CAPÍTULO 83

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           DARIO MARTINELLI


Alana me faz cometer loucuras. Eu tive que implorar aos meus irmãos pelo helicóptero, pois o mesmo estava prestes a ser usado. Eu só retornaria para casa na manhã seguinte. Graças a Deus e à compreensão dos meus irmãos e do piloto, foi possível chegar a tempo de levar minha bêbada para casa em segurança. O tal Marlon não queria que eu a levasse para minha cobertura, então tive que permitir que ele viesse conosco em seu carro. Ouvi metade da conversa de Alana com Cláudio e gostei de ver como minha Alana agora possui voz e defende suas próprias convicções. Ela está forte e pronta para seguir em frente, deixando-me muito orgulhoso. Alana adormeceu em meus braços, e Caetano teve que levar meu carro para mim, com Fernanda no banco do passageiro.
— Qual é a do irmão de Alana, Fernanda? — Pergunto um tanto incomodado.
— Não sei... Mas acho que ele está fazendo o mesmo que o pai, só querendo recuperar o tempo perdido, proteger a irmã, cuidar dela, sabe? Pelo que vejo, desde que eles se aproximaram de Alana, eles querem de alguma forma suprir a falta que fizeram em sua vida. Alana sofreu demais nessa vida, Dario, e o alívio que você trouxe para a vida dela não tem nem nota, assim como a presença do pai e do irmão está fazendo bem a ela. Ela está se sentindo segura, amada, não tem mais medo de toques dele. Alana se renovou. — Fico em silêncio, refletindo nas palavras de Fernanda. Sou grato por ter Alana em minha vida; meu raio de sol me trouxe a vida. Os dois não quiseram entrar e ficaram com meu carro. Caetano me entregaria amanhã, e eu tinha outro aqui de qualquer forma. Assim que liberei a entrada do irmão de Alana, segui com ela para o elevador. O irmão dela me acompanhou em silêncio. Quando chegamos à cobertura, ele soltou um assobio.
— Puta que pariu, mermão, essa é uma senhora cobertura.
— Fique à vontade. Vou deitar essa dorminhoca e já volto para conversarmos. — Deixei-o na sala e segui para meu quarto. Deitei-a em nossa cama, retirei seus calçados e beijei sua testa.
— Durma bem, meu raio de sol. — Cobri seu corpo com a manta que ela gostava de dormir, saí do quarto deixando a porta entreaberta e segui para a sala, onde encontrei o irmão dela olhando para a janela.
— Aceita algo para beber? — Ele negou com a cabeça e continuou de costas para mim.
— Meu pai me enviou aqui depois de descobrir que vocês tinham terminado. Ele ficou muito preocupado com Alana. — Explicou, parecendo um tanto perturbado. Eu me sentei em uma das poltronas e esperei que ele continuasse.
— Meu pai se culpa por não ter participado da vida de Alana nesses mais de vinte e quatro anos. Tudo que minha irmã passou, a dor que ela sentiu, o tanto que ela se esforçou para trabalhar em prol da saúde da mãe dela, tudo que precisou suportar... Nós todos nós culpamos. — Ele colocou as mãos no bolso de sua calça jeans, estava com regata, tênis e cheio de cordões de ouro. A corrente do cordão era tão grossa que achei um exagero. Ele tinha um Rolex, o que demonstrava que ele devia participar das operações do pai.
— E tudo que queremos é protegê-la, seja de quem for. — A ameaça é velada em suas palavras, a voz baixa, fria e calculada.
— Você deve imaginar o que fazemos no Rio de Janeiro... — Deixa pairando no ar e vira de frente para mim, o olhar dele frio, a postura arrogante e confiante. Eu continuo na poltrona, sem demonstrar nenhuma reação.
— Sim, posso imaginar. 
— Então... meu pai me pediu para passar um recado... — Ele se aproxima de mim, bem perto, e eu continuo onde estou, não deixando que ele me intimide.
— Da próxima vez que você fizer minha irmã chorar, ele virá pessoalmente e cortará seus dedos. Ele disse que será gentil o suficiente para deixar você escolher quais ele irá arrancar fora. — Suas palavras são duras e desafiadoras. Eu olho para ele com a sobrancelha arqueada.
— Não quero que nos leve a mal. Acontece que nós protegemos os nossos, e meu pai demorou tempo demais para encontrar a filha que ele tanto ama para deixar um engomadinho qualquer machucá-la. — Ele deixa explícitas as ameaças, e eu apenas meneio a cabeça.
— Não vou levar a mal suas ameaças, pois entendo a preocupação de vocês quanto a Alana. Eu faria o mesmo. Eu amo Alana e nunca tive a intenção de magoá-la. Ela é a mulher da minha vida, a mulher com quem pretendo construir uma família, se for o que ela também desejar. E antes mesmo de ter qualquer interesse em Alana, fiz da minha missão protegê-la. Sei que errei ao esconder meu passado dela, mas em momento algum desrespeitei ou a magoei de forma intencional. — Ele concorda com a cabeça e bate sua mão em meu ombro.
— Bom, muito bom. Continue pensando assim e terá em nós um aliado. Só vim aqui para passar esse recado. Deixe minha irmã ir para casa na segunda, preciso me despedir dela. Eu e meu pai tínhamos a certeza de que vocês voltariam a qualquer momento e precisávamos deixar um aviso. — Ele vai seguindo para a porta de entrada, mas antes ele para.
— Foi bom te conhecer, cunhado. Espero que nos convide para o casamento. — Ele sai sorrindo, e eu o acompanho e fecho a porta atrás dele, deixando escapar um sorriso aliviado. Um sorriso de alívio, contente por saber que Alana tem pessoas que se importam com ela e com seu bem-estar. Sigo para o banheiro, tomo um longo banho, visto apenas uma bermuda e sigo para minha cama, onde está meu raio de sol, o amor da minha vida. Eu me deito na cama e a puxo para meus braços, o lugar do qual ela não deveria ter saído.

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