ALANA REIS
Não está sendo fácil seguir Dario até sua cobertura. Eu quis me negar a ficar a sós com ele, com medo de fraquejar, mas como dizer não a alguém que amamos loucamente? Eu não seria capaz de virar as costas para ele, pois ele nunca me virou as costas. Estou muito magoada; a dor perfura meu coração e me cega, mas eu preciso ser forte por nós dois. As lágrimas querem cair, o desespero quer tomar conta, mas me contenho. Não posso quebrar perto dele, pois ele é quem precisa de ajuda e consolo. Não percebo que chegamos até que ele estaciona o carro. Seu olhar está perdido, silencioso e ainda vazio.
Seguimos para o elevador, e quando chegamos ao hall de sua cobertura, ele deixa as chaves e o celular no aparador, tira os tênis e os deixa no cantinho. Ele caminha pelo corredor e vai direto ao bar que possui na sala de jantar, fazendo coisas corriqueiras que morrerei de saudades. Ele serve a bebida em um copo e a vira toda na boca, logo em seguida outra dose, e mais outra, e mais outra. As lágrimas pingam dos seus olhos, seu rosto fica vermelho, ele franze as sobrancelhas em pura dor e sofrimento. Então, ele se senta no chão com a garrafa nas mãos e a vira nos lábios. Assisti-lo se quebrar me quebra também. Ele coloca o braço em seu joelho, passa a mão por seus cabelos, toma outro gole e mais lágrimas. Ele bate a cabeça na parede uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Eu fico ali impotente. Quero me aproximar, mas não sei se é o que ele quer. Eu me encolho no sofá da sala e deixo que ele se quebre, que beba a sua dor em álcool. As lágrimas nunca cessam até que ele vai arremessar a garrafa vazia.
— Não faça isso, Dario. — Acredito que ele esqueceu que eu estava ali. Ele olha para mim sem foco algum, descansa a garrafa no chão e então esconde a cabeça em suas mãos.
— Carina fez um inferno da minha vida... ela e suas acusações de assassinato. — Ele solta uma risada sem humor, limpa os olhos com o braço e bate a cabeça na parede mais cinco vezes.
— Thiago a ama e atende seus caprichos. Ele me ligava sem parar por vários dias seguidos, e eu, com pena, culpa e remorso, ia até eles. Carina me obrigava a abraçá-la e reviver aquele dia. Eu me lembro de sua ligação desesperada, do sangramento, eu me lembro de pegá-la nos braços e ela gritar, e eu, achando que a machuquei, entrei em pânico. Eu liguei para a ambulância, para o hospital, para a polícia, até para o bombeiro. Eu estava sozinho com ela, tão perdido. Me senti um menino impotente, um fardo que veio nas minhas costas. No momento em que percebi que os lábios dela estavam ficando azuis, a cor tinha sumido de seu rosto. Eu me senti esquentar e esfriar, uma sudorese me abateu, e só percebi que a equipe de bombeiro com a equipe médica tinha entrado quando estava estabilizando Carina. Eu fui no automático para o hospital, foi no automático que permaneci ao lado dela por três infernais dias, sendo acusado de ter feito ela perder o bebê, mais um mês para sua recuperação. Sozinho, perdido, morto por dentro. — Narra perdido nas lembranças, parecendo que não estava aqui e sim naquele dia. De repente, suas feições mudam; ele fica entre perdido e angustiado para rancoroso e com ódio.
— Eu quase morri naquele beco. Eu havia usado tanta porcaria naquela noite que quase não senti golpe algum. Meu corpo só esquentou e me desliguei por completo. Eu nunca contei a ninguém. Mas eu sei quem me salvou da morte naquele dia. — Fala olhando para um quadro à sua frente, tão focado no quadro que mais parecia um portal para o passado. Ele fica em silêncio por vários minutos.
— Ângelo, ele estava lá. Ele lutou com quatro homens sozinho. Aquele homem tem uma fúria e uma força tão grande que nem eu mesmo compreendo. Ele me ergueu, olhou meus ferimentos, e naquele dia criamos um tipo de acordo de silêncio onde nenhum de nós dois tocou no assunto. Ele ficou comigo até que o pai de Carina chegasse; ela estava tão mais louca que eu que mal percebeu sua presença. — Outra risada ácida e amargurada.
— Sabe o que mais me machuca? Meus pais nem se deram conta dos meus ferimentos. Ninguém nunca percebeu como sou quebrado, como a dor e o sofrimento me moldaram em um vazio. — Assim que as palavras escapam de seus lábios, ele procura pelos meus olhos.
— Até você... — Revela, e eu seguro as lágrimas que querem descer.
— Você, meu raio de sol... você é minha tempestade, uma força da natureza que chegou levantando poeira e me fazendo embarcar em um sentimento completamente diferente de tudo que já senti. Um amor forte, sincero, verdadeiro. Um do qual eu temia que me conhecesse, que visse o meu pior e me deixasse, e de nada adiantou, não é? Você vai me abandonar de qualquer forma. Do que adiantou eu me esconder? Eu tentar de alguma forma te afastar da sujeira que era minha vida. — Explica, e eu me aproximo e me sento perto dele. Pego a garrafa, vejo que tinha um gole ali, viro na boca, e quando o álcool alcança minha língua, jogo fora, cuspido longe, e Dario solta a primeira risada dele no dia.
— Como você conseguiu beber uma garrafa de uma coisa ardente dessa, Dario? Isso está pinicando minha língua toda. — Tenho vontade de cuspir sem parar, mas tenho que engolir saliva; é péssimo o sabor. Dario sorri e se levanta cambaleante, vai à geladeira, pega uma garrafa de água, um copo, serve a água para mim, e me entrega.
— Obrigada. — Agradeço, tomando toda a água, e o encaro por tempo demais. Nossos olhos dizem tantas coisas, e eu choro. Ele me puxa para seus braços, e eu vou. Ele beija meus cabelos, e eu aspiro seu cheiro; encosto meu rosto em seu peito, e eu choro, choro alto.
— Não precisa ir. — Ele fala baixinho, e eu não tenho força para responder. Ele entende aquilo como uma resposta e se levanta comigo no colo, nos leva para o banheiro. Eu não me nego, retiro minha roupa, ele retira a dele, e tomamos banho juntos. Ele limpa meu corpo com a bucha, passando com cuidado, deixando alguns beijos no meu ombro. Eu passo a bucha em seu corpo, e depois de enxaguarmos e nos secarmos, vamos para o quarto. Ele me puxa para deitarmos e deitamos de roupão. Ele cobre nossas cabeças e se aproxima; ficamos assim por vários minutos.
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uma farsa com o milionário
Lãng mạn○ Slow Burn ○ Friend To Love ○ Fake Date ○ Mocinho Protetor ○ Mocinho quebrado Dario Martinelli, aos 28 anos, é um homem de negócios bem-sucedido que acreditava ter toda sua vida planejada milimetricamente. Metódico, imaginava ter tudo sob controle...