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Maria

Ele não pode perceber, se Luís notar que estou grávida, não vou conseguir fugir daqui. Eu tentei durante todos esses meses, sendo encontrada em todas as vezes. Fico a maior parte do tempo trancada dentro desse quarto, Luís é um louco, e está cada dia mais pirado. Agora veio com uma história de querer se casar comigo só para que possa ser legalizada nesse país nojento.

O assistente dele é ainda mais louco que seu chefe, todas as vezes que fugi ele conseguiu me achar. Me drogou todas as vezes, quando acordava estava totalmente nua, não é como se não tivesse acontecido antes. Ser violentada é algo que não me assusta ou deprimi mais, eu pensei que esse infeliz iria me matar mas parece que se diverte com tudo que está fazendo.

Luís abriu a porta trazendo um café da manhã digno de uma patricinha mimada, meu estômago embrulha só de sentir o cheiro mas preciso disfarçar. Ele entra sorrindo como o coringa dos quadrinhos, alucinado e sem total noção da loucura que está fazendo comigo.

— Não estou com fome, gringo, leva essas merdas embora.

— Precisa se alimentar bem, como vai carregar o meu filho estando desnutrida? Já desintoxicamos o seu corpo agora temos que fortalecê-lo, eu penso que é por isso que ainda não engravidou, viveu muito tempo como uma drogada e bêbada, dormindo mal e trabalhando a noite, isso deve ter prejudicado seu útero.

— Já parou para pensar, só por um minuto que não menti quando falei que sou estéril? Já tive um aborto, gringo. Talvez meu útero não segure fetos. Quero voltar para minha vida, só pagar minha passagem de volta, esquecemos isso, ok?

Ele coloca a bandeja em cima de uma cômoda vindo até mim como um louco, eu não tenho medo dele e acho que isso é o que mais o irrita. Quando não se importa com mais nada como eu, viver ou morrer, apanhar ou não apanhar acaba não tendo tanta importância. O dono do bairro, meu padrinho, costumava dizer que eu tinha o couro duro e a mente louca, e ele tinha total razão.

Luís segura meu pescoço apertando com força, e sorrio com sua encenação ridícula. É um perturbado com a mente totalmente desconexa da realidade, qualquer um vê isso, até o assistente dele apesar de também achar ele meio pirado.

— Talvez esteja comendo você do jeito errado ou com uma frequência que não ajude a engravidar. Nada que não possa resolver, abra as pernas, Maria.

Odeio que me chame de Maria, o pseudônimo foi um meio para não criar vínculos, algo que claramente, Luís quer criar.

— Eu não quero sexo. Não vou continuar dando para você de graça, a condição era a gravidez, não engravidei, portanto pare de fazer isso. Vá embora, e me deixe em paz.

Como ele não entende que não sinto  nada? Ele me levou para médicos, psicólogos e psiquiatras para entrar na minha mente. Só que não rola essas merdas comigo, sou fodida da cabeça e pronto.

— O combinado era até você engravidar, como não aconteceu, temos que tentar mais, talvez não tomar banho e deixar meu esperma dentro de você de um dia para o outro ajude. Eu estava pesquisando tem posições que ajudam, você pode ajudar também.

— QUE INFERNO! CARALHO DE HOMEM BURRO, EU FALEI QUE NÃO POSSO TER FILHOS, QUE MERDA!

O rosto dele foi ficando vermelho, ele está a ponto de explodir comigo mas uma vez, como estou cansada disso, além da saudades dos meus amigos, agora tenho que lidar com mais uma sessão de sermão descontrolado.

— Burra é você. Não valoriza o que estou fazendo por você, quer voltar a morar naquele lixão de bairro, naquela casa caindo aos pedaços no meio daqueles cachorros de rua, eu poderia escolher qualquer uma mas decidi por escolher você. E como me retribui? Sendo uma vagabunda mal agradecida.

Entre Sombras e Redenção (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora