DARIO MARTINELLIALGUNS DIAS DEPOIS
Cinco dias em Belo Horizonte, cinco dias desde que tive Alana em meus braços por apenas dez minutos, cinco dias que a beijei, que senti seu cheiro, seus lábios, suas lágrimas, cinco dias em que meu peito está em paz, e tenho a certeza de que tudo ficará bem, mesmo à distância. Sei que ela me ama, e eu a amo. Nesses cinco dias, fui ao estúdio de tatuagem, onde estava terminando a tatuagem do leão em minhas costas. Decidi que, depois de superar as dores do passado, os traumas, os gatilhos, os fantasmas, eu deveria completar a arte. Não sou mais um homem incompleto; a dualidade que disputava espaço dentro de mim não existe mais. A incompletude que dominava minha vida, onde só habitava o caos, a destruição e a dor, não tem mais lugar. Resolvi-me internamente, superei meus demônios, meus medos. Hoje, existem apenas as cicatrizes, as marcas de um passado conturbado, banhado de turbulências e tempestades. Consultei um terapeuta amigo duas vezes desde que estou aqui. Acredito que preciso de ajuda para superar todos os traumas que enfrentei. Minha alma e meu coração se partiram em tantos pedaços que a dor me fez refém por tanto tempo. É difícil seguir em frente sem sentir medo, sem duvidar que nada mais vai fugir do meu controle, que vou conseguir seguir sem o desejo opressor de recorrer à bebida cada vez que algo não sair como eu queira. É difícil entender que precisamos de ajuda, que isso não é ser fraco, e sim buscar evolução. Quero ser melhor por Alana, por minha família, quero ser o meu melhor por mim. Sofri demais, compliquei minha vida a ponto de quase me perder por completo. Meu amigo terapeuta disse que pessoas intensas tendem a se perder e se machucar com mais facilidade, que a intensidade em si não é um problema, mas agir por impulso em um momento de extrema dor e desolação pode nos colocar em apuros ou destruir nossas vidas. Quero aprender a controlar meus impulsos, preciso abandonar todo o ódio que sentia por minha família, por meu irmão e até mesmo por Carina, que tanto me feriu.
— Chegamos. — Anuncia Caetano, tirando-me das minhas reflexões.
— Não vai entrar comigo? — Pergunto um tanto incomodado.
— Vou, mas ficarei te esperando perto das pistas. Você sabe que adoro assistir ao treinamento dos cavalos. — Concordo com a cabeça, respiro fundo e saio do carro. Olho para a imensidão da pastagem e as várias pistas de treinamento, os celeiros que para eles são estábulos com baias. Me perco encarando o local lotado por cavalos, sem perceber a baixinha se aproximando de mim.
— Está estranhando o lugar, não é? — perguntou baixinho, e pela primeira vez eu sorri livre ao ver Eloá.
— Como está a gravidinha mais linda que eu conheço? — abri os braços para que ela me abraçasse, e foi um abraço libertador e ao mesmo tempo de novos laços. Ouvi Eloá fungar e beijei seus cabelos.
— Você voltou! — constatou baixinho.
— Claro que voltei, sou seu melhor amigo de todos os tempos, esqueceu? — Eloá agarrou minha camisa e continuou a chorar copiosamente.
— Espero que essas lágrimas sejam de felicidade. — comentei sorrindo, tentando acalmá-la, e ela concordou com a cabeça.
— Sim, estou muito feliz. Não imagina como senti sua falta, Dario. Eu... — ela ergueu a cabeça e tocou em minha barba, sorrindo um sorriso tão lindo e sincero.
— Eu me culpava, me sentia mal, triste e um tanto quanto revoltada por ter perdido você. — explicou, e eu a segui para o lounge mais próximo, onde nos sentamos em um sofá e eu esperei que ela desabafasse, como sempre acontecia entre nós.
— Preciso que me perdoe, Dario.
— Já perdoei, Eloá. Levou um tempo para o perdão vir, mas ele veio. Depois que conheci Alana, ela virou minha vida do avesso. Você a conheceu. Sabe que ela tem um jeitinho espontâneo, sem papas na língua. Aquela menina conseguiu me tirar da minha zona de conforto e me levar para um outro mundo. — confessei sorrindo ao lembrar de tudo o que fizemos.
