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Edgar

Um mês depois

Aparecida não voltou como imaginei, se passou dias, semanas e por fim um mês sem nenhuma notícia. Jonatas procurou por diversas vezes sem sucesso, o telefone dela não atende, cai na caixa postal como se estivesse desligado ou tirado o chip. Nem mesmo Cido sabe onde a irmã está, observo o exame de DNA lacrado não tendo coragem de abrir sem ela presente.

Depois de tudo que fiz contra meu pai e Susana pensei que finalmente teria minha submissa linda só para mim sem que ninguém pudesse nos atrapalhar mas infelizmente as coisas não foram como planejei. Aparecida sumiu deixando essa sensação de vazio terrível na minha vida, não consigo me conformar com sua partida sem nem sequer se despedir ou me dar explicações.

Meu pai está totalmente fora dos assuntos da empresa, inclusive viajou para Europa recentemente deixando todos os negócios que cuidava nas minhas mãos. Carmo pediu uma reunião mas parecia tão desolado e envergonhado com a situação que fiquei com um pouco de dó do homem. Susana não só enganou a mim mas também o pai que pareceu não saber da trama sórdida da filha.

Susana além de ter sido popularmente cancelada perdeu o noivo de faixada, Luís com certeza conseguiu se livrar de um problema muito grande ao se separar dela. Eu não tenho concentração para nada, sei que só terei sossego quando Aparecida estiver do meu lado. Vejo o visor do celular com a esperança dela ter me enviado uma mensagem dizendo que está bem e que vai voltar para mim e fico desapontado ao perceber que não há nada.

Vasculho seus perfis nas redes sociais e até status no aplicativo de mensagem sem ter nenhum sinal de que está bem e se cuidando. Não é possível que vai me torturar dessa forma por birra e capricho, tudo que fiz foi para o nosso bem, para que pudéssemos estar livre de qualquer um que queira nos atingir, como ela não consegue reconhecer isso?

De repente como uma obra divina vejo uma foto no seu status de uma rede social, é uma foto que ela está sentada no chão cercada de cachorros sorrindo distraída enquanto brinca com os animais ligo imediatamente para o celular dela, pela primeira vez em um mês a chamada não cai direto na caixa postal.

O telefone toca duas vezes logo depois ouço a voz que tanto sinto saudades, o timbre calmo dela traz uma sensação de alívio imensurável, parece que vou explodir de tanta felicidade por depois de um mês pode ouvir sua voz.

- Amor meu, onde você está? Porque não atende minhas ligações? Precisamos conversar.

- Eu estou bem, e só isso que precisa saber. Não estava pronta para atender suas ligações, e concordo que precisamos conversar. Posso ir até a empresa?

Sua forma de falar me deixa incomodado, soa frio e impessoal como se nunca tivemos compartilhado intimidade na vida.

- Cadelinha, o que está acontecendo? Nunca falou assim comigo.

- Edgar, eu realmente quero conversar com você na empresa, e agradeço se for ainda hoje, precisamos resolver nossa situação.

Tem alguma coisa errada, estou tendo um mal pressentimento em relação a essa conversa, Aparecida está diferente e isso não me agrada nem um pouco, resolvo por deixá-la vir até a empresa assim resolvemos logo tudo isso.

Aparecida

- Não entendo porque os meus melhores amigos estão dando moral para você, garota. Você deve ser alguma feiticeira ou bruxa, sei lá.

- Eu trato eles bem. Quando você sai, eu fico conversando com eles pelo buraco do muro, inclusive acho que foi Tadeu que fez.

Faço carinho no cachorro caramelo de nome Tadeu, Maria é uma estúpida a boa parte do tempo. Não gosta de conversar, tem uma boca suja que afasta qualquer um e é uma garota de vida noturna, no entanto, eu a adoro pois se tratando de amar e cuidar dos seus melhores amigos como costuma dizer é maravilhosa.

- Safado esse Tadeu, mas você também é bem intrometida, garota.

- Não, eu sou curiosa, que é bem diferente. Além disso, eles são minha cia como são para você, não pode ser amiga exclusiva deles.

Ela mostrou o dedo do meio para mim e depois acendeu um cigarro, Maria bebe, fuma e parece gostar de viver assim, por incrível que pareça seu rosto não transparece os efeitos do uso do cigarro e de noites mal dormidas trabalhando .

- Eu sou ciumenta, garota. Cada um deles fui eu que encontrei e cuidei, portanto você pode até ser amiga deles mas eu sou a melhor.

Maria não é agradável e nem tenta ser, acho que é por isso que gosto tanto dela.

- Está bonitinha, vai rodar bolsinha, garota?

- Não. Vou ver o pai do meu filho, ainda não estou aberta a esse ramo de emprego.

Maria é prostituta, eu não tenho preconceito nenhum com ela, diferente do resto dos vizinhos principalmente as vizinhas que sempre olham para ela com nojo e morrem de ciúmes dos seus maridos e filhos. Maria é linda e chama a atenção de qualquer um, se não abrir a boca é claro.

- Pois meta a faca no desgraçado, uma boa pensão para você e o bebê. Criança gasta, e você precisa de dinheiro, além disso sei que é rico por isso não fique com dó dele. Quando pensar em ter pena, pense em toda merda que fez com você, logo a pena vira ódio.

Eu não sou como Edgar, ele é um homem vingativo, cheio de ódio e mágoa, acompanhei todo processo de cancelamento social que Susana e meu pai foram submetidos, algo que deveria ter ficado oculto por ser tão pesado e complicado para nossa família. Edgar não se importou com nada e nem mesmo como tudo isso ia terminar.

- Queria ser assim como você. Fria e racional, minha relação com Edgar é mais complicada do que uma pensão alimentícia.

- É bem simples, Aparecida: você não quer mais ele, é loucura deixar um bilionário? É. Mas você sabe da sua vida, mas que é uma burrice é. Seu filho não tem nada haver com isso, você se lascou por conta da falta de um pai que pagasse uma pensão satisfatório, o menino não tem que sofrer o mesmo.

Como eu queria que tudo se resumisse a pensão, infelizmente não é bem assim. Maria tem razão no que disse só não queria que tivesse tão certa. Me despeço dela e dos seus amigos caninos entrando no carro que chamei pelo aplicativo, em pouco tempo já estava na frente da empresa entrando na recepção, antes que pudesse pegar o crachá para subir o terraço, Jonatas já está me aguardando.

- Ele está nervoso. Já jogou dois copos de uísque na parede, esteja pronta para ouvir muitas ameaças.

- Eu não tenho mais medo. Sei que não pode mais fazer mal para mim como antes, Cido está bem, e Edgar não vai ousar fazer mal a ele.

Toda situação de estar aqui depois de um mês longe de Edgar é estranha, mas não vou deixá-lo me intimidar.

- Obrigada por ceder sua casa e por toda ajuda até hoje, escolhi bem o padrinho do meu filho.

- É o mínimo que poderia fazer pela minha comadre, desejo boa sorte.

Entre Sombras e Redenção (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora