Edgar
Jonatas coletou minuciosamente todas as informações que eu necessitava. A mãe de Aparecida se matou quando ela tinha apenas 5 anos, testemunhando o suicídio diante dela e de seu irmão. A avó assumiu a responsabilidade pela criação dos netos, mas várias ocorrências do conselho tutelar surgiram devido às faltas constantes na escola e à ausência de matrículas ao longo de vários anos para ambos.
Aparecida concluiu seus estudos, enquanto seu irmão Aparecido não teve a mesma sorte. Desde os 16 anos, ela trabalha como diarista, colaborando com a avó ou sozinha. A família enfrenta dificuldades financeiras, e o irmão está envolvido em atividades ilícitas, prestando serviços para uma gangue que costumava subornar a polícia, embora agora esteja relutando em continuar com isso.
— Essa gangue compra de nós? — indaguei.
— A pergunta correta, senhor, é quem não compra de nós? Somos os principais fornecedores, eliminando a concorrência. O que exatamente o senhor precisa?
Preciso de Aparecida: de seu corpo, obediência e submissão. Ela é perfeita para o que desejo, e suspeito que conseguirei descobrir rapidamente o que quero. Aparentemente, ela carece de atenção, afeto e, principalmente, de alguém que a proteja contra o mal que a cerca. Tenho que torná-la completamente dependente de mim em todos os sentidos.
— Coloque homens disfarçados para vigiar ela. Em seguida, verifique com a gangue em que o irmão está envolvido quanto ele deve; vou comprar sua dívida.
— Senhor, com todo respeito, essa garota vale todo esse esforço? Ela não está na mesma posição que o senhor ocupa.
Não me interessa. Dessa vez, terei o poder absoluto, a capacidade de decidir sem medo de represálias ou descontentamento.
— Exatamente por isso que ela vale o esforço, Jonatas. A palavra final será minha, não dela. Quero relatórios diários dela, onde vai, com quem conversa e, acima de tudo, se realmente não tem ninguém.
Não parecia estar mentindo, mas mulheres têm um dom único de enganar. Preciso ter certeza de que não há mais ninguém. Jonatas deixa meu escritório, e Luzia entra, certamente cobrando uma posição sobre a ajudante. Agora que tenho todas as informações sobre minha futura submissa, vou indicar Aparecida.
— Antes que diga algo sobre o assunto, aqui está o contato da moça que será sua ajudante. Diga que foi uma indicação. Ligue agora. Faça a entrevista; sei que vai gostar dela.
Luzia pega o papel, lê e sorri. Certamente, ela gosta do nome. Ela é bastante católica e provavelmente percebeu o nome da minha próxima submissa. Preciso ter cuidado para não aparecer antes do momento certo; tenho que descobrir se Aparecida é adequada para os meus planos.
Aparecida
Ele realmente veio. Fiquei no portão para evitar que entrasse, e, é claro, veio fardado para intimidar. Cada vez que tentava tocar em meu rosto ou qualquer parte do meu corpo, eu me esquivava. Diogo parecia querer marcar território como um cachorro que marca um poste, e neste caso, eu sou o poste.
— Cida, desse jeito fica difícil! Namorados se beijam, se abraçam e transam. Sei que nunca namorou, mas esse jeito está demais. Parece que não quer.
— Mas eu não quero mesmo! Diogo, eu não sou a mulher que espera. Olhe ao redor, sou órfã, criada pela avó, meu irmão só faz besteira. O que quer de mim?
Não quero esse homem perto de mim. Os membros que comandam esta região podem pensar que estou envolvida com um policial, e meu irmão está ligado à gangue que domina o crime local. Isso pode trazer muitos problemas, e já tenho problemas demais na minha vida.
— Irmã, o que esse cara está fazendo aqui?
Claro que Cido apareceria em um horário incomum para encontrar o policial que invadiu nossa casa. Devo ter muitos pecados para passar por tudo isso.
— Não é da sua conta, vagabundo. Vai para aquele buraco onde estava agora pouco com seus amiguinhos.
Diogo sabe exatamente onde meu irmão estava. Esse homem pode prejudicar meu irmão só porque não quero ficar com ele.
— Diogo, por favor, vá embora! Já está tarde, e amanhã eu preciso ir trabalhar. Não faça confusão na minha porta!
Ele resolveu atender meu pedido, entrando na viatura. Certamente está sozinho de propósito, policiais costumam se proteger mutuamente, assim como bandidos fazem. Cido me puxa para dentro de casa; minha avó está trabalhando dobrado no restaurante devido a um evento no local.
— Está ficando com esse cara?
— Claro que não! Ele que está me perseguindo, e o que posso fazer contra isso? Você está envolvido no movimento, e eu não posso deixá-lo fazer mal a você e à vovó.
Ele provavelmente tem uma namorada e está tentando estragar a minha vida. Eu sei como essas coisas acontecem; já vi essas histórias muitas vezes. Pessoas como Diogo não se envolvem com alguém como eu; eles usam e descartam. Por isso, não sinto atração por ele, nem por bandidos que podem arruinar minha vida de uma forma irreparável.
— Vou pedir para o Formiga arrumar proteção para você, de verdade. Não quero esse cara perto da nossa casa.
Formiga é o dono da região. Estudei com ele na escola; acredito que seja um cara legal, que acabou indo para o caminho errado devido às circunstâncias de sua família problemática. Resolvo não me opor; quero Diogo bem longe de mim, principalmente agora que estou conhecendo Cunha.
Meu celular toca na mesa; percebo que é um número desconhecido. Atendo, pois pode ser alguém do restaurante. Minha avó é teimosa; acredita que pode trabalhar sem parar.
— Boa noite, falo com Aparecida Santos?
— Sim. Quem é?
— Meu nome é Luzia. Recebi indicação do seu nome; estou precisando de uma ajudante de serviços gerais para início imediato. É um trabalho de carteira assinada com benefícios. O único detalhe é que vou precisar que, caso aceite, durma aqui em casa. Meu patrão faz muitos eventos, asseguro que paga todas as horas extras, caso seja preciso.
Eu estou sonhando. Só pode ser para explicar esse milagre na minha vida. É tudo que preciso para ficar longe daqui e poder ajudar a minha família de verdade.
— Eu aceito. Quais os documentos que a senhora precisa? Posso começar amanhã, se quiser.
— Venha conversar comigo que irei passar tudo que precisa. Gostei da sua resposta firme, menina. Sinto que daremos muito certo!
Apesar dos problemas, Deus está colocando bons motivos para querer viver. Primeiro, Cunha, que parece ser o homem que procurei. Agora, um emprego de carteira assinada e com excelentes benefícios. Sinto que minha vida vai mudar.
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Entre Sombras e Redenção (concluído)
RomansaSob o véu da redenção, Edgar e Aparecida dançam na penumbra do destino entrelaçado. Entre sedução e resistência, uma obsessão floresce, guiando-os por caminhos inesperados. Chantagem tece laços que os aprisionam, mas nas sombras, uma conexão profun...