— Por Alana, andei de ônibus, fui fazer compras em um supermercado lotado, onde tive que aprender a escolher alimentos por marcas. Fui a uma loja de móveis, dormi em sua cama de solteiro. Fui tão feliz na simplicidade, e acredito que era isso que me faltava: humildade. Eu nunca fui humilde; era um cara extremamente arrogante e nariz em pé. — Eloá gargalhou.
— Não tem como negar, Dario, você era muito metido a riquinho. Lembro que uma vez jogou um tênis fora por causa de uma pequena mancha que não saía. — comentou sorrindo.
— Sim, era extremamente arrogante, nunca liguei para preço ou coisas do tipo. — concordei com ela.
— Preço? Você nunca comprou uma bala, que eu sei. Lembra quando foi comigo a uma competição de hipismo e queria uma área VIP para ficar sozinho sem ser incomodado? — gargalhou ao lembrar.
— Você amou a área VIP que aluguei, deitou com as pernas para cima logo depois que terminou as competições, dizendo que estava exausta.
— Claro, recebi uma massagem maravilhosa nos meus pés. — confessou, erguendo as sobrancelhas.
— Não tem vergonha de lembrar que me obrigou a pegar em seus pés para fazer uma massagem? — ela negou com a cabeça, gargalhando. Fitei a paisagem à minha frente, com alguns funcionários andando de um lado para o outro, enquanto algumas crianças saíam atrás do que acredito ser professores.
— Você realizou mesmo seu sonho, não é? — perguntei, encarando-a, e ela encostou a cabeça em meu ombro, suspirando feliz.
— Seu irmão que realizou meu sonho. Ele que me deu essa enorme hípica que trouxe o campo para a cidade grande, que me faz feliz até mesmo quando está triste. — confessou baixinho.
— E por que ele está triste? — ela ficou em silêncio por tanto tempo que eu desci meu rosto para pairar perto do dela, a fim de obter a resposta. Ela encarou meus olhos, e vi dúvidas e tristeza neles.
— O que está acontecendo, baixinha? — insisti, e ela suspirou triste, começando a mover a mão de um lado para o outro. Toquei suas mãos para acalmá-la, e então ela confessou.
— Eu acho que são os hormônios da gravidez, eu... eu... — ela cobriu o rosto e começou a chorar, e eu fiquei preocupado.
— Ei... o que está acontecendo, Eloá?
— Estava confusa com os meus sentimentos. Acabei dizendo a Corrado que poderia amar você. Ele ficou tão magoado comigo, Dario, e mesmo assim, não deixou de cuidar de mim. Fazia massagem nos meus pés, me cobria para dormir, mas não me tocou mais, e isso está me matando. Porque eu só estava confusa, e amar você não significa que não o amo com tudo que tenho. Corrado é tudo para mim. — desabafou desesperada. Foi Corrado quem me pediu para vir aqui, ele disse que eu precisava me resolver com Eloá, e que o que decidíssemos, ele aceitaria. Nunca vi meu irmão tão quebrado e com tanto medo, nem mesmo quando perdeu Manu. Ele estava entre quebrado e conformado, e por um momento gostei de vê-lo perdido, mas o momento foi tão breve que na mesma hora o assegurei de que ele estava sofrendo por nada. Levantei-me, coloquei-me à frente de Eloá, abaixei-me e procurei por seus olhos.
— Quando te conheci, você tinha dezesseis anos e eu estava para fazer 20. Nossa amizade improvável nasceu e foi crescendo com o passar dos anos, até que você fez 18 anos e tive que me afastar para estudar. Sempre que dava, nos víamos, ficávamos juntos, dormíamos juntos, aprontávamos juntos. Nós nos beijamos no seu aniversário de 19 anos, lembra? E ficamos um tanto assustados. Depois, repetimos os beijos por mais algum tempo, mesmo que sem rótulos. Fomos felizes pelos breves momentos que tivemos, Eloá. — afirmei sorrindo, segurando suas mãos nas minhas.
