CAPÍTULO 72

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               DARIO MARTINELLI

             NO DIA SEGUINTE

Eu passei a noite em claro, nenhum de nós três dormiu. Carina estava muito revoltada e falava coisas desconexas. Chamamos o médico, ele a medicou e ela dormiu. Pediu para ela não tomar álcool de espécie nenhuma, ou os efeitos colaterais seriam terríveis. Thiago ficou encarregado de não deixá-la beber. Estou na sala de estar da casa de Agenor, o esperando. Eu fui à minha casa quando Carina adormeceu, tomei um banho e coloquei meu celular para carregar, mas a carga foi pouca e tive que deixá-lo carregando em um dos quartos de hóspedes da mansão.

— Agenor. — O chamo quando o vejo. Ele me parece surpreso. O encaro demonstrando toda minha hostilidade. Ele se aproxima incerto. Ele sabe o que fez, ele e Carina foderam minha vida e eu ainda estou aqui para pagar meus pecados e afundar no meu suplício.

— Dario...

— Minha família fez uma auditoria algumas semanas atrás, os estabelecimentos de Albuquerque não estavam fechando o caixa, e imagine a minha surpresa ao descobrir que você e sua filha Carina estavam por trás dos milhares de reais perdidos. Quase meio milhão, Agenor. — Os olhos de Agenor quase saltam das órbitas, ele desaperta a gravata e pigarreia, o vagabundo chega a suar.

— Carina é a culpada de tudo, ela queria dinheiro, eu não tinha a quantia e então ela... — Eu levanto minha mão para ele parar de falar e me levanto, o encarando intimidante. Ele engole em seco, eu me aproximo bem dele.

— Está me dizendo que Carina arquitetou todo o plano de me roubar? Que ela tramou tudo isso sozinha? — Indago incrédulo.

— Você quer que eu acredite que uma patricinha mimada como Carina entende de como minar a contabilidade de um estabelecimento? Que ela entende como invadir um sistema desenvolvido para finanças e que fez isso tudo sem sua ajuda? — Eu solto uma risada de deboche.

— Pensa que sou otário, Agenor? Quer mesmo que eu acredite que Carina fez tudo sozinha? — Eu chego perto dele e puxo sua gravata, o fazendo tossir.

— Eu. Quero. Todo. O. Meu. Dinheiro. — Falo pausadamente, bem próximo de seu ouvido.

— Você tem dez dias. E quero que marque uma reunião com todo o conselho da empresa. — O vagabundo começa a tremer como vara verde, e eu sorrio sombrio.

— O que vai fazer? — A pergunta sai tremida.

— Qual é, Agenor, seja homem pelo menos uma vez na vida e lide com seus erros. Eu quero uma reunião com o conselho acionista e administrativo, quero todos na segunda, na sala de reuniões. — Ele me encara com maldade pela primeira vez.

— Se você me tirar do cargo de CEO, sua família saberá o monstro que você é. — Ele joga sujo e sorri.

— Saberá que você é um viciado em drogas, um maldito vagabundo que viciou minha filha nessas porcarias e que, por sua culpa, ela enlouqueceu. Quase morreu de uma overdose, sem falar na morte do feto. — Ele joga sujo, muito sujo, e eu o empurro com força, perdido em minha confusão, o lado sombrio vindo à tona. Meu desejo era socar sua cara até vê-lo desfalecer. Eu enxergo vermelho, o encarando como um louco fora de mim. Caetano me dá um mata-leão quando percebe que vou matar Agenor. Eu não percebi que estava apertando seu pescoço.  

— Você quase me matou... — ele fala rouco, tossindo e se afastando. Meu sorriso sai distorcido e frio.

— Eu posso terminar o serviço, seu desgraçado. A reunião é na segunda. — aviso, saindo daquela casa de loucos e me sentando na escadaria do lado de fora. Caetano permanece ao meu lado em silêncio. Eu me perco nos fantasmas do meu passado, na dor, em como sou fodido.

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