Aparecida
A casa é enorme, cheia de quartos, banheiros e uma piscina incrível mesmo estando tão próxima ao mar. Luzia me explicava cada detalhe da arrumação da casa até os horários das refeições, eu anotava no meu caderninho, estou realmente animada com tudo. Um emprego de carteira assinada, onde não terei o cansaço de ir e voltar de ônibus além de poder ficar em paz sem medo de Diogo e da sua aproximação forçada.
— O patrão viaja muito, mas quando volta dá grandes festas, são nesses dias que trabalhamos muito, eles não mexem conosco. Somos invisíveis, você trabalha no meio, então já sabe como é. Aparecida, eu vou servir e você prepara tudo, somos invisíveis sim, no entanto na hora da animação eles podem querer mexer com você pois é bonita e educada.
— Fico na cozinha, eu adoro cozinhar, faço de tudo. Minha avó me ensinou todo tipo de comida chique, vou amar ficar longe de confusão.
Luzia ficou bem feliz ao ouvir meu gosto em cozinhar, muitas diaristas não cozinham, apenas fazem o básico, mas eu faço de tudo. Ninguém nunca mexeu comigo, eu não sou digamos atrativa, não tenho a mesma vaidade que as meninas do bairro que usam extensão de cílios ou unhas postiças, isso é muito caro.
— Ótimo! Vamos dar muito certo, Aparecida. Pode ir na sua casa buscar suas roupas e outros pertences, nossas refeições são feitas uma hora antes de servimos o senhor Edgar, ele é jovem e gosta de se manter em forma portanto não fazemos nada gorduroso ou com carboidratos, deve ser rico em proteínas como também folhas, verduras e legumes.
Janaína também está preocupada em manter a forma, portanto come como se fosse um passarinho em pequenas porções com receitas fit que graças a ela tive que aprender a fazer.
— Sei preparar receitas fit não precisa se preocupar com isso, eu já trouxe minhas coisas, sei que foi antecipado, mas eu senti no meu coração que a senhora ia me contratar.
Peguei minha mala com minhas poucas roupas encostadas na cozinha, ela me levou até o meu quarto, próximo ao dela e também perto da cozinha, o lugar é arrumado e bem arejado com uma vista linda para o jardim.
— Você vai se adaptar rápido, Aparecida, tudo que tiver dúvida é só me perguntar, temos folga pelo menos um final de semana do mês, pode escolher se não ir contra a minha folga.
Eu não iria me colocar em prioridade, preciso manter esse emprego e não criar atrito por folgas, minha avó e irmão não criaram obstáculos para que possam vir, acredito que até gostaram do meu novo emprego, penso que esse ano vai ser tudo diferente.
— O patrão não está, por isso, ainda não vai conhecê-lo. É um bom rapaz, trabalho para família a anos, não terá problemas com pagamentos e benefícios, são justos, agora me entregue seus documentos, vou entregar para o responsável pela parte administrativa do patrão cuidar de tudo.
Pela primeira vez terei carteira assinada, talvez possa até voltar a estudar, um curso técnico que não tomaria muito do meu tempo. Esse trabalho acendeu a chama do meu desejo de estudar e ter uma vida melhor, entreguei meus documentos para ela enquanto saia. Fui até o lado de fora da casa segurando meu terço e rezando para agradecer. De repente sinto a presença dele, Cunha tem um perfume tão bom que já consigo reconhecer.
— Bom dia, Aparecida.
— Bom dia, Cunha. Tenho novidades. Agora vou trabalhar aqui nessa mansão de maneira definitiva, sem diárias e o melhor sem ter que pegar ônibus.
Ele sorriu mostrando como está feliz por mim, Cunha é um homem tão bonito que penso estar sonhando em tê-lo tão próximo de mim.
— Isso é bom, Aparecida, parabéns! Você já começa hoje?
— Não. Mas já trouxe minhas coisas, o patrão está viajando, portanto não vou conhecê-lo ainda, é um homem ocupado que viaja muito.
— Gostaria de convidar você para almoçar, é um restaurante de prato feito perto daquele terminal de ônibus. Aceita?
É impossível dizer não para esse homem, ele tem um jeito tão educado de me tratar e conseguir o que quer de mim. Estou realmente encantada com ele, aceito o convite para almoçar, ele disse que irá me buscar, fico a manhã inteira aprendendo sobre os afazeres da casa com Luzia mas quando chega a hora do almoço corro para portaria, Cunha já está me esperando.
— Pontual. Gosto disso em você! Vamos, linda?
Subi na garupa da moto colocando o capacete que ele tinha me dado um dia antes, chegamos rápido no restaurante encontrando o lugar já cheio, haviam vários tipos de trabalhadores recebendo suas refeições, Cunha pegou na minha mão entrelaçando nossos dedos como se fôssemos namorados, meu coração parecia que ia explodir de tanta alegria, encontramos uma mesa do lado de fora para almoçamos.
— Dois pratos feitos com ovos fritos e uma jarra de suco de laranja, por favor.
Ele tem uma voz impotente, de comando, a garçonete trouxe os pratos rapidamente junto com o suco, o jeito que come como se fosse um príncipe me fez rir.
— Porque está rindo?
— Você come como um príncipe e de garfo e faca, olha ao redor.
Ele olhou ao redor observando cada cliente e começou a rir com certeza confirmando minha tese.
— Você tem razão, Aparecida, mas em minha defesa fui educada em uma casa de gente rica e chique, eles meio que exigiam essas bobagens. Acabei pegando costume.
— Eu imaginei! Me conte sobre você, Cunha.
Ele contou sobre o pai ausente que a mãe morreu quando era criança e foi criado pelas amigas da mãe que eram empregadas na casa que nasceu. Cunha é praticamente órfão apesar do pai estar vivo, nós temos tanto em comum.
— Cunha, você já namorou?
— Sim, várias vezes quase fui noivo, mas não deu certo. Mulheres são complexas mesmo eu que já tive minha cota de relacionamentos, sei que precisa de muita paciência para não acabar, além disso, elas ficam animadas e curiosas no começo depois que a animação como também a curiosidade acabam, terminam.
Deve ser solitário viver assim, tendo muitas namoradas mas nunca sendo assumido realmente. Seguro a mão dele sob a mesa recebendo um sorriso bonito em agradecimento, eu sinto que ele é um bom homem.
— Lamento de verdade, elas não mereciam você, é um homem bom, Cunha, eu sinto isso.
— Você que é um anjo, Aparecida, sempre vendo o melhor em tudo. Hoje a noite quero levá-la para tomar um sorvete na praia, você aceita?
Como eu negaria depois do melhor almoço que tive na vida. Aceitei ir com ele tomar sorvete, eu aceitaria ir em qualquer lugar se a minha cia fosse ele, é um homem gentil, bom e educado. Talvez a vida esteja sorrindo para mim pela primeira vez depois de tudo que já sofri.
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Entre Sombras e Redenção (concluído)
RomanceSob o véu da redenção, Edgar e Aparecida dançam na penumbra do destino entrelaçado. Entre sedução e resistência, uma obsessão floresce, guiando-os por caminhos inesperados. Chantagem tece laços que os aprisionam, mas nas sombras, uma conexão profun...