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Edgar

As lágrimas dela me irritam. Garota burra, porque chora como se estivesse sendo levada para morte? Entrego o contrato enquanto ela enxuga as lágrimas, Aparecida fica em silêncio lendo cada cláusula com atenção. Não sei se irá entender os termos completos, mesmo assim, deixo que leia.

— O que é esse cartão?

Junto com a proposta solicitei a emissão de um adicional do meu cartão para ela. Tive que correr para conseguir fazer tudo isso apesar de já ser o meu plano inicial.

— É seu. Sem limite para comprar tudo que for necessário para deixá-la do meu agrado, não se preocupe pois não vou incluir na dívida do seu irmão, será uma cortesia já que não posso estar no mesmo ambiente que uma favelada mal vestida. Eu sou um homem que trabalha no meio da moda além de ser um herdeiro de uma das famílias mais tradicionais do país, não posso simplesmente desfilar ao lado de uma pobretona.

Ela voltou a chorar, no entanto disfarçou enquanto continuava lendo o documento, seu olhar voltou para mim como se quisesse entender meus motivos.

— Você fingiu o tempo todo, não é? Nada era real.

— Sim. Eu fingi o tempo inteiro, foi difícil mas você estava tão carente de atenção e afeto que nem mesmo percebeu falhas na minha história. A verdade, Aparecida, é que qualquer outro teria trepado com você e jogaria você fora como um ser descartável. É só uma garotinha carente, pobre, com uma avó abusiva e um irmão viciado, não tem nada de especial em você, na realidade, talvez transe com você e perca logo o interesse.

Ela pegou a caneta assinando o contrato nas linhas indicadas, entregou para mim parecia estar em outra dimensão quando fez isso. Aparecida está se preparando para sair quando a chamo.

— Quero jantar com você hoje, mas sem essas roupas de empregada, no seu quarto já foi colocado o vestido que quero vê-la usando como também as joias. Seja pontual como sempre, entendeu?

— Sim, senhor, com sua licença!

Aparecida

O que eu estava pensando? Um homem bonito e educado como Cunha só podia ser algo criado, minha necessidade de ser amada pelo menos uma vez na vida me colocou em uma situação que não vou conseguir sair no momento que queria. No final disso tudo sobrará uma casca, nada que uma corda ou uma faca não resolva.

A imagem da minha mãe se matando em minha frente aparece na minha mente. Meu progenitor deve ter brincado com ela e descartado como um monte de lixo inútil, é assim que os ricos tratam os pobres, com desdém e desprezo. O contrato é tão controlador e abusivo que preferi chorar do que vomitar, Edgar quer me humilhar por ser pobre e não ter como fugir dessa situação.

Vou direto para o banheiro, não dando atenção ao vestido em cima da cama, tomo mais um comprimido do meu remédio sentindo a leveza voltar para o meu corpo, saio do banheiro meio drogue, enquanto vejo o vestido bonito na cor preta acompanhado por brincos e uma pulseira com pedras verdes.

Eu não estou com a mínima vontade de estar aqui, o meu único desejo é dormir para esquecer esse dia horrível. Quero voltar para minha casa, fazer o jantar para minha avó enquanto ela assiste novela, arrumar a mesa para jantarmos e conversar sobre o dia. Talvez tudo isso seja um pesadelo e logo vou acordar mas a medida que vou caminhando para sala de estar vejo que não é um pesadelo, e sim a realidade.

— Está linda. Fiz uma reserva em um restaurante novo, se sinta privilegiada, Aparecida. Eu fechei o lugar só para nós!

Ele não fechou o lugar por me achar merecedora dessa atenção mas sim para que ninguém saiba sobre mim, é lógico que tem vergonha de estar com uma garota baixa renda. Ele me guiou até o carro me deixando entrar primeiro, eu tomei uma boa distância dele olhando pela janela o caminho inteiro.

Ele não quer tocar em mim antes dos exames, o contrato pede exames periódicos de doenças no geral como também sexuais além de estipular o não uso de camisinha. Eu não posso passar doenças para ele, mas isso não quer dizer que ele não possa fazer isso comigo. Chegamos no restaurante e realmente apesar de aberto havia uma placa escrito reservado essa noite na porta, formos recebidos por um homem que nos levou para uma mesa no meio do salão.

Havia pinturas bonitas ao redor do lugar como também vasos com pinturas bem diferentes do que já tinha visto, Edgar está olhando para mim sorrindo pela minha expressão ridícula de admiração, eu vou me conter, evitar que essa situação se torne cada vez mais humilhante.

Olhei no cardápio notando que tudo estava em outro idioma, coloquei no lugar esperando o garçom chegar para atender Edgar, porque me trouxe nesse lugar? Sua intenção claramente era me humilhar.

— Aqui não tem prato feito, Aparecida. Vou escolher nossos pratos, você bebe?

— Não, senhor.

Claro que ele não ia perder a oportunidade de me humilhar com uma situação em que vivemos juntos, eu quero ir embora, ficar aqui só me deixa mais desconfortável com toda essa situação. Ele faz os pedidos enquanto foco minha atenção para o céu estrelado que consigo ver pelas grandes vidraças do restaurante.

— Logo receberemos a entrada, Aparecida. O que tanto olha para o céu?

— Nada de especial, senhor, só estou distraindo minha cabeça.

Estar nesse lugar como se parecesse um encontro romântico me deixa infeliz instantaneamente, eu queria estar com Cunha passeando na praia enquanto comemos espetinhos e depois tomamos um sorvete, a questão é que Cunha não existe, foi uma criação para conquistar a idiota aqui.

— Eu posso continuar trabalhando com Luzia?

— Claro. Afinal, você é uma empregada, nada mudou nesse quesito. Não quero misturar as coisas, continua sendo minha empregada doméstica, terá luxos extras é claro mas somente para mim.

Os pratos chegaram, mas apenas pequenas porções, eu comi ainda sob sua inspeção rigorosa.

— Terá que ter aulas de etiqueta, não quero andar ao lado de uma mulher desajeitada e sem educação.

Apenas confirmei com a cabeça, enquanto bebia da minha taça de suco, eu não aguentava mais seu olhar julgador, seus comentários ofensivos durante todo jantar me fizeram ter ânsia de vomito várias vezes. Cunha nunca existiu, esse homem em minha frente é mesquinho, egoísta, esnobe e tem um comportamento preconceituoso e grosseiro.

Enfim decidiu ir embora, eu já não aguentava mais. O lugar é bonito, mas ficou sufocante por cada vez que Edgar abria a boca para falar algo, o pior é que estou morrendo de fome já que para não ficar fazendo comentários sobre o jeito que segurava o garfo e a faca ou como não sabia a diferença entre os talheres decidi parar de comer.

— Está calada, o que houve?

— Nada. Só estou cansada, hoje o dia foi difícil, eu vou para o meu quarto. Tenha uma boa noite, senhor Edgar.

Graças a Deus ele não tentou me seguir. Eu realmente não tenho forças mais, se ele dissesse ou fizesse algo desprezível de novo cortaria meus pulsos sem pensar muito. Agora no meu quarto usando minhas roupas esqueço por um momento em Edgar pensando no meu Cunha, como era dócil, gentil e amoroso.

Agora estou aqui chorando por um namoro que nunca existiu, por um casamento que jamais vai acontecer e uma família que nunca terei. Eu sou filha do pecado por isso minha vida é só sofrimento e dor, se não fosse isso com certeza eu seria feliz, Cunha não seria um personagem inventado para seduzir e enganar, e sim alguém real e bom.

Entre Sombras e Redenção (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora