Aparecida
Jonatas é a minha sombra, sempre observando e cuidando de cada passo que dou muito mais que um guarda costa, um irmão bem grudento diga-se de passagem, depois da sessão de terapia resolvi dar uma volta no shopping para comprar as roupinhas do meu bebê. Entramos em vários lojas e tudo que achava bonito mostrava para ele que sorria em aprovação e fazia careta quando não gostava.
- Flamenguista? Edgar sabe disso?
- Sim, meu afilhado será flamenguista como o padrinho e o pai é claro. Moça, pode embalar essas camisas e esse macacão.
Tentei pagar mas Jonatas não deixou, como sempre pensa que sendo homem tem que bancar todas as nossas saídas. Tenho um cartão ilimitado e o máximo que aceita é um sorvete de casquinha, sento junto com ele em um quiosque enquanto tomamos o sorvete.
- Jonatas, esse dinheiro que gasta comigo não faz falta?
- Jamais. É um prazer pagar pelos presentes do meu afilhado, digamos que eu soube guardar meu dinheiro. Não sou um milionário mas também não sou um miserável. Sua barriga já está bem saliente, esse menino vai nascer grande.
Aliso o volume por cima do vestido, realmente meu menininho está crescendo mais a cada dia, já é um pouco difícil dormir com ele se mexendo e chutando minha bexiga, vou no banheiro fazer xixi a noite inteira.
- Aparecida, sempre vou proteger vocês, eu errei em alguns momentos com você, mas quero que saiba: a considero muito, e é minha amiga, por isso, vou insistir com a minha mãe, ela tem que contar a verdade.
Jonatas acredita que Edgar não seja meu irmão, e que sua mãe sabe de algo, mas Luzia não quer contar. Eu não sei se confio nela ou aposto minhas fichas nas suposições de Jonatas, o que sei é que toda essa situação com Cunha me deixa deprimida, choro escondida sentindo saudades dele, desejando que pudesse estar comigo.
- Deixa isso quieto. Sua mãe deve ter os motivos dela para se calar e eu não quero mais pensar nisso, me sinto mal o suficiente por estar nessa situação. Estou grávida do meu meio irmão, estou longe do meu irmão gêmeo por conta da prepotência de Edgar em querer ir contra o que deve ser e agora estou sozinha, não vamos piorar mais essa história.
Jonatas sabe como esse assunto me deixa chateada, entendo que queira ajudar, porém sua mãe se realmente estiver guardando algum segredo, não quer contar. Peço para Jonatas me esperar pois precisava ir ao banheiro, assim que entro no banheiro vou direto fazer xixi, quando termino ao sair ouço a voz de Janaina acompanhada por Susana dentro do banheiro, nada que não esteja ruim que não possa piorar.
- Esse shopping já foi melhor frequentado, não é mesmo, Jana? Viu aquela empregadinha andando com o segurança pessoal de Edgar para baixo e pra cima como se fosse uma de nós.
- Agora qualquer baixa renda frequenta lugares que antes só entravam para limpar.
Respirei fundo indo lavar minhas mãos, quando as duas serpentes perceberam minha presença e o volume na minha barriga, Susana parecia assustada e Janaina ficou calada, parece que teve consciência de que deve respeitar minha gravidez. Tentei sair mas Susana entrou na minha frente querendo tocar na minha barriga mas fui rápida em afastar sua mão.
- Eu não quero problemas, Susana. Você está brigando sozinha, na verdade sempre esteve, para mim você e nada é a mesma coisa. Janaina, eu lamento o que Edgar fez com você mas eu não tenho nada haver com o que houve. Agora, se puderem me deixar sair, ficaria grata.
- Edgar é muito burro mesmo, caiu no golpe mais antigo desse mundo. Você agora está com a vida feita carregando esse bastardinho no ventre, porque você sabe que no nosso meio, você sempre será a empregada oferecida que abriu as pernas para o patrão. Nunca será aceita no nosso meio!
Susana pensa que procuro aprovação de alguém do mundo dela, para mim isso nunca importou. Eles vivem de aparências, infelizes em suas casas de luxo, carros importados e coisas caras que não preenchem suas vidas vazias.
- Você realmente não me conhece. Não procuro aprovação e aceitação de ninguém, quem precisa disso são vocês e não eu. Agora, de verdade, saia da minha frente, essa conversa não vai nos levar lugar nenhum.
De repente, Jonatas abriu a porta do banheiro e só com um olhar assassino dele fez com que elas se afastasse.
- Você, Janaina, não aprende. Continua andando com Susana, essa mulher já colocou você na merda, vai querer ser alvo novamente por causa dela? Aconselho que não desafie Edgar Cunha novamente, ele pode não ser tão bonzinho como da última vez.
Jonatas segurou minha mão, me levando até o estacionamento do shopping onde o carro está, ele está preocupado comigo, com certeza pensa que o veneno daquela cobra me atingi, resolvo tranquilizar meu amigo antes de irmos.
- Jonatas, aquela mulher não tem poder de me envenenar acredito que por isso ela tenha tanto ódio de mim e insista nessa implicância burra. Como não me importo com o que ela pensa sobre mim se sente mal, agora faço questão de ir no noivado dela, eu não queria ir mas agora faço questão.
- Não tem que abaixar a cabeça para Susana pois ela pode até ter nascido em berço de ouro, mas você é muito mais elegante e educada que ela. E saiba que Edgar ficará ciente do que houve hoje, essa mulher precisa parar de atormentar sua vida.
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Entre Sombras e Redenção (concluído)
RomanceSob o véu da redenção, Edgar e Aparecida dançam na penumbra do destino entrelaçado. Entre sedução e resistência, uma obsessão floresce, guiando-os por caminhos inesperados. Chantagem tece laços que os aprisionam, mas nas sombras, uma conexão profun...