Entre Sombras e Redenção (concluído)

26

Edgar

Tudo que queria depois de um dia como esse é trepar com minha submissa no quarto do clube sem preocupações, a ouvindo gemer meu nome e dizer como é gostoso estar comigo, quando encontrei a casa silenciosa no final da tarde e Jonatas parado na sala como se estivesse esperando a minha chegada soube que algo estava errado. Corri até o quarto dela, não encontrando nenhuma roupa dela, apenas os presentes que dei a ela.

—  Onde ela está?

—  Washington a levou para casa do senhor Raimundo por ordens do nosso pai. Algo de muito sério aconteceu, houve uma movimentação na casa da avó dela, a senhora parecia bem preocupada quando chegou em casa, Cido também estava bem fora de si.

Meu pai movendo as peças do jogo da minha vida novamente pensando que tem poder sob mim mesmo que tenha deixado bem claro que não tem. Não permitiria que tirasse Aparecida de mim, ela assinou um contrato, tem uma dívida comigo que não foi quitada.

— Vou buscá-la agora. Meu pai não vai se intrometer na minha vida de novo, Jonatas, por que não impediu essa loucura?

— Senhor, meu pai estava no sítio e foi convocado pelo seu pai, provavelmente seu pai sabe de algo muito sério em relação a Aparecida que fugiu de nossa atenção no momento de nossas investigações, por isso pergunto: há alguma possibilidade do seu pai ter tido algum envolvimento com a mãe morta de Aparecida?

Isso não é possível. Minha mente começou a processar a pergunta de Jonatas sabendo que ele poderia ter razão no que estava falando, meu pai não poderia ser o homem que abandonou a mãe de Aparecida, seria uma merda se fosse verdade. Resolvo ir até a casa do meu pai para entender o que realmente está acontecendo, o lugar é em condomínio afastado da cidade, minha chegada foi rápida, mas barrada pelos homens do meu pai, até que ele mesmo foi até a portaria conversar comigo.

— Edgar, quero que vá embora, consegui acalmar Aparecida a medicando e sua presença aqui não ajuda em nada.

— O que estava pensando quando tirou a Aparecida de dentro da minha casa? Ela é minha. Assinou um contrato afirmando isso, além da dívida que possui comigo. Vim buscá-la, pai, permita minha entrada.

— Não, meu filho! Revogue esse contrato, encerre essa dívida. Já solicitei a coleta do sangue dela, Aparecida atendeu meu pedido de bom grado depois que contei sobre a possibilidade de ser minha filha. Por favor, esqueça essa história com Aparecida. Entendo que cometeu um erro sem ter noção do que estava fazendo, mas agora que sabe não pode continuar com isso.

Aparecida não é minha irmã, não vou aceitar isso. Imagens dela sorrindo enquanto recebia meus beijos e como se entregava a mim sem medo do que poderia fazer com o seu coração passam diante dos meus olhos. Isso tudo é uma loucura.

— O exame vai dar negativo, pai. Quando isso acontecer, vai devolvê-la para mim, não vou permitir que fique com ela para você.

— O que está insinuando, seu moleque? Ela é minha filha, sei disso, jamais tocaria nela dessa forma.

— Velho mentiroso. Não acredito em você, espero que este exame saia logo, assim que estiver disponível, me acione.

Não adiantava ficar aqui nesse portão esperando uma oportunidade para pegar Aparecida, o melhor é esperar o exame sair, mesmo que o resultado não seja o que estou esperando, não me importo de qualquer forma, tenho que ter Aparecida a qualquer custo.

Aparecida

O sono levou minha mente para o dia que mamãe se matou, levantei-me da cama apavorada com a possibilidade de que tudo dito pelo senhor Raimundo fosse verdade, transei com meu próprio irmão várias vezes sendo sua boneca para sodomizar e aproveitar, quando meu suposto pai contou sobre o nosso possível parentesco, tive uma crise de pânico terrível seguida por vômitos, eu não podia acreditar que minha vida havia se tornado algo abominável.

Edgar não sabia, o que não ajudou em nada na verdade, o meu consolo é pensar que tudo vai acabar assim que esse exame sair, e um tempo longo para saber a verdade, mas prefiro assim do que viver com essa incerteza. O quarto onde fui colocada é bonito e bem luxuoso, eu só não sei até quando tudo isso vai durar, desço as escadas indo direto para cozinha, é estranho estar aqui como hospede quando normalmente estou limpando ou cozinhando em lugares como esses.

Resolvo fazer um café, não foi difícil encontrar os utensílios necessários para fazer uma garrafa, logo o senhor Raimundo aparece com sua expressão de repressão, sei que pediu para não fazer nada em sua casa, mas não consigo ficar parada sendo que sempre fui útil.

— Aceita uma xícara de café, senhor Raimundo?

— Sim. Mas não quero que trabalhe na minha casa, aqui você é uma convidada e acredito que em breve moradora mesmo que temporariamente.

Não sabia quais eram os planos dele para mim, com certeza, se for sua filha dará um jeito de corrigir seu deslize me mandando para bem longe daqui. Assim ficarei longe de Edgar podendo esquecer tudo que houve. Sirvo a xícaras de café acompanhado com algumas bolachas que encontrei em um pote, faço uma nota mental de fazer biscoitos caseiros para deixar aqui para o senhor Raimundo.

— Se o exame for positivo, para onde o senhor pretende me mandar?

— O exame será positivo, Aparecida, não tenho dúvidas que é minha filha. Será enviada para a Europa, tenho alguns imóveis em Portugal e na Espanha, pode escolher entre esses dois países, com tanto que não permaneça aqui no Brasil.

Entendia perfeitamente o lado dele, ficar aqui seria perigoso para sua reputação, ainda assim, tenho preocupações relacionadas a Edgar e Cido.

— E meu irmão?

— Ele está desaparecido, querida. Mas estamos procurando, assim que encontrar, vai ser internado em uma clínica de reabilitação. Sobre Edgar, com o exame positivo em minhas mãos, não poderá fazer nada contra você.

Não tinha tanta certeza disso, uma obsessão como a dele não se acaba da noite para o dia, ele pode querer se vingar por não conseguir ter a mim como deseja.

— Não consigo acreditar que tudo isso poderia ter sido evitado se minha avó tivesse contado a verdade. Quando penso nas coisas que fiz com Edgar, meu próprio irmão, tenho vontade de sumir.

— Querida, não foi culpa sua, muito menos dele. Vocês não sabiam, o erro foi meu que acreditei em alguém como sua avó e deixei Nalva sozinha quando ela mais precisava de mim. Você me lembra muito ela, seu jeito dócil e fácil de lidar são o que mais me fazem lembrar de sua mãe. Espero, minha filha, que possa me perdoar por toda negligência e abandono, a partir de agora terá tudo que lhe foi negado.

Esses 20 dias até o exame ficar pronto serão difíceis, espero que tudo se resolva, vou aceitar o que o senhor Raimundo tem a oferecer, meu coração apenas se aperta ao pensar em Cunha e como tudo que vivemos nunca deveria ter acontecido.