — Caetano tem razão; ela usa meus descontroles alimentando meu ódio e raiva. Ela me confunde, finge ser minha amiga, me aconselha e depois ataca.   
— Eu sei disso.
— Que bom que sabe. Afaste essa mulher, Dario, dê um basta nessa fantasia doentia dela. — Ele me encara e parece saber o que estou pensando.
— Você não é culpado da loucura que ela cometeu, coloca isso na sua cabeça, e não deixe ela vir para cá mais. — Eu concordo com a cabeça.
— Você tem razão, tentarei barrar a entrada dela na fazenda e não atenderei nenhum telefonema. — Ele concorda com a cabeça. Eu nunca chamo Carina para minha casa; ela sempre aparece. Às vezes penso que ela tem ajuda de alguém da fazenda para saber quando acontece alguma festa ou fato importante.
— Eu não terei nada com Alana, Caetano. Só vou ajudá-la com o ex-namorado dela e aproveitar disso para não ter que ficar desfilando com uma mulher a cada evento que eu participar. — Afirmo. Ele não diz nada, e eu não pergunto. Eu sei que nada entre mim e Alana irá acontecer; eu não nasci para ter relacionamentos. Então, por que penso que vai ser difícil manter minhas convicções?

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