Aparecida
Eu não conseguia parar de beijá-lo como se fosse um vício, mas um vício bom, Cunha também parecia não querer parar. Uma felicidade imensa preenchia o meu peito, a sua promessa de felicidade me deixou tão esperançosa, sei que é cedo demais, no entanto penso em casamento e até em ter uma família com ele. Cunha seria um bom pai, pois sabe a falta que um pai faz na vida de um filho.
Quando finalmente nos largamos, ele parecia tão aéreo como se estivesse arrependido, será que fiz algo errado? O fato de ser inexperiente pode tê-lo feito pensar que não sou boa o suficiente para ele. Respiro fundo ajeitando meu cabelo, o vento acabou me deixando despenteada, eu nunca me importei com isso mas perto de Cunha, quero sempre estar bonita.
— Porque tem cabelos curtos, é por conta do calor?
— Eu tinha cabelos longos, na infância, antes da minha mãe morrer. Quando ela faleceu, minha avó os cortou e nunca mais deixou crescer, ela alegou que foi por causa dos piolhos e que era difícil cuidar. Só que eu sei que não era isso, eu sou muito parecida com minha mãe, ainda mais com os cabelos grandes. Olhar para mim, às vezes, causa dor a ela, e eu entendo.
Eu perdi assim como ela, porém a perda dela com certeza foi muito maior. Vovó se sente culpada pelo que houve, minha mãe foi adoecendo aos poucos, um choro escondido no banheiro, os dias que ficava deitada com o quarto trancado, meu progenitor e sua família destruíram minha família, no final restou minha avó autoritária, meu irmão viciado e eu uma potencial suicida.
— Lamento! Se servir de consolo, gosto do seu cabelo cacheado e curto.
— Obrigado. Você é sempre tão meigo ou só depois de um beijo que fica assim?
Como sou encantada com seu sorriso, é até difícil de acreditar que um homem tão bonito como ele pode querer namorar comigo. Ficamos mais um pouco na praia, de repente, uma mulher foca sua atenção em nós, começa a andar em nossa direção sorrindo para Cunha, ele fica desconfortável no mesmo instante.
— Aparecida, vá até o quiosque do sorvete e me espere lá.
— Tudo bem.
Eu caminhei até o quiosque preocupada com Cunha, o jeito como ficou desconfortável com a moça me deixou em alerta, será que é uma ex-namorada? Tomara que não, já gosto muito dele para não continuar com o nosso namoro, espero que não seja nada sério.
Estar
— Boa noite, Edgar, que coincidência encontrar você aqui. Ainda acompanhado, não sabia que gostava de garotinhas de baixa renda, agora está fazendo caridade. Se me lembro bem, você não gosta de se misturar.
— Susana, as pessoas mudam. Até mesmo você sendo filha de uma família tão tradicional pode ter seus momentos, não é? Como a vez que transou com todos aqueles empresários no evento de moda em Paris em uma única noite apenas para conseguir o convite do dia seguinte.
Eu sabia que Susana não iria perder a oportunidade de se aproximar de mim, o problema é que conheço seu passado. Como pude cogitar tê-la como esposa quando tenho Aparecida, viro para trás vendo que está sentada tomando mais uma casquinha de sorvete, calma e submissa, além de ser bem obediente, Aparecida não perguntou nada.
— Como sabe disso? Anda me espionando ou investigando minha vida, Edgar? Talvez ainda esteja com saudades.
— Nesse mundo da moda, Susana, as pessoas são bem fofoqueiras, mas sei que entende isso. Não precisei investigar ou espionar nada, apenas quero que se afaste de mim, não seria interessante se toda alta sociedade soubesse sobre você e sua inclinação promíscua.
— Tem razão, Edgar, apenas fiquei curiosa para saber o motivo de trocar os melhores partidos da cidade por uma ninguém, é algum tipo de diversão ou estudo social? Só cuidado para não engravidar ela.
Não devia satisfação alguma para essa mulher, no entanto, é interessante vê-la se corroer por saber que está sendo devidamente trocada.
— Susana, cuide da sua vida, que da minha eu sei muito bem cuidar. Procure alguma ocupação, deve estar bem desocupada para me perturbar na parte não privada da praia.
Virei as costas acenando para Aparecida, minha linda submissa sorriu acenando de volta, a entrega dela é total, talvez nunca enjoei desse jeito ingênuo e obediente dela, jamais tive uma submissa tão perfeita como ela.
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Entre Sombras e Redenção (concluído)
Roman d'amourSob o véu da redenção, Edgar e Aparecida dançam na penumbra do destino entrelaçado. Entre sedução e resistência, uma obsessão floresce, guiando-os por caminhos inesperados. Chantagem tece laços que os aprisionam, mas nas sombras, uma conexão profun...