— Sim, fomos. Eu amava as coisas que fazíamos juntos. Você foi meu primeiro beijo. — falou baixinho, e eu sorri com sua confidência. Então, fiquei sério.
— São lembranças que devem permanecer no passado, assim como tantas outras que compartilhamos. Ambos escolhemos seguir em frente com pessoas maravilhosas que nos amam incondicionalmente. Meu irmão turrão e ogro, ele a ama com todo o ser dele, e vou te confessar uma coisa: ele não é um cara apaixonável, não viu? — ela gargalhou e limpou as lágrimas.
— E digo mais, não se deve nem cogitar em largar o futuro presidente do grupo empresarial Martinelli. Seria uma loucura sem tamanho, não é?
— Você sabe que é muito idiota? — eu gargalhei alto.
— Sim, sim. Alana me chama disso todos os dias. — respondi saudoso.
— Você a ama mesmo, não é? — perguntou sorrindo.
— Com cada pedacinho quebrado que tenho em mim, aquela menina conseguiu me render aos pés dela sem esforço algum. — encarei Eloá e passei minhas mãos por seu rosto.
— Assim como meu irmão se rendeu por você. Então, Eloá, trate de desfazer esse mal entendido. E se declare para aquele homenzarrão como o único amor de sua vida. Porque não tenho dúvida alguma de que você o ama com toda essa minialtura sua. Você pode não se lembrar, mas fez um discurso danado de grande de amor por ele quando eu disse que te amava. Disse que amava Corrado acima de tudo, que o amor de vocês era forte e inabalável. — expliquei, recordando daquela noite.
— O amor que temos um pelo outro é de amigos irmãos, é um amor saudável, um amor que não vai embora, pois agora somos cunhados, quase irmãos. Mas o que você sente por seu marido é diferente, não acha? — ela confirma com a cabeça, e vejo meu irmão saindo de dentro da casa deles e mandando eu ficar calado. Eu espero Eloá se declarar para esse homem inseguro que precisa ter o ego preenchido.
— Corrado é o homem da minha vida, meu ogro fofinho, o pai do meu filho Bernardo e de tantos outros que eu quero ter com ele. E não tem nada a ver com o título de presidente que ele vai possuir, e sim pelo que sou quando estou com ele. Eu sou feliz, sou tratada como a princesa dele, e ele é meu príncipe. Eu amo aquele homem com tudo de mim, eu abri mão da minha vida no Vale do Café para ficar pertinho dele, aqui onde é meu lugar. Eu amo meu marido, eu amo Corrado Martinelli! Ai meu Deus! Eu amo ele, Dario! Eu amo Corrado! — eu gargalho e me levanto sorrindo.
— Claro que você ama ele, sua baixinha louca. Você casou com ele por isso.
— Sim, eu preciso contar a ele que o amo de todo meu coração, eu o amo agora e para todo sempre. — ela se levanta e leva um susto quando vê Corrado atrás dela.
— Eu sei que você me ama, meu amor. Só estava esperando você perceber isso. — Eloá começa a chorar sem parar, e eu sorrio orgulhoso quando meu irmão a pega nos braços e olha para mim em gratidão.
— Eu te amo tanto, Corrado. Vou dizer que te amo até você se cansar de ouvir. E não quero mais essa greve de sexo, eu quero você agora. — eu saio gargalhando do lounge e encontro Caetano, que me olha com orgulho, e seguimos para o nosso carro.
— Como está se sentindo? — pergunta curioso. Eu olho uma última vez para a casa do meu irmão e sorrio.
— Feliz, realizado e pronto para buscar meu raio de sol, e dessa vez, definitivamente. — já não me resta dúvida alguma de que Alana é a mulher da minha vida. Ela é a minha pessoa especial.
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uma farsa com o milionário
Romance○ Slow Burn ○ Friend To Love ○ Fake Date ○ Mocinho Protetor ○ Mocinho quebrado Dario Martinelli, aos 28 anos, é um homem de negócios bem-sucedido que acreditava ter toda sua vida planejada milimetricamente. Metódico, imaginava ter tudo sob controle...