CAPÍTULO 69

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                   DARIO MARTINELLI

Eu vejo meu raio de sol se afastando com suas amigas, levando com ela meu pedaço. A parte mais importante e vital da minha vida. Ela me tem nas mãos e nem percebe. Suas inseguranças e medos são infundados. Eu sou louco por Alana, cada pedaço que sobrou pertence a ela, e sempre que estamos fazendo amor, deixo claro com beijos, toques, cheiros. Queria que tudo fosse simples assim, que eu pudesse continuar feliz com ela sem ter que encarar meu passado, mas existem coisas que não podemos ignorar e esquecer. Eu queria, como eu queria, mas parece ser impossível, ainda mais quando existem pessoas que fazem questão de lembrar do seu passado, do seu erro. Quando chego à mesa, eu empurro Thiago, que vai ao chão com a cadeira e tudo. Ele se levanta e vem pra cima de mim.

— Você prometeu, porra! — ele grita com os olhos nadando em lágrimas.

— Ela precisa de você. E se você não for até ela comigo, eu juro que acabo com toda essa sua felicidade com poucas palavras. — me ameaça, me deixando puto de raiva.

— Está me pressionando, Thiago? — minha pergunta sai fria e cortante.

— Estou, porra! Você só pensa no seu umbigo, Dario. Você é um mentiroso de merda. Por sua causa, Carina tentou se matar duas vezes essa semana, duas malditas vezes. — ele me empurra, acionando um gatilho. Minhas vistas escurecem e pareço entrar em um torpor. Não ouço mais nada, apenas as palavras de Carina vêm à minha mente. “Você é um assassino, Dario”. Ela gritava e se debatia, eu negava e negava. “Olhe para suas mãos, seu assassino. Suas mãos estão manchadas de sangue”. Ela repetia sem parar, gritando tão alto e dolorido. Eu tentei, eu juro que tentei, fiz de tudo, mas não foi suficiente. Eu sou um assassino, eu matei um inocente. Mas eu não feri ninguém, eu olho para minhas mãos e consigo ver o tom ocre correndo por entre meus dedos. O cheiro de ferro impregnou meu nariz, lá estava seu corpo estirado no chão, coberto por sangue. Como uma pessoa podia perder tanto sangue daquela forma? Sou puxado da maldita lembrança por alguém que gritava meu nome e bateu em meu rosto.

— Volta, porra! — gritou Caetano. Eu demoro a focar em seu rosto, ele estava com o rosto preocupado. Eu olho para minhas mãos e percebo que estão abertas.

— Thiago, seu desgraçado, aqui não é hora ou lugar para lembrar Dario da porra do passado dele, caralho. — grita Caetano, irado.

— Ele precisa vê-la, Caetano. Ele deve isso a ela, porra. Ela disse que se ele não for até lá amanhã, ela vai cumprir sua ameaça. — revela, esfregando suas mãos na cabeça.

— Ela não pode se matar, Caetano, por puro capricho dele. Ele está aqui feliz, vivendo, e ela lá, morrendo. É justo? É justo quando os dois são culpados? É justo, Dario? Você está aí sorrindo feliz, e ela se perdendo, gritando, implorando por sua ajuda. Por sua culpa... sua culpa, caralho! Vira homem e vai lá vê-la, ou eu juro por tudo que eu acredito que vou destruir você. Eu a amo, e se eu perdê-la, você também perderá quem ama. — quando ele termina de falar, aparece Alana, toda suada e ofegante, com suas amigas juntas com Kleber. Eu tinha perdido o foco, o sentido. Acho que até minha alma se foi. Eu tentei, eu juro que tentei. Mesmo que todos os dias eu me perdesse em exercícios e treinos, eu não estava feliz por dentro, não conseguia ser completo por saber que sou um assassino, por saber de todos os crimes que escondo da minha família. Por ter a certeza de que nunca terei paz com Thiago e Carina, sempre me ameaçaram e tentaram destruir minha felicidade por puro despeito, apenas para me infligir dor, para me destruir, me deixando em pedaços. As pessoas são perversas e sanguinárias, elas amam tripudiar nas carcaças das pessoas caídas e feridas. Meu raio de sol percebeu meu estado e correu para meus braços, e por um momento o tempo para e o barulho da minha mente se foi. Por um momento, apenas seu cheiro adocicado, sua pele macia, seus cabelos cheirosos e cacheados. Como eu amo essa mulher. Descobrir isso no pior momento da minha vida só me faz quebrar ainda mais.

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