Seis meses depois
Aparecida
— Deixe de ser chata, Cidinha. Papai disse que só vou se você for.
Seis meses se passaram desde daquele dia, eu fui embora do Brasil aos prantos tentando não lembrar do gosto do beijo dele, da sensação louca que era estar em seus braços e tentando permanecer forte mesmo não sendo. Ele seguiu sua vida com festas, desfiles e modelos lindas do seu lado, enquanto eu fiquei sobrevivendo sob efeito de remédios e terapia, todos os dias me levanto pela providência divina, se não fosse Deus nem sei como estaria viva.
— Patrícia, hoje não acordei muito bem, seu pai sempre cede seus caprichos, portanto não precisa de mim.
— Tem razão! Mas a sua cia iria tranquilizar meu pai.
Não ia. Patrícia vive intensamente, com seus 18 anos parece querer viver tudo de uma vez. Diferente de mim que gosta da tranquilidade de viver um dia de cada vez, sem ansiedade ou medo. Ela é filha do diplomata amigo do meu pai, nos aproximamos por conta da amizade dos nossos pais.
Gonçalves me apresentou para membros da embaixada, pessoas famosas do país e até para membros da corte espanhola em jantares e festas que era convidado, eu ficava calada a maioria do tempo observando como conversavam e falando o mínimo possível. Eu gostava de ir nas igrejas da capital Madrid e rezar, o pecado se apegou à minha pele e às vezes penso que nunca vou conseguir esquecer e seguir em frente.
— Realmente não estou no clima, bom desfile para você.
— Tudo bem! Acompanhe meus posts no Instagram, amiga, quero ver seus comentários lá.
Patrícia saiu rebolando enquanto eu fiquei aqui sozinha nessa casa enorme, a solidão é minha cia, e no fim acabei deixando ela ficar ocupando o espaço que sempre foi dela. A pouco mais de três meses, minha avó faleceu, vítima de um infarto fulminante. Foi levada para um hospital, mas não sobreviveu, foi triste não sentir nada por sua morte. Cido continua desaparecido, mesmo depois da morte da nossa avó, ainda assim, meu pai o procura sem parar.
O velório e o enterro foram rápidos, já que ela não tinha muitos parentes vivos. Meu pai cuidou de tudo ao meu pedido, eu não tinha magoa, só não conseguia sentir nada em relação a ela. Depois de um tempo, entendi que sempre serei sozinha na vida sem ninguém para amar ou cuidar de mim como sempre sonhei.
Meu pai é presente vindo pelo menos uma vez a cada dois meses, sempre atencioso, disse que iria procurar um bom marido para mim. Como já desisti de amar e sentir toda a intensidade de uma paixão decidi deixá-lo escolher, resolvi tirar o implante e refleti muito sobre deixar alguém entrar na minha vida novamente.
Preciso abrir minha mente e coração para o novo e esquecer de vez o passado, Cunha não existe, Edgar é meu irmão e o certo é seguir em frente, ele conseguiu e eu também vou. O celular toca, é meu pai que sempre liga nesse horário para saber como estou.
— Sua benção, pai.
— Deus a abençoe, filha, como está hoje?
— Bem. Já tomei os remédios, tomei café e agora vou descansar um pouco.
Eu faço um curso de gastronomia para ocupar o tempo e as vezes quando estou de bom humor vou passear com Patrícia que é muito divertida, ela me deu dicas de como ser uma socialite mostrando sobre marcas famosas de sapatos, roupas e joias.
— Filha, estou negociando com uma boa família espanhola, eles tem um filho um pouco mais velho que você, solteiro e interessado em uma moça com seus requisitos.
— Que bom, pai. Quando posso conhecê-lo?
— Hoje a noite. Mandei o endereço do restaurante com outras informações no seu e-mail, e não se preocupe, ele fala português fluentemente. Se tudo der certo, já podemos marcar o noivado quando estiver visitando você.
Os ricos são práticos e vivendo no meio deles percebi isso. Meu pai está preocupado comigo e com minha saúde, acredita que preciso encontrar um homem que vai cuidar de mim. Gosto de ser conduzida sem muita preocupação, e parece que meu pai percebeu isso, ouço uma batida na porta, deve ser Patrícia, sei que vai insistir para ir nesse desfile.
Desligo a chamada com meu pai logo recebendo as informações para o jantar por e-mail, meu pai manda tudo assim, ele disse que detesta aplicativo de mensagens, quando abro a porta vejo alguém que a muito tempo não via, Jonatas sorri de um jeito sério sem muita empolgação parece que apenas sua aparência mudou pois está com barba e com o cabelo um pouco maior.
— Como vai Aparecida?
— Estou bem, Jonatas, entre.
Ele entrou na minha casa observando cada detalhe do lugar, eu não tenho nenhum tipo de sentimento ruim em relação a ele, sei que está aqui a mando de Edgar, mas meu meio irmão seguiu sua vida, talvez esteja curioso para saber se eu segui a minha também.
— Porque está aqui, Jonatas?
— Se eu dizer que estava com saudades não estarei mentindo, no entanto, não é só por isso que estou aqui. Edgar quer vê-la, ele anda mais exigente e autoritário do que antes. Está na cidade por conta da semana de moda, e quer vê-la.
Porque ele quer me ver depois de todos esses meses? Eu imagino que seja para começar suas sessões de humilhação gratuita, lamento imensamente que não seja por saudade ou por querer ser meu irmão e amigo.
— Fico feliz que tenha saudades, mesmo que nunca tenha sido meu amigo de verdade. Eu vou comunicar meu pai sobre essa questão, diga para Edgar que não quero vê-lo, estou em um compromisso e logo vou me casar, o certo é tudo ficar do jeito que está para o bem de todos. Agora, se puder sair, tenho um jantar para conhecer meu futuro noivo hoje.
Jonatas saiu sem dizer mais nada, retorno a ligação para meu pai, Edgar na cidade não é algo bom. Por mais que sinta falta dele, sei que me apaixonei por uma ilusão, ficar convivendo com ele só vai piorar as coisas.
![](https://img.wattpad.com/cover/358274948-288-k817255.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Sombras e Redenção (concluído)
RomanceSob o véu da redenção, Edgar e Aparecida dançam na penumbra do destino entrelaçado. Entre sedução e resistência, uma obsessão floresce, guiando-os por caminhos inesperados. Chantagem tece laços que os aprisionam, mas nas sombras, uma conexão profun...