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Aparecida

Cansei de gritar e bater na porta, me sentei no chão esperando alguém vir, pensei em pular a janela encontrando um homem fazendo ronda pela casa, e acabei desistindo da ideia. Tomei dois comprimidos do meu antidepressivo sentindo um alívio que logo foi substituído por medo. O que Cunha ainda quer? Já rezei, chorei e por fim estou esperando para saber o que vai acontecer comigo.

De repente a porta se abre, o homem de mais cedo entra, ele é sério, ainda assim seu rosto me lembra alguém, é bonito, alto e possui uma postura de um segurança realmente. Seu olhar parece ter algum tipo de luz, como se sentisse simpatia por mim mesmo não o conhecendo.

— Aparecida, meu nome é Jonatas, provavelmente deve ter ouvido falar de mim, minha mãe tende a colocar minha pessoa em um altar consagrado, mas ela faz isso até com meu irmão. De qualquer forma, meu motivo de estar aqui é para avisar que o patrão chegou já tem um tempo, ele estava organizando algumas questões como também agindo de maneira pontual com o caso de mais cedo. Agora, está disponível e apto para recebê-la.

— Sua mãe fala muito bem de você, queria poder ter conhecido você em outras circunstâncias. O que devo fazer, Jonatas? Eu não sei o que ele quer de mim.

Ele parece conhecer bem Cunha, eu pensei que conhecia pelo menos um pouco, mas a verdade é que tudo foi uma mentira muito bem planejada para me enganar, agora que sei de tudo, não sei o que esperar.

— Ouça tudo que ele tem a dizer, não responda e o mais importante: não resista. Você se sairá bem, é uma boa moça, Aparecida, quando tudo isso acabar ficará no passado, e ele saberá deixá-la bem.

Não sei bem se poderia confiar nisso, de alguma forma, sentia algo bom em relação a Jonatas. Por isso resolvi segui-lo até o escritório, ao abrir a porta o vejo pela primeira vez como alguém que jamais seria o motivo dos meus sonhos mais bonitos. Cunha é Edgar e isso talvez seja meu maior pesadelo.

Edgar

Ela parecia calma mesmo que seu olhar transparece decepção como se a paixão e amor que sentia fosse embora quando soube que não era um pobre assalariado como ela. Jonatas saiu nos deixando sozinhos, não imaginei que seria assim, queria planejar de uma maneira menos traumatizante, infelizmente Venâncio e suas vagabundas fizeram o favor de adiantar as coisas.

Cada um deles vai pagar por se intrometer em assuntos que não diziam respeito a eles. Vou cuidar deles pessoalmente para que saibam que há consequências ao se mexer com um Cunha ainda mais comigo que não aceito intromissões na minha vida privada. Jonatas ouviu cada humilhação dita por Suzana com ajuda de Janaína, acredito que Venâncio não sabia de nada do que as fúteis tramaram mesmo assim será punido.

— Boa noite, Aparecida, sei que demorei para atendê-la, e peço desculpas por isso. Antes de iniciarmos nossa conversa, quero lhe pedir as mais sinceras desculpas pelo que houve, as pessoas envolvidas serão severamente disciplinadas, e não vão mais perturbar você. Agora, diga o que precisa de mim.

— Eu quero agradecer o emprego, mas depois de tudo o melhor é ir embora. Não precisa pagar meus dias trabalhados, somente gostaria de ir ainda hoje. Em relação ao nosso namoro, ou seja, lá o que eu pensei que existia entre nós, penso que é melhor terminar, acredito que foi divertido brincar com meus sentimentos mas agora que sei quem realmente é, entendo que devo seguir meu caminho.

Eu ri de sua forma de terminar comigo, essa é a primeira e última vez que Aparecida tem a palavra de conclusão de algo, ela ainda não percebeu que não seria tão fácil assim sair de perto de mim. Não agora que a tenho sem mentiras ou histórias inventadas para conquistá-la.

— Entendo perfeitamente sua decisão, porém você fica, Aparecida. Vou repassar sua real situação: você me pertence, se respira agora ou está em minha frente sem estar amarrada por cordas enquanto surro sua bunda é porque eu quero. Vou ser prático porque detesto enrolação, sou um homem poderoso, linda, inclusive a ponto de saber seu problema com as dívidas do seu irmão. Trinta mil é uma quantia relativamente alta para você, e não para mim, aliás, eu comprei a dívida agora ao invés de deve para o traficante do bairro, você deve para mim ou melhor seu irmão me deve.

Ela parece que não entendeu do que estava falando, óbvio que o viciado não compartilhou as dívidas reais que tem com o movimento do tráfico no bairro que moram.

— Do que está falando? Minha avó e eu pagamos a última nota promissora dele não tem muito tempo.

— Sei disso, mas seu irmão fez mais. É de uma ingenuidade imbecil pensar que não iria fazer mais dívidas, quinhentos não é nem a metade do valor que realmente deve. O tal Formiga parece que tem pena de vocês, mas não poderia negar uma vida para nós.

Aparecida perdeu a cor do rosto como se a qualquer momento fosse desmaiar. Sua expressão mudou de calma para nervosa, ainda assim, não sei se entendeu bem o que está acontecendo.

— Eu pago se o valor for parcelado. Não temos 30 mil, mas eu posso assinar o que quiser para garantir o pagamento da dívida. Sou honesta e não vou fugir das minhas obrigações, pode ficar tranquilo em relação a isso.

— Eu confio inteiramente em você, querida, caso contrário não teria a escolhido. No entanto, não quero dinheiro por essa dívida, quero você, Aparecida. Totalmente entregue a mim como minha submissa, claro que teremos um contrato como manda o costume, mas não quero seu dinheiro, na realidade não preciso.

Suas mãos começaram a tremer com certeza está com medo, queria ter feito de uma forma diferente conquistado mais espaço, a feito me amar incondicionalmente e apenas depois revelar a verdade, mas fui atrapalhado por três imbecis, quando penso que tudo poderia ser diferente fico louco de ódio.

— Eu não sei o que isso quer dizer. Cunha, você já se divertiu comigo, por favor me deixe ir. Sabe que não iria fugir, mesmo que ficasse devendo você a vida inteira, eu pagaria, pode colocar juros, vou dar um jeito de quitar tudo que Cido deve. Só não me faça ficar, será doloroso demais, você não tem nem um pouco de piedade de mim?

Vê-la vulnerável assim me incomoda, porém não vou abrir mão de tê-la totalmente para mim. Quando a sensação de novidade acabar, posso libertá-la e seguir minha vida, mas agora não posso simplesmente esquecê-la.

— Não. Eu sou um homem direto, Aparecida, vou fazer o seguinte: farei um contrato inicial de três meses, terei você inteiramente e integralmente todos os dias sem descanso, provavelmente vou enjoar de você, caso isso aconteça dentro do prazo de três meses poderá ir e a dívida estará quitada. Essa é a única proposta disponível, o contrato já está pronto é só você assinar.

Aparecida acenou concordando com minha proposta, seu olhar está baixo, parece que chora, mas para mim isso não importa, eu a quero totalmente entregue mesmo que não queira. As vontades dela não me interessam somente meus desejos e vontades importam.

Entre Sombras e Redenção (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora