*66*

1.2K 95 63
                                    

*Narrador

Domingo - 11 de Julho de 1995.

06h15 A.M

Diana sente a respiração de Sam contra o seu pescoço e se vira com delicadeza, se aninhando nos braços do namorado, mas logo sente alguém a cutucar.

- Di! - Dinho a chama e a cutuca novamente. - Precisamos ir. - ele fala baixinho assim que ela abre os olhos e o encara.

Pela feição preocupada do irmão, ela apenas se levanta com cuidado para não acordar Samuel e segue Dinho até a cozinha.

- O que aconteceu? - ela pergunta coçando os olhos, ainda caindo de sono e Dinho suspira.

- Precisamos ir para a casa, temos que conversar com nossos pais antes do papai sair para trabalhar. - ele fala e mostra o relógio em seu pulso que marcava seis horas da manhã. - Vai se trocar rapidinho.

Ela assente e segue até as escadas passando pela sala e vendo todos dormindo, a mesma sobe as escadas e segue até o quarto se trocando rapidamente. Quando desce novamente, tira de sua mochila o diário e uma caneta, ela rasga um pedaço de uma folha em branco e anota um recado para Sam, deixando ao seu lado.

- Vamos. - ela sussurra para o irmão e ambos saem da casa.

- Toma. - ele entrega a jaqueta dele para ela ao ver a mesma se encolher quando o vento frio da manhã bate contra os dois.

Como a Brasília e o Fiat uno dos Reolis ainda não tinham chegado, os irmãos foram andando até sua casa, a caminhada durou cerca de quinze minutos e ambos foram em silêncio.

- Como vamos fazer isso? - ela pergunta para Dinho assim que eles entram na garagem de casa.

- Eu não sei, mas vamos dar um jeito. - ele sorri para a irmã, a confortando.

Diana abre a porta da sala e vê os pais sentados no sofá e conversando, Maria quando vê os filhos se levanta e segue até a cozinha.

- A mamãe está chorando? O que aconteceu? - Dinho pergunta preocupado e Manoel levanta o rosto para encarar os filhos.

- Então vocês vão se mudar? - ele pergunta e Diana sente o coração acelerar. - Compraram uma casa e não nos avisaram? Nós ainda somos seus pais, vocês ainda nos devem satisfação. - a decepção na voz do mais velho fez o coração dos irmãos em pedacinhos.

- Papai, nós não contamos porque... Não sabíamos como contar.

- E mesmo assim fizeram tudo sem nos avisar. - Manoel se levanta e segue para a cozinha, Dinho troca olhares com Diana antes de os seguir e ao entrar na cozinha vê a mãe com os olhos marejados e encarando a pia.

- Eu sinto muito, não era a nossa intenção. - Dinho fala sentindo um nó se formar em sua garganta. - Vocês sabem que nunca faríamos nada para magoar vocês.

- Por favor, acreditem na gente. - Diana pede e os pais suspiram. - Nós só estávamos com medo da reação de vocês e aí... Acabamos não contando, mas hoje viemos justamente para contar para vocês.

- Claro, se ainda quiserem nos ouvir. - Dinho fala e Manoel e Maria trocam olhares.

- É claro que queremos ouvir, apesar de tudo nós amamos vocês dois mais que tudo nesse mundo. - a mãe fala limpando o rosto e Dinho a abraça. - E estamos felizes por tudo o que estão conquistando.

- Só não estamos prontos para deixar vocês irem para longe. - Manoel fala receoso.

- Não vamos para longe, papai. - Diana fala se aproximando e abraçando o mesmo. - A casa fica na rua do Sam e do Sérgio e vocês podem ir lá quantas vezes quiserem.

- Sem contar que nós dois vamos viver aqui, porque ainda continuará sendo a nossa casa, não é? - Dinho pergunta e Manoel sorri.

- Aqui sempre será a casa de vocês. - ele fala e Dinho assente.

- Obrigado, pai. - ele suspira. - Sem vocês dois nada disso estaria acontecendo, eu sou eternamente grato a vocês.

- Nosso sucesso é ver vocês sendo felizes e se estão no caminho certo, só nos resta apoiar. - Manoel beija a testa de Diana e respira fundo. - E então, quando se mudam?

A família Alves teve uma manhã maravilhosa, tomaram café da manhã juntos e conversaram sobre tudo, sobre a mudança, sobre o programa que os meninos gravariam no dia seguinte e sobre a viagem para Los Angeles que eles fariam na quarta-feira. Conversaram também sobre a casa nova e as expectativas de irem morar com os amigos, os irmãos prometeram para os pais que não os abandonariam e que eles sempre seriam bem vindos na casa dos filhos, assim como os filhos sempre estariam em sua casa.

A manhã foi agradável e nostálgica, repleta de amor e a saudade de algo que ainda não partiu.

Quando deu o horário, Manoel se levantou e se despediu dos filhos e da esposa, saindo em seguida para trabalhar. Maria foi limpar a cozinha e a mesa do café com a ajuda dos filhos e entre muitas brincadeiras e risadas, se pegou pensando em como o tempo voava e o que ela faria quando não tivesse mais as suas crianças diariamente com ela.

Após arrumarem a cozinha, ela ajudou os filhos a fazerem as malas e Diana e Dinho insistiram em deixar algumas peças de roupas no guarda-roupa que dividiam.

- Nós sempre vamos inventar uma desculpa para vir dormir em casa, mãe. - Dinho fala tentando confortar a mãe.

- Eu sei. - ela sorri para os dois. - Enfim, eu fiquei de ajudar a organizar o culto de hoje. - ela beija o rosto dos dois e segue até a porta do quarto. - Vejo vocês mais tarde?

- Sim, senhora. - Diana responde a mãe, ela sorri para os filhos e sai do quarto. - Se sobrar dinheiro nós poderíamos fazer um churrasco, né? Pra todo mundo ir conhecer a casa nova.

- Pitchula, você sabe que os móveis não chegam hoje, não é? - Dinho pergunta e dá risada, pegando a sua mochila e a de sua irmã.

- Mas compramos o básico, aí fazemos alguma coisa. - ela fala animada igual a uma criança. - Imagina os nossos pais e os tios? Nós juntos, comendo, cantando e dançando. - ela dá pulinhos e Dinho da risada. - Vamos passar uma semana em outro país, precisamos fazer uma mini festinha de despedida.

- Gostei da ideia, vou falar com os meninos.

- Eles vão concordar. - ela fala de forma convencida enquanto andavam pela rua, fazendo o caminho de volta para a nova casa.

- Como tem tanta certeza? - ele pergunta a encarando com a sobrancelha arqueada e ela sorri para ele.

- Porque sou eu que estou pedindo, eles nunca falam não pra mim.

- Você tem um ponto. - ele dá risada. - Acordou feliz hoje, o que aconteceu?

- Não sei, apesar de estar caindo de sono eu sinto que nosso dia vai ser muito bom. - ela entrelaça o braço com o do irmão. - Não sente a mesma coisa?

- Se você está feliz eu estou feliz. - ele força um sorriso para ela que volta a tagarelar sobre o tal churrasco.

Mas Dinho sentia um aperto no peito, algo o incomodando e que o pedia para não fazer esse churrasco.

---------------------------------------------------------

Capítulo escrito: 12.02.2024

Capítulo postado: 12.02.2024

Em seus braços - Samuel Reoli (Mamonas Assassinas)Onde histórias criam vida. Descubra agora