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Jonatas

Eu sabia bem quem poderia tirar as dúvidas na minha mente que ferve desde o momento que comecei a perceber como minha mãe reagiu a gravidez de Aparecida ou como a mudança de tratamento não mudou mesmo depois de saber que seu menino de ouro estava se casando com a própria irmã.

Meu pai está regando sua horta calmamente como se não fosse uns dos maiores assassinos de aluguel dessa cidade. Sempre trabalhou nos bastidores longe dos holofotes que hoje eu por ser segurança e homem de confiança de Edgar tenho, isso não quer dizer que não mataria por ele ou que já não usei o que aprendi quando fosse necessário.

— Sua horta está bonita, pai.

— Tenho tempo para cuidar dela, tudo na vida que se dedica ao tempo e cuidado fica bonito. Mas você não veio aqui falar da minha horta.

Somos bem semelhantes nesse sentido, direto no que tem que ser dito sem rodeios.

— Não. Tem alguma chance de Edgar não ser filho do senhor Raimundo?

A expressão de susto dele foi a melhor que já vi, comecei a rir pois em toda vida tive poucas oportunidades de vê-lo assustado com alguma coisa, digamos que ele é bem duro na queda.

— Jonatas, porque dessa suposição? Seu chefe mandou você aqui, é isso?

— Tenho desconfianças que me fazem pensar assim, começando por sua esposa extremamente católica apoiando uma relação incestuosa como também aceitando o fruto desse relacionamento. Conheço minha mãe e o senhor conhece a esposa que tem, portanto sabe bem que ela não aceitaria isso.

Ele desligou a mangueira se sentando em um banco próximo da horta olhando para mim com uma expressão séria, talvez ele saiba de algo que possa mudar toda essa história.

— Meu primeiro crime foi o assassinato do desgraçado do meu pai, ouvi uma noite que ele queria estuprar a própria afilhada, dizia que ela como mulher deveria aceitar calada já que teve que recebê-la depois da morte dos pais. Ela ficou órfã com 15 anos, uma menina que desenvolveu o corpo rápido demais e chamava a atenção, eu não podia deixar que meu pai acaba-se com a vida dela, na madrugada, fiquei no quarto ouvindo tudo que dizia para afilhada, alguém que deveria proteger e amar, dei um tiro no meio da testa dele. Minha mãe e a afilhada olharam assustadas mas nada sentiram. Meu pai não valia nada e morreu porque Deus queria assim, eu me entreguei pois cometi um crime e tinha que pagar.

Ele nunca havia mencionado nada disso para mim durante toda vida. Essa história só me fez admirar mais meu pai por ser um homem honrado desde cedo.

— Lá na cadeia conheci a organização criminosa da família Cunha, logo Raimundo soube sobre mim e quis conhecer o garoto de 19 anos que matava sem pensar muito. Assim começou minha história com a família Cunha, eu não sei se Edgar é ou não filho de Raimundo, mas sua mãe sabe de algo.

— Porque?

— Na cadeia eu precisava ajudar minha mãe e sua afilhada, foi um dos motivos que comecei a trabalhar com o crime. No entanto, sua avó trabalhava na casa da família da mãe de Edgar junto com sua afilhada, a esposa falecida de Raimundo tinha a mesma idade dela e gostava muito da afilhada da minha mãe.

Comecei a juntar as peças e perceber que meu pai não matou o pai apenas por ser um desgraçado, mas também por outro motivo igualmente mais forte.

— Pai, a afilhada dos seus pais é minha mãe?

— Sim. Eu já me deitava com ela antes do meu pai pensar em tocar na sua mãe, claro em segredo, depois que sai da cadeia nos casamos. Na verdade, já vivíamos como marido e mulher a muito tempo, mas voltando ao que interessa, se tem alguém que saberia responder essa pergunta seria sua mãe, mas não sei se ela estaria disposta a isso.

Entre Sombras e Redenção (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora