ALANA REIS
Minha mãe continua respondendo bem ao tratamento, e com a doença em remissão, está cada dia mais ativa, o que me enche de orgulho. Trabalhando no turno do dia, tenho bastante tempo para curtir minha mãezinha. Ela ainda está dando um gelo em Jorge, que estava tratando-a como uma rainha enquanto trabalhava e não estava bebendo. Minha mãezinha começava a amolecer, e eu tinha medo de quando ele conseguisse a confiança dela novamente. Sabe quando a pessoa faz algo errado, aí tenta consertar, mas assim que consegue, não tem o mesmo cuidado? E o que sempre acontece. Vivian continua de castigo; eu a vejo pouco. Quando não estou trabalhando, invento algo para fazer, mantendo-me longe dela.
Hoje, recebi uma ligação de Jonas dizendo que uma família muito importante iria jantar no Executive Rivera Dining, e a remuneração seria muito boa. Recebi este mês e me assustei com a quantia. Tenho carteira assinada, e imagina a surpresa quando recebi quase quatro mil reais? Escondi dois mil reais e só usei os quase dois mil para pagar as contas de casa e os medicamentos da mãezinha. A luz, água e internet ficaram para Jorge pagar. E ainda sobrou uma graninha para eu sair por aí, lanchar ou sei lá, arrumar o cabelo; ainda não pensei no que fazer. Mas estou muito grata pelo meu salário, e aceitei trabalhar hoje, mesmo sendo sábado. O que me deixa um pouco feliz é saber que Fê e Jessica estarão por lá também.
Depois de organizar a cozinha, sigo para meu quarto, tomo um belo banho e me visto. Ousada por saber que meu padrasto está andando na linha, resolvo vestir uma calça preta de cintura alta e um cropped preto de renda. Passo um batom vermelho, meus cabelos estão soltos, cacheados e volumosos, e me sinto linda. Passo um pouco de perfume e estou pronta. Eu sei que não vou vê-lo. Mas quem sabe? Eu desejo vê-lo, faz tantos dias. Sei que pareço uma iludida, mas o cheiro do perfume de Dario ainda permanece em mim; ainda ouço sua voz. Não dá para esquecer seus olhos. Eu mordo minha boca e sorrio; ele é tão lindo. Eu sei que não posso me iludir, mas olhar para ele não custa nada. Meu consciente grita: “Vai custar seu coração.” Mas e se eu disser que vale a pena o risco? Limpo minha mente, pego minha bolsa e saio do meu quarto, dando de cara com mãezinha.
— Você está tão linda e feliz. O brilho dos seus olhos está tão vivo. Isso tem alguma coisa a ver com o moço que traz você para casa aos fins de semana? — Eu pego suas mãos e sento com ela no sofá da sala. Eu nunca escondi nada da mãezinha, não quanto à minha vida particular. Só escondo coisas que sei que vão destruí-la para sempre, e não quero isso para mãezinha.
— Ele é um dos filhos dos Martinelli, mãezinha. — Ela me olha com surpresa e depois uma pontada de tristeza.
— Eu sei o que a senhora está pensando, mãezinha. E ele é só um amigo, eu sei o meu lugar. — Engulo a vontade de chorar que vem e disperso as lágrimas dos meus olhos antes de olhar para ela.
— Por que parece que você já gosta dele, filha? — Ela pergunta com carinho.
— As vezes, mãezinha... tudo que eu queria era que alguém me notasse, sabe? Que me vissem... — Eu dou de ombros.
— Eu canso de ter que matar todos meus leões sozinha. — Minha voz embarga.
— Dario foi maravilhoso comigo, mãezinha. Uma mulher me humilhou, me chamando de preta imunda, e me insultou tanto, eu tive que ouvir tudo calada. — Minha mãe se levanta em um rompante. Cheguei a temer que ela sentisse alguma dor; seu rosto estava vermelho.
— Por que não me contou? — Ela pergunta com a voz carregada de raiva.
— A senhora estava doente, mãezinha. Por um momento, pensei que perderia meu emprego. Mas Dario Martinelli interveio e falou com Ângelo, que expulsou a mulher do restaurante e queria que eu movesse uma ação de injúria racial contra a pessoa, mas eu não quis ir para frente com o processo.— Ela me abraça, e esse abraço me acolhe tanto. Às vezes, eu me canso de ser forte o tempo todo. É tão bom ter alguém a quem eu possa receber apoio, que possa me ouvir chorar e desabafar, mesmo que mãezinha nem sempre esteja disponível.
— Eu só quero respeito, mãezinha, mas nada. Eu não preciso ter uma guerra na justiça por algo que o ser humano deveria nascer tendo, respeito é algo tão simples. Não pedimos muito. Eu sou preta com muito orgulho, e não são comentários ofensivos de pessoas maldosas que vão me parar ou me jogar pra baixo. — Falo algo que estava entalado em minha garganta há tempos.
— Você está certa, filha. E eu morro de orgulho de você, da sua garra e força. Eu criei uma mulher forte, resiliente e que não desiste no primeiro obstáculo. Você vai ser muito feliz ainda, filha, e vai ter tudo o que você quiser. — Eu abraço mãezinha emocionada.
— Obrigada, mãezinha. — Ela afaga meus cabelos.
— Só tome cuidado com seu coraçãozinho, tá bom? — Ela toca minha bochecha com carinho e olhando nos meus olhos diz: — Um coração partido às vezes nos leva ao fundo do poço, filha. — Eu desvio o olhar.
— E nós duas sabemos que você nunca amou Claudio. — Eu olho para ela de olhos arregalados.
— Como... co-mo...
— Seus olhos, filha, eles nunca mentem. Você é tão transparente. Eu nunca vi eles brilharem por Cláudio, nem você sorri ao lembrar dele ou quando ele vinha aqui em casa parecia mais uma obrigação. — Eu me afasto de mãezinha e me recomponho.
— Vou indo, mãezinha, não quero me atrasar. — Ela sorri e me acompanha até a porta.
— Esperarei você chegar, filha. E cuidado. — Eu saio de casa feliz. Eu amo a amizade que tenho com minha mãe. Ela me faz sentir amada, cuidada. Às vezes, esqueço como é bom um colo de mãe. Não ter que guardar tudo para mim, mesmo que eu tenha meus segredos, traumas e medos, eu nunca deixei que isso me consumisse e me transformasse em uma pessoa fria e revoltada com a vida. Pelo contrário, só me ensinou a ser forte, a seguir em frente com a cabeça erguida.
Depois de uma viagem cansativa de ônibus e alguns minutos de caminhada, chego ao restaurante e visto meu uniforme. Prendo meus cachos rebeldes em uma touca e vou ao encontro da equipe de limpeza. Quando Jonas distribui as tarefas por dupla, ele nos despacha para o terceiro andar. E todas nós fazemos as limpezas, enquanto a equipe de serviço monta as mesas, deixando os cardápios e os guardanapos de modo impecável na mesa.
— Eu acho que isso é um luxo do qual nunca irei desfrutar. — Comento com Fernanda enquanto estamos limpando o mármore do piso, que parece mais um espelho de tão brilhante que está.
— Desfrutar do quê, Lana? — Pergunta curiosa.
— Um jantar assim. Eu acredito que nunca vou saber como é. Você não tem curiosidade, Fê? — Pergunto enquanto limpo a poeira de um enorme espelho com adornos de ouro.
— De sentar em um lugar luxuoso como este e pedir qualquer coisa que estiver no cardápio sem se importar com o preço? — Pergunto a ela, que se aproxima do espelho encarando sua imagem, seus cabelos negros dentro da touca, sua pele branca com algumas sardinhas e seus olhos verdes.
— Eu já sonhei em tomar pelo menos um cafezinho aqui. Mas depois que eu olhei o valor de uma xícara de café, eu desisti. — Ela chega perto o bastante de mim e confessa: — Eu acredito que uma quinzena nossa não paga um almoço nesse lugar, Lana. — Eu olho para ela assustada.
— Sério? — Cochicho. Ela confirma com a cabeça.
— Pelo que Jéssica me contou. Só a água que eles servem aqui é de uma marca que custa 50 reais o litro. — Eu cubro minha boca.
— Mentira! — Ela nega com a cabeça.
— Pior que não. Tudo aqui tem um valor muito alto, amiga. Não é à toa que eles nos pagam bem. — Eu tenho que concordar, e voltamos para o que estávamos fazendo. Depois de deixarmos o salão de jantar, descemos pela área de serviço e ficamos a postos, esperando novas ordens. Enquanto isso, fico sentada observando a equipe de serviço se apressar na cozinha.
— Qual família tão importante irá jantar aqui para fazerem tanto alvoroço em? — Pergunta Fê, e é Jonas quem a responde, entrando na sala e pegando todas nós sentadas.
— É uma das famílias mais influentes do estado. Dizem as más bocas que eles já possuem quase metade de toda a cidade de Albuquerque, sem falar na cidade de origem deles. O Executive Rivera Dining vai receber o senhor Francesco Martinelli e família. Dizem que ele virá com todos os filhos, noras e a netinha. — Meu coração perde o compasso ao ouvir o sobrenome Martinelli; isso quer dizer que eu poderei vê-lo. Uma agitação enorme toma meu corpo, e sinto minhas pernas querendo ficar trêmulas. Eu tento me recompor, mas Fê percebe minha agitação e aperta minha mão. E assim se passam as horas, com todas nós correndo contra o tempo para a chegada dos Martinelli.
A família do Senhor Francesco chegou às nove e meia da noite. Eu não pude vê-los, mas os comentários das meninas da equipe de serviço foram que nunca viram tantos homens bonitos, poderosos e imponentes em um lugar só. Elas se abanaram e até soltaram piadinhas sobre quais deles teriam coragem de dar. A resposta foi “TODOS”. Quando fomos chamadas ao terceiro andar, eu tentei manter minha respiração calma e não deixar transparecer minha inquietação. Assim que chegamos ao terceiro andar, vejo Dario e meu coração dispara; tantos dias sem vê-lo, sem ouvir sua voz. Ele estava lindo em uma roupa social, camisa e calça de alfaiataria pretas, os sapatos brilhavam, os cabelos perfeitamente penteados para trás davam a ele um ar sério de homem de negócios. A barba por fazer estava tão rente ao rosto que quase não era perceptível. Seu rosto estava sério, duro, as mãos no bolso, ouvindo atentamente o que, acredito eu, seu pai dizia. Como se estivéssemos ligados por pensamentos, ele direciona seu olhar para o meu. O que me deixa um tanto atordoada é que ele não sorri, continua me olhando com o semblante fechado e sério, como se não me conhecesse, como se eu não fosse ninguém.
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uma farsa com o milionário
عاطفية○ Slow Burn ○ Friend To Love ○ Fake Date ○ Mocinho Protetor ○ Mocinho quebrado Dario Martinelli, aos 28 anos, é um homem de negócios bem-sucedido que acreditava ter toda sua vida planejada milimetricamente. Metódico, imaginava ter tudo sob controle...