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Meses depois

Aparecida

O tempo passou rápido. Maria não foi encontrada, é triste pensar mas acredito que esteja morta. Ela escolheu seguir o caminho que a levou a isso, no fundo, eu acho que ela sempre quis morrer, Jonatas me contou como foi sua vida repleta de traumas e abusos, lamento por não ter conseguido me aproximar o suficiente. Maria tinha aversão às pessoas e no final eu a entendo, sofreu diversos abusos durante a infância e adolescência, seu coração se endureceu para a humanidade, o que não ocorreu com seus animais.

Eu ainda cuido deles. São meus melhores amigos, e consigo compreender porque foram tão amados por Maria, Jonatas vem todos os dias, cuida das minhas necessidades e apesar de pedir para parar continua pagando por tudo. Eu sei que Edgar está ajudando também, ele se mantém longe apenas indo comigo nas consultas mas não fala sobre voltarmos.

Penso que percebeu que seu sentimento por mim era apenas obsessão, fui a única que realmente amo em nossa relação, o importante é que será um pai presente para Gabriel, escolhi o nome dele enquanto lia uma passagem falando sobre a visita do anjo Gabriel a Maria para contar que foi escolhida para ser a mãe de Cristo.

Amo Edgar de todo meu coração mas reconheço que esse sentimento começou errado, primeiro me apaixonei por uma mentira, depois fui obrigada a permanecer ao seu lado, descobri que era a filha bastarda de Raimundo Cunha, minha avó morreu, meu irmão foi usado para me chantagear. Me casei, me divorciei e agora estou sozinha, começo a rir pensando em como em menos de dois anos minha vida virou de cabeça para baixo.

E tudo aconteceu porque simplesmente resolvi conversar com um homem no ponto de ônibus, se eu tivesse ignorado ou fingido de doida como fazia com os outros homens? Talvez continuaria invisível como sempre vivendo os meus sonhos de ter um marido e filhos, suprir a carência de ter uma família, no final, nada com que sonhei aconteceu.

Ouço o celular tocar, termino de colocar comida para os cachorros voltando para dentro de casa, Luzia sempre liga preocupada comigo e com meu bebê, dessa vez estranho pois o celular continuou tocando, e ela sabe que quando demoro para atender eu retorno. Quando atendo a chamada escuto a voz chorosa de Luzia, parece estar escondida pois seu tom sempre alto de falar está abafado.

— O que foi, Luzia?

— É Edgar, minha filha, ele estava indo até você. Animado para pedir que voltasse a morar em casa, ele saiu cantando e rindo ansioso para trazê-la de volta. Saiu sozinho, eu senti que não deveria, pedi para esperar Jonatas, mas ele tinha pressa, queria trazer você de volta ainda hoje.

Me sentei no sofá percebendo que os cachorros me cercaram como se estivessem observando tudo e sabendo que poderia passar mal.

— O que houve com ele? Meu Deus.

— Ele foi atingido por um tiro. Susana entrou dentro do condomínio, atirou nele e o meu menino não podia sequer correr. Estamos no hospital, querida, Edgar não está nada bem. Jonatas pediu para não avisar, mas eu não poderia deixá-la sem saber, perdão, filha.

Meu bebê se mexeu com força sentindo que eu não estava bem, durante esses últimos meses permanece distante de Edgar mesmo estando perto pois tinha medo de me magoar novamente, tantas vezes percebi que queria se aproximar, e eu evitava por medo. Não vou suportar viver sem ele, pego o endereço do hospital com Luzia, não vou deixá-lo sozinho quando precisar de mim.

Edgar

Horas antes

Eu não posso mais esperar, tenho que tomar a iniciativa, Aparecida está cada vez mais distante mesmo que tenha aceitado minha ajuda financeira e que acompanhasse nas consultas do nosso filho, percebo como manter a distância. Ela percebeu que pode encontrar um homem melhor que eu, que será mais feliz sozinha ou até pior estando com outro.

Entre Sombras e Redenção (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora