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Algumas semanas depois

Aparecida

Parece que minha vida se tornou um ciclo vicioso de perseguição, abuso, assédio e desilusões, a clínica foi até o momento que vi Diogo um ambiente bom para minha recuperação, mas tudo que tive aqui foi tormento depois que soube que sempre viria aqui. Diogo vem todos os dias alegando vir visitar a mim e sua mãe ela também está internada aqui, tentei me aproximar dela para pedir que conversasse com seu filho para ficar longe de mim.

Mas ela simplesmente me ignorou, disse que deveria estar grata de ter um homem tão bom como o filho dela indo atrás de uma funcionária qualquer, ela não acredito que sou uma interna, tentei falar com meu pai por várias vezes e ele não me atendeu sempre ocupado, com certeza percebeu que o melhor é esquecer a existência do erro que cometeu no passado.

Aqui não posso tomar meus remédios em doses a mais, eles monitoram tudo, ao invés de estar me curando estou ficando cada vez mais deprimida, eu não suporto mais ficar presa aqui sem saber o que esperar a cada dia. Decidi por ficar trancada no quarto assim evito ser incomodada por Diogo e suas investidas, ele tentou me violentar a última vez só não fez porque consegui fugir dele além dos beijos forçados e suas tocando meu corpo como se tivéssemos intimidade, eu tento fugir, negar e afastar mas sou mais fraca que ele.

Agora eu tenho que ficar aqui dentro do quarto como uma prisioneira. Ouço batidas na porta, deve ser algum funcionário para falar sobre o almoço, eu não me alimento bem, na verdade, nem mesmo sinto fome. Talvez morra rápido, assim acabo com esse martírio de viver desse jeito.

— Obrigada! Eu estou sem fome.

Silêncio. Até que percebo que a pessoa tenta forçar a porta para abrir, meu Deus, parece que vivo em um pesadelo seguido de outro pesadelo.

— Abra a porta, Aparecida, sou eu, Diogo. Precisamos conversar, por favor.

Eu não aguento mais! Já pedi ajuda para todos e ninguém parece querer me ajudar, o psiquiatra amigo do meu pai e dono daqui apenas fez vista grossa, disse que estou inventando para causar problemas para meu pai como todo bastardo faz, minha cabeça dói e ainda falta tanto tempo para tomar meu remédio.

Ele consegue abrir a porta, resolvo desistir, não há nada que possa fazer para fugir. Todos me abandonaram, não tenho família, amigos ou alguém para pedir ajuda. Estou sozinha e desamparada como sempre, ele se aproximou e ao mesmo tempo me afastei com medo do que poderia fazer comigo. Ele fechou a porta com a chave, provavelmente conseguiu com a influência que tem aqui dentro.

— Aparecida, porque está fugindo de mim? Eu amo você, não precisa fugir de mim, só quero me desculpar pelo que fiz naquele dia. Mas tem que entender, estou esperando por tanto tempo para ter você como sempre quis, se nega, e não deveria. Régis me contou sobre sua origem, seu pai abandonou você aqui, sua avó está morta e nunca pode contar com seu irmão, um drogado que só se mete em confusão. Eu posso cuidar de você, eu tenho tudo planejado.

Diogo é tão influente que conseguiu descobrir sobre mim e meu pai, coloco as mãos no rosto totalmente desesperada, o que esse homem quer de mim?

— O que quer de mim, pelo amor de Deus? É sexo? Eu posso ficar com você só para me deixar em paz. Não aguento mais, Diogo, é isso que quer, não é?

— É, eu sempre quis isso, só que vamos ficar juntos como deveria ser desde do começo agora venha aqui, já estou perdendo a paciência. Eu sou o homem certo para fazer você feliz, mas tudo tem limite, e quero transar com você e não vou mais esperar.

Deixei que se aproximasse percebendo seu sorriso vitorioso, todos ganham de mim no final, não consigo me defender de ninguém uma fracassada deprimente, as poucas forças que me restaram não são suficientes para lutar. Simplesmente cansei de tudo, só quero que acabe rápido e eu possa dormir.

Edgar

Demorou semanas para finalmente encontrar a maldita clínica, Jonatas como sempre eficiente conseguiu descobrir pelas movimentações bancárias do meu pai onde estava mandando o dinheiro, um antigo amigo, dono de uma clínica de repouso. Não foi difícil entrar no lugar pagando com suborno os seguranças e funcionários, o quarto dela ficava em uma ala separada para os mais jovens.

Apenas trouxe Jonatas comigo deixando os outros homens do lado de fora, ele e eu estamos vestidos de maneira casual como os funcionários nos orientaram, estou louco de saudades da minha submissa, preciso vê-la e sentir seu corpo perto de mim. Jonatas observa todo o corredor percebendo que não há ninguém e continua seu caminho, sigo sabendo que não preciso me preocupar pois é atento com todo e qualquer movimento.

Quando chego na porta tento abrir mas está trancada, percebo que ela está com alguém no quarto. Aparecida está chorando, posso ouvir o som abafado, não perco tempo derrubando a porta, vejo o desgraçado do policial em cima dela, ela está sem roupa com o rosto banhado por lágrimas, a minha vontade é de gritar e socar a cara do maldito mas Jonatas fez melhor tirando ele de cima da minha mulher o mantendo longe enquanto o cara grita dizendo que Aparecida pertence a ele.

Tenho que ser frio e tranquilo para acalmar Aparecida, ela tremia cobrindo seu corpo com um lençol, seus olhos demonstrava seu desespero, não olhou para mim como se estivesse com vergonha, segurei seu rosto a obrigando a olhar para mim, Aparecida não desviou seu rosto ou fugiu como imaginei.

— Ele estuprou você? RESPONDA!

Calada. Seu silêncio me deixava ainda mais furioso, não com ela, mas com a situação que foi colocada, segurei mais firme seu rosto percebendo como está aérea.

— Eu não vou machucá-la, amor, só diga se ele forçou dentro de você.

Ela não conseguia, apenas chorava, Jonatas se mostrava calmo, no entanto quando deixou o desgraçado inconsequente com apenas um tapa leve em um ponto específico do pescoço percebi que talvez não tivesse tanto assim. Dos meus homens é o mais bem treinado, não é atoa que é meu braço direito.

— O que faço com esse monte de merda em forma de homem? Posso dar um fim nesse infeliz, ninguém vai sentir falta.

— Chame os outros homens para ajudá-lo a tirar ele daqui, vou cuidar da minha mulher.

Jonatas ligou para os meus homens, o dinheiro foi a facilitação perfeita para deixar toda área ao redor do quarto de Aparecida sem nenhum funcionário, os homens entraram e tiraram o infeliz do quarto.

— Quer que eu tente falar com ela, senhor?

— Não, Jonatas, leve esse infeliz para aquele armazém no fim da cidade, eu vou conversar com minha mulher.

Aparecida continuava em outra dimensão chorando, agora sozinhos aqui no quarto talvez consiga dizer o que houve.

— Minha Aparecida, diga se o desgraçado estuprou você, eu não vou castigar você ou julgá-la. Se aconteceu, amor, não foi culpa sua, preciso saber pois tenho que cuidar para que não pegue nada dele. Agora, diga para seu dono, ele violentou você?

— Não. Ele...quase conseguiu, meu Deus.

— Está tudo bem, Aparecida. Agora preciso da sua atenção e foco, vamos sair desse lugar. Preciso que se levante, ele machucou você, amor?

Ela negou mas sei bem que ficará com a memória desse infeliz forçando ter algo com ela, Aparecida se rendeu aceitando que não teria escapatória consigo ler seu olhar e entender que não lutou pois estava cansada. A ajudei a se levantar escolhendo sua roupa quando ela pegou a mala, fiz  um sinal com dedo em negativo.

— Desse lugar você não leva nada, amor. Suas roupas e outras coisas estão em nossa casa do jeito que você deixou. Não podemos demorar, venha.

Segurei sua mão firme junto com a minha beijando seus dedos, eu amo Aparecida e agora que está finalmente ao meu lado não vou deixar partir, preciso dela como ela precisa de mim. Um completa o outro e não vou aceitar que nos separem de novo.

Entre Sombras e Redenção (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora