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Aparecida

Eu precisava dormir, só não conseguia. Enquanto Edgar estiver perto de mim ou tentando entrar na minha vida não vou conseguir seguir em frente, o pior é que ele seguiu seu caminho saindo com outras mulheres e vivendo sua vida como se nada tivesse acontecido. Nem mesmo meus antidepressivos fizeram efeito, continuo com a mesma roupa bonita e de marca que usei para o jantar.

A maquiagem borrada refletida no espelho da sala junto com o cabelo desarrumado só deixava toda situação ainda mais vergonhosa e humilhante. O que eu estava pensando? Uma empregada doméstica, filha bastarda e ainda por cima vagabunda do próprio irmão mais velho, não poderia ter uma segunda chance.

Resolvo tirar o vestido, as joias bonitas junto com os sapatos de salto alto deixando espalhados pela sala, o que estava pensando quando aceitei isso tudo? Eu não vou ter uma família bonita como sempre sonhei, a solidão será minha cia para o resto da vida, vou para o meu quarto totalmente nua indo na direção do banheiro tiro toda maquiagem ficando de cara limpa, vou direto para a cama confortável deitando minha cabeça no travesseiro, tudo aqui é bom e caro.

As roupas, as joias, as bolsas e o dinheiro que posso usar quando quiser, só não consigo esquecer de tudo antes de ter tido isso. Se Cunha não tivesse entrado no meu caminho tudo seria diferente, ainda assim, eu consigo sentir seu cheiro, o gosto da sua boca que ficava em meus lábios depois do beijo como parecia ser certo estar com ele. No final, eu sabia que era errado, de alguma forma quando o efeito do remédio passava vinha a certeza da grande merda que estava fazendo.

Eu sonhava com uma vida que não poderia ser minha, vivendo uma realidade que não merecia, fecho os meus olhos para tentar dormir, mas de repente ouço um barulho na parte de baixo da casa, coloco uma camisola sob o corpo indo até a escada para ver quem está na sala. Vejo Edgar com uma garrafa de bebida enquanto soltava uma fumaça com certeza de cigarro na sala, se sentou no sofá observando o ambiente fixando seu olhar no vestido que deixei perto do espelho.

— Vagabunda! Deixou o rastro de sexo na sala nem para comer você no quarto o engenheiro bosta não conseguiu. Eu teria tratado você melhor, minha cadelinha linda, sempre tratei você como uma princesa. A minha cadelinha obediente. APARECIDA, ONDE VOCÊ ESTÁ?

Ele abraçou meu vestido com tanta força como se fosse eu ali com ele, beijou o tecido como se estivesse beijando meu corpo, é torturante desejá-lo, ainda mais depois de tudo que fez comigo.

— Edgar, vá embora.

— Apareceu a margarida! Onde está o desgraçado? Deve ter comido você como quis e foi embora, não é?

— Não devo satisfação da minha vida a você, Edgar, vai embora. Sabe bem que não pode ficar me perseguindo, sei que seguiu sua vida porque não vai ficar com suas modelos ricas e gostosas? Precisa parar com essa loucura!

Os reflexos dele apesar de bêbado estão bons já que vai até onde estou perto da escada jogando meu corpo na parede mais próxima.

— Você é minha, Aparecida, ele tocou no seu corpo?

Edgar começou a passar lentamente suas mãos em meu rosto descendo seus toques por todo corpo tocando gentilmente em cada parte, eu não consigo fugir disso, porque no fundo gosto dos seus toques.

— Ele beijou sua boca? Seus lábios estão ainda mais lindos, minha cadelinha, eu preciso beijar você, entendo que não posso, mas é só um beijo, depois vou embora.

Seus polegares tocam meus lábios desenhando o contorno deles, eu deveria resistir e lutar contra, só que algo mais forte em mim não deixa, meu interior quer ele perto, quer seu toque e seus beijos. Sei que Edgar não tem amor por mim, e mesmo assim não consigo resistir à atração que tenho por ele. As lágrimas começaram a cair dos meus olhos sem que pudessem evitá-las.

— Não chora, é só um beijo, você sempre gostou. A questão aqui, cadelinha, é que eu não posso obrigá-la, não seria certo, precisa deixar.

— Porque faz isso comigo, Cunha? Sabe que não pode oferecer nada além de algo momentâneo, eu preciso de mais, eu quero mais. Depois do beijo vem o sexo, você sabe que não vamos parar, e mesmo assim está aqui em cima de mim focado em tirar minha sanidade completamente.

Edgar segurou meu rosto ainda mais forte aproximando seus lábios da minha boca, seduzindo e brincando com a minha mente como gosta de fazer, não consigo resistir, e permito que sua boca toque em meus lábios, primeiro com um beijo suave depois deixando que tome controle de tudo com um beijo feroz mostrando como sentia falta do que tínhamos.

Uma de suas mãos tirou a minha camisola deixando o meu corpo exposto a ele, eu sabia o que iria acontecer, poderia evitar, infelizmente a força do desejo, paixão e amor não me deixou pará-lo, quando voltei para realidade de tudo que estava acontecendo já era tarde demais. Edgar já está dentro de mim possuindo cada parte de mim como se nada tivesse mudado, eu queria tanto tê-lo assim bem fundo dentro de mim que deixei o fato do sangue que nos ligava bem guardado minha mente, ele subiu meu corpo mandando segurar em sua cintura usando minhas pernas.

Apertei seu quadril o incentivando a ir mais fundo e rápido dentro de mim, pela primeira vez sentia que tinha o controle de tudo, que poderia ganhar o mundo inteiro só tendo o comando dele, seguro seu rosto intensificando o beijo mordendo seus lábios a cada movimento dele dentro de mim.

— Como isso...pode ser errado, cadelinha? Meu lugar é dentro de você, não tem erro aqui...só acerto, sua boceta ama meu pau, olha, ela está engolindo-o todo.

Meu coração batia em um ritmo acelerado, parecia que ia morrer e ressuscitar tudo ao mesmo tempo, fecho meus olhos sentindo a onda louca e frenética do meu gozo vindo de dentro para fora, gritei como se estivesse guardando esse grito em minha garganta por muito tempo, logo Edgar gozou bem fundo dentro de mim, eu sorri pois ao contrário do que sempre foi, agora ele não tem controle do meu corpo como antes.

Seus olhos reluziam a observar cada detalhe do meu rosto com uma calma extraordinária, Edgar estava com saudades de mim, isso é visível em seu olhar, e eu também sentia sua falta. De repente a áurea de prazer, paixão e loucura deu lugar a arrependimento, repúdio e nojo, o que fizemos? Empurrei Cunha percebendo o erro que cometemos.

— Não, Aparecida, não faz isso!

— EDGAR, SOMOS IRMÃOS. IRMÃOS NÃO FAZEM O QUE FIZEMOS AGORA, VOCÊ PRECISA DEIXAR O PASSADO PARA TRÁS, ISSO VAI ACABAR NOS DESTRUINDO.

— NÃO! EU NÃO QUERO, JÁ TENTEI, APARECIDA. TENTEI ESQUECER VOCÊ, NESSES MALDITOS SEIS MESES, E A CADA TENTATIVA FRACASSADA MAIS PENSAVA EM NÓS JUNTOS. TAMBÉM NÃO CONSEGUIU VIVER SEM MIM, EU SEI QUE NÃO SEGUIU EM FRENTE.

Isso precisava parar, não posso continuar me enganando, nunca vamos poder ficar juntos. Antes não podíamos pelas imposições sociais, e agora não podemos por algo muito mais forte, o sangue que corre em nossas veias. Um elo que jamais pode ser desfeito.

— Vai embora, por favor, eu preciso ficar sozinha.

— Não. Vou ficar aqui e dormir com você, amanhã estando ao seu lado vou convencê-la que o melhor é ficarmos juntos, voltamos para o Brasil e tudo será como antes.

— Por favor, eu realmente preciso ficar sozinha, Cunha. Saia da minha casa!

Ele percebeu que não adiantaria ficar, por isso resolveu vestir suas roupas e sair, mas antes tentou beijar minha boca se deparando com a rejeição quando virei o rosto.

— Hoje você percebeu tudo que somos, espero que não se esqueça quem é seu dono, Aparecida, pois eu não me esqueci que é minha submissa linda.

Entre Sombras e Redenção (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora