DARIO MARTINELLI
Eu sabia que a reunião com meus pais no Rivera seria difícil, tinha o plano de revelar algumas coisas do meu passado a eles e a Alana. Queria de alguma forma sentir um pouco de alívio, compartilhar meus pecados e as dores que trago no peito, deixar que eles vissem como sou quebrado em fragmentos. Mal dormi todos esses dias, atormentado pelo passado que estava vindo cobrar seu preço, me punindo e arrancando de mim o que sobrou de bom, me deixando nu, perdido, abatido e sem recuperação.
A reunião na empresa de Agenor foi bem-sucedida e todos do Conselho aceitaram a mudança de CEO, mesmo Agenor detendo trinta e cinco por cento das ações, teve o voto vencido. Vão nomear outro CEO em breve. Agenor ameaçou me destruir, como eu o destruí a ele e a filha. Não imaginava que seria tão logo que eu colocasse os pés no Rivera, não tinha ideia que Carina viria, que ela traria o meu inferno pessoal à terra. E eu permiti. Estou tão cansado de lutar contra o mundo, a dor que aflige minha alma, que flagela meu ser, é demais para carregar sozinho. Estou vendo a hora em que vou desistir da vida. Sabe quando carregamos o peso do mundo? Quando resolvemos todos os problemas das pessoas à nossa volta, menos o nosso? É assim que me sinto. Negligenciado, a dor castiga, oprime, mina e extermina qualquer felicidade, esperança ou amor. Nesse momento, me sinto morto, nada que ela diga pode me quebrar mais do que já estou. Já não me sinto vivo há alguns dias, a dor já tomou todo o espaço. O vazio que antes havia sido extinto pela presença e vivacidade de Alana, voltou a reinar no meu peito, me derrubando, trazendo o oco que dominava minha existência novamente à tona.
— Como assim, o filho de vocês? — pergunta minha mãe, e eu sorrio amargurado.
— Carina trepou com cinco caras diferentes naquela noite, igual uma prostituta barata de esquina, e teve a capacidade de dizer que o filho era meu. Me chantageou, querendo que eu me casasse com ela. Ela queria que fôssemos uma família. Que eu aceitasse suas imposições calado, que eu fosse um capacho dela por um filho que eu nem tinha ideia se poderia mesmo ser meu. — A risada sombria que escapa dos meus lábios é quebrada pelo grito de Carina.
— Foi isso que ele me disse. Por isso perdemos nosso filho. Você me chamou de prostituta barata, de putinha arrombada, me xingou de porca, de vagabunda que nunca teria um filho bastardo com uma mulher como eu, que se entregava a qualquer um que tivesse pau. Ele, Ana, desejou que o bebê nascesse morto, gritou que se eu aparecesse com um filho na frente dele, me mataria. Que a criança era filho de todo mundo. — Carina parecia transtornada, a pupila dilatada deixava claro que tinha se drogado. Eu pouco me importava com suas palavras, até ela acionar meus gatilhos.
— Eu bebi por dias seguidos e ligava pra ele, e todo dia eram as mesmas respostas. Vagabunda, prostituta, golpista. Perguntava se o filho era de um dos muitos drogados com quem eu havia sido compartilhada naquele dia. As ofensas eram constantes. Decidida a dar um basta naquela tortura, eu filmei quando estava prestes a cometer uma loucura e enviei para ele, que viu que estava transtornada e começou a tentar me convencer a não fazer nenhuma besteira. — Eu fecho meus olhos, as imagens tão vívidas em minha mente, me destruindo.
— Por favor, pare! — Peço em um sussurro dolorido que rasga minha garganta. E, por pura maldade, ela narra os detalhes que me assombram. Eu me encolho em uma bolha e as lágrimas descem ao ser acusado. É como se eu fosse teletransportado para aquele dia, posso rever cada detalhe daquele maldito dia em minha mente.
— Não aguenta a verdade, não é, Dario? Ele foi o culpado por eu ter perdido meu bebê. Eu já não aguentava mais ser rejeitada, não me dei conta de que havia extrapolado, e o aborto foi provocado quando eu estava discutindo com Dario e caí. Ele estava em BH, correu para minha casa, ao me ver implorou por ajuda, mas não pôde salvar nosso filho. Eu o perdi, tive uma parada cardíaca, eu morri e voltei à vida, a dor era agonizante, a perda do meu bebê me destroçou, até hoje tenho pesadelos com aquela dor, com o meu bebezinho, por culpa dele, esse assassino. Você é um monstro, Dario. — As lágrimas que ela derrama a levam ao chão, Thiago a ampara, beijando seus cabelos. E tudo que consigo lembrar são seus gritos, as acusações, a dor em seus olhos perdidos e vazios, o sangue que saía sem parar, o bebezinho, meu desespero, o cheiro de morte. Minha cabeça dói, os gritos me assombram, meu desespero é gritante e tão vivido, eu não sabia que alguém estava gritando até perceber que os gritos eram meus, tão dolorosos que rasgavam minha garganta e me destruíam um pouco mais. Meu passado veio à tona, a dor crua de minha alma sendo dilacerada, a acusação cria um eco ensurdecedor que ressoa em minha alma e mente, as cenas se repetem sem parar, me enlouquecendo sem alívio algum, me levando à insanidade. Eu estou enlouquecendo, precisando de ar, parece que vou morrer... eu sinto a morte me buscando, prefiro ela para assim não sentir mais esse caos que me domina, essa opressão que me devora e dilacera.
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uma farsa com o milionário
Romance○ Slow Burn ○ Friend To Love ○ Fake Date ○ Mocinho Protetor ○ Mocinho quebrado Dario Martinelli, aos 28 anos, é um homem de negócios bem-sucedido que acreditava ter toda sua vida planejada milimetricamente. Metódico, imaginava ter tudo sob controle...