Aparecida
— Gostei de ver, comeu o prato inteiro e ainda a fruta, parabéns, menina.
Luzia beijou minha testa como uma mãe faz com um filho que fez um bom trabalho, ela cuida de mim com tanto amor e carinho, nunca tive atenção assim. Minha avó gostava mais de Cido e acredito que não tinha seu amor por me parecer tanto com minha mãe.
— Luzia, a senhora colocou muita comida, a sorte é que ter enfrentado aquela mulher me deu muita fome, não só eu mas o menino aqui também ficou com fome.
Aliso o volume da minha barriga sorrindo ao sentir que meu bebê está crescendo cada dia mais. Luzia olha para mim de um jeito diferente como se estivesse pensando em algo distante do nosso momento. Desde quando Jonatas a interrogou sobre Edgar ela anda estranha, é bem perceptível.
— Eu percebo que a senhora anda estranha nesses últimos meses, não sempre, mas em alguns momentos. Não precisa se preocupar comigo e Edgar, nossa relação começou errada, o fato dele ser meu meio irmão não vai mudar o que houve.
— Eu sei, menina, me dói muito vê-la sentir falta do menino Edgar, de como vocês se amam e estão longe. No entanto, não posso contar o que sei, eu prometi que não contaria no leito de morte da mãe de Edgar. Me perdoe, menina Cida.
Jonatas tinha razão, ela sabe de algo e não quer contar, como me dói saber que eu e Edgar vamos ver a sombra dos nossos pais e de seus erros.
— Fique em paz, não posso obrigá-la a contar a verdade, queria apenas agradecer por cuidar de mim como nunca ninguém cuidou. Eu amo a senhora, e será maravilhoso tê-la aqui para amar e cuidar do meu filhinho como uma avó amável.
Abracei Luzia deixando as lágrimas rolarem no meu rosto, ela também chorava muito, não sei o que houve no passado, porém entendo que seja algo muito mais forte do que meu sentimento por Edgar. Vou até o escritório encontrando Cunha concentrado olhando o notebook, ouço a voz do meu pai e de Susana, Edgar mudou o semblante à medida que ouvia a conversa.
— Cunha, está tudo bem?
Quando percebeu minha presença seu olhar mostrava raiva, ódio e outro sentimento ruim que não consegui identifica, sua postura mostra que agora é o meu senhor que está assumindo o ambiente, abaixou a cabeça me ajoelhando em sua frente, Edgar anda ao meu redor como se estivesse analisando cada detalhe meu.
— Cadelinha, olhe para mim.
Olhei percebendo que estava chorando mas sorrindo ao mesmo tempo, eu não ouvi bem a conversa mas provavelmente foi algo muito sério, quando chegou ele foi direto para o escritório mesmo depois de ter pedido para Jonatas não comentar nada com ele, meu amigo e guarda costas com certeza contou o que houve no shopping.
— Não vamos mais ficar separados, a partir de hoje voltou para nossa casa. Chega de tentar fugir do inevitável, eu amo você, e sei que também tem amor por mim. Tentamos manter a reputação e o sobrenome da família, mas do que adianta isso? É tudo hipocrisia e falsidade.
Edgar se ajoelhou na minha frente beijando minha boca enquanto segurava minha barriga, eu não podia acreditar que ele iria voltar para mim e nossa casa.
— Senhor, se for um sonho, eu não quero acordar. Eu sei que vamos enfrentar muita oposição, mas não podemos desistir por nós e nosso menininho.
De repente, meu filho mexeu a primeira vez sentindo as mãos do pai sob minha barriga, Edgar parecia que ia pular de alegria ao ser o primeiro a sentir o nosso filho mexer.
— Parece que nosso filho concorda com minha decisão. Amor meu, vou cuidar para que tenhamos uma vida tranquila até nosso menino nascer. E vamos nos casar como manda o figurino, você com vestido de noiva e na igreja como merece.
Eu não iria dizer que não podíamos estragar o nosso momento, havia esperança para nós dois mesmo que pareça loucura, eu não quero ficar longe dele e do seu amor.
— Senhor, eu quero tudo estando ao seu lado, nada me importa. Mas, o que houve para mudar de ideia?
— Venha, cadelinha, vou mostrar algo a você.
Edgar
Jonatas me contou a última gracinha de Susana, ela não para de perseguir minha mulher juntando ao fato do meu pai insistir para darmos um jeito no meu filho como se não fosse nada. Eu estava esgotado quando resolvi ver a câmera instalada no meu escritório apenas por curiosidade, mas agora acredito que minha intuição me fez colocar a câmera como também ver o vídeo.
Eu jamais poderia desconfiar do meu pai, meu próprio pai teve um caso com minha namorada, a mulher que queria como esposa trepava com o meu pai debaixo do meu nariz, fui feito de idiota e no final ele a afastou de mim não por saber que Susana não era a mulher ideal para mim e sim porque queria distância da amante.
Meu pai não iria aguentar ficar perto da mulher com quem com certeza transava com frequência e nem mesmo disfarçar. Me sinto um grande burro por não desconfiar deles, de não perceber que ter reputação, honra e moral era algo apenas que eu deveria seguir, não só eu mas Aparecida também, ele não. O grande Raimundo podia fazer grandes merdas com o tanto que ninguém soubesse.
Aparecida ficou em silêncio vendo o vídeo deles juntos discutindo, quando terminou ficou visivelmente abalada, Susana a perseguia sem motivo algum, minha mulher ficou calada com certeza absorvendo tudo que viu. Eu não idealizava um pai exemplar a muito tempo mas talvez ela esperasse isso.
— É até difícil de acreditar que é real. Como nosso pai pode fazer isso? Susana era sua namorada, se envolveu com essa mulher sabendo de como era importante para você, meu Deus, tudo isso é uma grande loucura.
— A verdade é que meu pai sempre posou de arauto da sociedade mas agiu a vida inteira como se a moral e honra não fosse nada. O que fez com sua mãe, com a minha, comigo e com você e Cido mostra isso.
Aparecida ficou pensativa como se tivesse ligado um alerta em sua mente.
— Nosso pai agiu muitas vezes de maneira ruim, e se a negligência que teve com minha mãe também teve com a sua. Se Jonatas não estiver errado, Edgar, se realmente não formos irmãos?
Jonatas acredita por várias suposições ligadas a sua mãe que eu possa não ser filho do meu pai, não sei praticamente nada sobre ela, apenas que se casou por conveniência com meu pai depois ficou grávida de mim em poucos meses de casada logo adoeceu e faleceu. A verdade é que sempre esconderam a história dela, era filha única e seus pais faleceram antes que pudesse conhecê-los.
— Depois desse vídeo não duvido de mais nada, eu vivi com essa bobagem de me sentir honrado por ser um Cunha, herdeiro de um legado mas no final isso só serviu para me afastar da única mulher que amei com toda força do meu coração. Foda-se, não me importo mais com isso, vamos marcar esse exame, se eu não for filho dele será realmente libertador.
— Eu sinto muito, Edgar que tenha que passar por isso. Apesar de tudo, ele ainda é nosso pai, e esse vídeo não vai mudar isso.
Aparecida tem um bom coração ao contrário de mim que não vou deixar isso passar em branco. Susana não significa nada para mim, porém tenho que fazê-la parar de perseguir Aparecida se para isso terei que prejudicar meu pai, de verdade, não me importo.
— Não gosto desse olhar, foi o mesmo olhar que teve quando matou Diogo.
— Aparecida, não se preocupe, eu vou resolver tudo. Agora temos que ir na consulta, estou ansioso para saber como esta a sua saúde e do nosso filho.
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Entre Sombras e Redenção (concluído)
RomanceSob o véu da redenção, Edgar e Aparecida dançam na penumbra do destino entrelaçado. Entre sedução e resistência, uma obsessão floresce, guiando-os por caminhos inesperados. Chantagem tece laços que os aprisionam, mas nas sombras, uma conexão profun...