CAPÍTULO 4

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                     ALANA REIS

Imagina o susto que eu levo ao dar de cara com um monstro de picape na minha frente. Eu paro, e Dario me olha sem entender nada.

— O que foi, Alana? — perguntou.

— Não é nada. — Respondo sem jeito. Dario aperta o botão, e eu fico embasbacada. Ele se aproxima do carro do lado do passageiro, e eu o sigo, pensando como vou subir naquilo. Quando ele abre a porta, um estribo lateral surge do nada, e eu fico me perguntando como vou subir num trem desses. Deixa eu usar meu mineres em paz. Ele parece ler meus pensamentos, pois estende sua mão para mim. Eu fico olhando por um tempo e então aceito. Piso no estribo e entro na cabine. A picape é tão espaçosa, os bancos são de couro, o perfume que tem aqui dentro não tem explicação. Ele bate a porta, dá a volta, e eu finjo normalidade. Quando a picape solta o ronco do motor, me assusto e acabo sorrindo. Então ele arranca e começa a andar. Eu olho tudo com curiosidade e fascínio; nunca andei em algo assim que grita dinheiro e luxo. Tenho até medo de sujar qualquer parte desse carro. Nem se eu nascer de novo conseguiria pagar.

— Essa picape... — Não termino; ele me olha e sorri, um sorriso tão verdadeiro.

— Você vai descobrir um segredo meu que não contei para quase ninguém, mas tenho uma paixão por picapes, camionetes e caminhões. Tenho 3 picapes e sempre invisto nelas. Essa é uma RAM 3500 Laramie Night de 2023. Meu mais novo bebê. — Ele fala com tanto orgulho que até eu sorrio.

— Dá para ver que é sua paixão mesmo. — Comento. Eu passo meu endereço para ele e continuo calada, olhando para fora; vou chegar em casa um pouco mais tarde do que na noite passada e mais cedo do que eu esperava. Só faço uma oração para que Jorge esteja dormindo.

— Está tudo bem com você? — Dario pergunta.

— Sim, está. — Respondo sem jeito, continuando olhando para fora.

— Você sempre sai tão tarde assim do trabalho? — Pergunta, parecendo curioso.

— Depende. Eu sempre intercalo entre os turnos para não ficar cansativo. Uma semana no turno do dia, das 08h da manhã às 2h da tarde, e na semana seguinte no turno da noite, das quatro da tarde à meia-noite. Nos sábados sempre folgamos um. Essa era minha folga. — Falo sorrindo.

— Ângelo às vezes exige muito de vocês.

— Mas ele paga muito bem. Já trabalhei em diversas empresas, e essa é a mais justa que eu trabalhei. A remuneração que eles dão no fim do mês ajuda muito, e o valor sempre vem de acordo com nosso trabalho. Acho incrível como eles conseguem saber sobre cada um dos funcionários. — Falo sorrindo.

— Ângelo é como meu irmão Corrado, muito analítico. Nunca deixa passar nada. — Ele segura o volante com tanta força que seus dedos ficam brancos.

— Espera aí... você... você é irmão do sócio do senhor Rivera. — Ele desvia o olhar da estrada e balança a cabeça.

— Sim... — Ele não diz mais nada. Eu estou simplesmente sentada no carro luxuoso de um Martinelli, simplesmente um dos caras que tem a família mais rica do estado. Eu chego a engolir um nó que se forma em minha garganta. Já ouvi falar e muito do grupo empresarial Martinelli; eles têm uma enorme fazenda no Vale do Café. Sem falar que aqui mesmo em Albuquerque, eles têm algumas terras que são gerenciadas por pessoas de confiança. Eu mesma já fui em uma delas quando ainda era estudante e fiquei encantada com tudo que vi. 
— Nossa...
— O que foi? — Ele pergunta, franzindo o cenho.
— Você... Hum... você é um Martinelli.
— E?
— Não era para me dar carona. — Falo baixinho.
— Por que não?
— Uai... você deve morar aonde? Em Belo Horizonte? Ou na sede da fazenda? — Pergunto nervosa, e quando estou assim, falo mais do que devo.
— Na sede. — Ele responde.
— Não precisava me dar carona para um lugar tão longe e afastado quanto a minha casa. — Comento envergonhada. Ele me olha por um momento.
— Eu saí sem me despedir; naquela hora me senti culpado. — Ele explica e depois de um tempo continua.
— Eu fui ao Club Dell’Ângelo com uma amiga. E bem... esqueci meu carro. — Ele fala, mas eu bem sei o que acontece naquele lugar; só coisas pecaminosas. Imagino o que ele foi fazer lá com uma amiga, e nem consigo encará-lo. Pessoas como Dario só procuram mulheres lindas, brancas e endinheiradas para se divertirem.
— Quando eu voltei para buscar minha picape, fui atropelado. — Eu olhei para ele preocupada, e ele solta uma risadinha.
— Por você. — Ele completa, e eu sorrio.
— Seu bobo, me assustou. — Ele balança a cabeça e então continua seu caminho.
— Se você não tivesse me atropelado, como você voltaria para casa? — Sua pergunta me pega desprevenida, e eu penso por um momento.
— Não sei, eu teria que vir a pé ou chamar um Uber.  — Dou de ombros.
— Você não tem medo? — Ele sonda, e então sou sincera.
— Eu morro de medo, Dario. Principalmente quando saio muito tarde e vou para o ponto de ônibus ou quando desço para ir para casa, tem alguns terrenos baldios, cheios de mato muito escuro o que me deixa em pânico. Mas essa é a vida né. — Dou de ombros.
— Ninguém espera por você no ponto de ônibus não?
— Quem me dera ter alguém para me esperar. Mas já me acostumei; apenas uma vez fui abordada, e mesmo assim estava perto de casa e consegui correr. — Conto sem entrar em detalhes. A verdade é que um dos amigos do Jorge me abordou; eu acredito que a pedido dele. E tive que gritar, e ele veio como meu salvador. Me abraçou, me apalpou, e foi naquele dia que aceitei o pedido de namoro de Claudio. Se eu tivesse pelo menos uma figura masculina do meu lado, Jorge não tentaria mais nada, e assim aconteceu. Eu levava Cláudio comigo para casa, e meu padrasto se comportava. Isso durou alguns meses, vários meses sem assédio do meu padrasto, mas com as investidas de Cláudio.  
Logo passamos perto do terreno que eu estava comentando; a iluminação aqui é escassa, então está um breu até chegar à minha casa.

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