CAPÍTULO 75

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                 DARIO MARTINELLI

Alana estava com o olhar vazio, as expressões que até então eu conhecia todas em seu rosto haviam sumido, ela estava tão perdida quanto eu. E sabia que Carina iria destruí-la e nada eu podia fazer.

— Lembra do jantar de negócios no Rivera, onde todos estavam presentes e Eloá convidou Dario para uma surpresa na hípica? Ele foi na surpresa e surtou ao descobrir que a cunhadinha estava grávida. Ele quebrou o celular e a casa, ele te ignorou, Alana, por semanas, por puro despeito e ódio de ter a confirmação de que não teria a cunhada nunca mais, que ele a havia perdido para sempre. Que feio, Dario. Até mesmo com o irmão casado com a mulher, ainda tinha esperança de tê-la. Você, Alana, nunca foi especial. Ele sempre a colocou em segundo plano na vida dele, nunca foi sincero com você, sempre com mentiras e segredos, ele nunca a amou, nem a respeitou, você não tem vergonha na cara se continuar com ele. E você, Dario, só arrumou um brinquedinho, alguém para suprir um buraco pequeno que existia. A coitada caiu como um patinho. — Eu me levanto transtornado e avanço em Carina, meu pai, Corrado e Paolo me seguram, me empurrando contra a parede.

— Eu vou te matar, sua desgraçada! — A peste gargalha. Peço a meu pai que tire Carina da minha frente antes que eu a mate, e então Ângelo pede a seus seguranças que a levem e a tranquem em uma das salas. Eu, sem força e desnorteado, encosto em uma mesa de costas para Alana. E abro meu coração para todos ouvirem, sei que Alana nunca mais vai olhar para minha cara e que com certeza não terei outra oportunidade para me explicar, então terá que ser para todos ouvirem.

— Alana e eu vivemos muitos altos e baixos em nosso relacionamento. Eu iniciei a farsa do nosso relacionamento para protegê-la, deixando claro que seria platônico, sem envolvimento físico ou emocional. E em momento algum a iludi por querer. Eu fui errado sim em esconder o que pensava que sentia, mas nunca dei esperanças a você até ter a completa certeza de que poderíamos ter um futuro. Eu confesso que relutei quanto a isso, com medo de feri-la e me ferir. Mas aos poucos você foi me enredando em uma teia que foi tecida direto para meu coração. — Deixo as palavras saírem tão fácil e claras em minha mente como dia.  

— Foi um processo longo e doloroso... eu... — Paro de falar e olho para Corrado e Eloá, ambos me encaravam de maneiras diferentes: Corrado com vontade de me matar e Eloá com uma expressão estranha. — Eu demorei a ter a capacidade de nomear meus sentimentos. Eu pensava que amava Eloá, não vou ser hipócrita e negar. Meu pai uma vez me disse que eu criei uma idealização com ela, um sonho. E eu estava muito revoltado para aceitar que aquilo não passava de uma obsessão. Não vou mentir dizendo que não carreguei essa confusão no peito por muito tempo. Mas Alana, com seu jeitinho sincero, transparente, amoroso, sorridente e feliz, me mostrou o caminho certo. Ela me guiou na direção que levaria à resolução de toda a bagunça em que me encontrava. — Com muito custo, viro-me para Alana com medo do que iria encontrar, mas como sempre minha Alana é uma rocha inabalável. Ela me fitava com resiliência, por seu rosto passava tristeza, raiva, rancor, dor, amor e esperança.

— Não vou mentir para você, Alana. No dia em que fui na tal surpresa, eu me descontrolei, eu me senti novamente traído. O orgulho ferido levou a melhor, meu ego foi massacrado. Vou tentar colocar em palavras o que eu senti por todo esse tempo. — Respiro fundo e olho para Eloá.

— Quantos anos nos conhecemos, Eloá? Quantas coisas não compartilhamos juntos? Quantos planos? Uma vez você me disse que iria se casar comigo. Fizemos juramentos de que seria para sempre — Solto uma risada de escárnio amarga e um tanto ácida. Ela deixa algumas lágrimas caírem. Eloá lembra daquela noite, a noite em que nos beijamos, a noite em que nos tocamos de forma íntima. Claro que para todos foi um quase beijo, foi o segredo das nossas almas, assim como tantos outros, que escondemos e levaremos para o túmulo.

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