CAPÍTULO 20

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              DARIO MARTINELLI

          ALGUNS DIAS DEPOIS

Estou há algumas horas na lida. Minha roupa está coberta de barro devido à chuva forte que caiu na cidade nesta madrugada; algumas árvores caíram na estrada, impossibilitando a passagem. Não esperávamos um temporal tão forte assim. Alguns pés de café perderam suas folhas devido à força do vento, outros desceram a ribanceira, e estimamos um grande prejuízo.

— Nossa, filho, você está coberto de barro. Olha seus cabelos. — Minha mãe fala preocupada.

— Você caiu? Se machucou? — Ela analisa meu corpo, apertando meus braços.

— Não, mãe, a estrada estava com uma enorme árvore obstruindo a passagem. Precisei ir a cavalo com Joaquim para avaliarmos o prejuízo. Eu não percebi que um barranco estava desmoronando e quase fui junto com alguns pés de café. — Comento como se não fosse nada, mas na hora senti meu coração bater em agonia. Eu não achei que iria descer tanto terreno.

— Perdemos muitos pés de café? — Pergunta minha mãe.

— Bastante. Na quadra 015 a 018, alguns pés ficaram sem folhas. A intensidade da ventania durante a tempestade foi mais forte do que imaginamos. — Meu pai apareceu com Joaquim.

— Foi imprudência sua chegar perto daquele barranco, Dario. Está tentando se matar? — Bradou irritado. Eu olho com reprovação para Joaquim.

— Eu não disse nada. — Joaquim diz ao levantar as mãos.

— Nem precisou, eu vi. Da próxima vez que se colocar em perigo novamente, vou colocar você para trabalhar no burocrático por um mês. — Meu pai fala como se eu fosse uma criança. Não retruco; isso que dá ser o filho mais novo. Eu abro os botões da minha camisa, e minha mãe solta um grito quando a retiro.

— Dario, você está machucado! — Ela deixa a xícara de chá que trazia na mesinha da área de lazer onde estamos parados. É um enorme varandão feito de telha colonial, há um banheiro que usamos quando chegamos da colheita de café ou quando estamos adubando e tomamos banho ali sem precisar sujar a casa. Quando me viro para olhar no espelho, noto alguns arranhões e uma grande mancha arroxeada.

— Deve ser onde acertou uma vara do pé de café. — Dou de ombros. Ela passa a mão com cuidado.

— Vá tomar um banho que vou pegar uma pomada para passar aí. — Ela manda. Eu olho para Joaquim inconformado.

— Meus pais ainda pensam que sou uma criança.

— Meus filhos nunca cresceram para mim, Dario. Agora vá logo tomar um banho. Vou pegar suas roupas. — Sem direito a opinar, vou para o banheiro social, tiro todo esse barro do meu corpo e cabelo. Logo após, vou para dentro de casa, onde minha mãe não me deixa em paz antes de passar a tal pomada.
— Amanhã você não está pensando em ir para Albuquerque, né, filho? — Interroga ao terminar de aplicar a pomada com as mãos. Estamos na sala principal, aqui existem quatro salas.

— Se estiar vou sim, mãe. — Respondo ao vestir minha camisa.

— O que você tanto faz lá? — Minha mãe às vezes é curiosa demais.

— Vejo Caetano e Thiago e saímos por aí. — Dou de ombros.

— Pensa que me engana, Dario? — Ela franze a testa e me encara brava.

— Desembucha, filho. — Ela manda e pega a xícara de chá, me entregando.

— Mãe, não sei se a senhora sabe, mas tenho 28 anos. — Ela me dá um cascudo na cabeça.

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