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Escutando o barulho das risadas das crianças, enquanto seus braços estavam presos contra seu peito, Adam desejou por um momento voltar a ser uma delas. Poder tornar a ser uma vida inocente, uma vida doce e que não guardasse ressentimento. A uma vida que trilharia sem medo do seu destino.

Medo era uma dos sentimentos que o estava rondando, além da falta de sono por não estar sentindo nada por parte de Deus quando falava sobre Silvana ou até sobre ele mesmo, do receio e da solidão que passou aos poucos o embriagar. A dor poderia ser menor, mas com certeza aumentou ao se dar conta de que com Mavi, todo o medo e solidão sumiam quando ela estava por perto. Quando podia escutar a voz da jovem que um dia lhe estendeu a mão, ignorando qualquer muralha que os impedisse.

Adam podia tentar negar a si mesmo, tentar sufocar aquele sentimento, mas a cada vez que tentava batalhar contra ele, mais o seu coração colocava-se contra e a favor do que estava correndo dentro da sua alma por Mavi.

Estar com Silvana o fazia sentir o peito sendo esmagado, principalmente com a falta de Mavi no café da manhã na mesa do jardim, era se sentir imóvel e incapacitado de reagir. Silvana poderia cometer algo, que ele se via como o único que poderia impedir.

Seu coração apertou dentro do peito ao assitir a jovem presente em sua mente, descer o jardim indo em direção ao balanço do gazebo e se sentar. Ela passou a tomar impulso, aproveitando o sol contra sua pele, o vento balançando seus cabelos enquanto sua cabeça pendia para trás, e o seu corpo tomava cada vez mais impulso. Ela ainda era uma garotinha, ela mostrava uma doçura, uma liberdade que ninguém poderia lhe tirar. Ninguém, a não ser ela mesma.

A alma de Adam pareceu pesar em sua carne, ao pensar na possibilidade daquela jovem tão livre e dócil, ser machucada ou ter o seu coração ferido. Ter que ver ela perder aquele brilho, que sempre ressurgia depois de um tempestade, e que nunca iria sumir mesmo que ela posse algo para impedir de que alguém visse. Mavi era única.

Um toque no ombro de Adam o fez virar-se de uma vez, e deparar com sua mãe. Entre os dedos da mulher, uma fita métrica de números vermelhos.

- Desculpe atrapalhar o seu momento, mas é que eu preciso tirar a sua medida.

Eles engoliram em seco, quase ao mesmo tempo, pareciam ter quase a mesma dor. Lúcia o levou até o meio do escritório, e enquanto esticou a fita para contar cada centímetros, notou o quanto o seu filho estava bem mais aéreo do que presente. Em nenhum momento, ele pareceu dar algum tipo de crédito.

- Pronto - anunciou a mulher, caminhando até o seu caderno já aberto onde iria escrever os números de cada largura, enquanto seu filho foi para o sofá.

Para ela não foi nenhuma dificuldade escrever, já que estava acostumada e sua mente era ótima para decorar as anotações. Ela bateu um pouco o lápis contra a folha, tentando não se preocupar tanto com a tristeza aparente nos olhos daquele que deu à luz. Mas mesmo querendo ou não, era mãe. Ao menos, sentou-se ao lado do homem, pigarreou e alinhou-se no sofá.

- Qual será a cor do seu terno? Você tem algum tipo de preferência?

Foi necessário que ela tocasse na mão de Adam para que ele dissesse pelo menos alguma coisa.

- E isso importa tanto?

- Mas é claro! Principalmente para mim que estou responsável pelo vestido dos noivos, e das madrinhas.

Adam fez um aceno de negação com sua cabeça, olhando para o lado. Lúcia prendeu a respiração, sabendo perfeitamente como devia estar a mente dele.

- Eu sei o quanto deve estar sendo doloroso para você ter que decidir algo para essa união - comentou, tomando assim, a atenção de Adam - Isso é tão bobo de se pensar, Adam... você está se submetendo e que sabe muito bem que pode ir contra! Que pode fazer algo, pode reagir!

Simplesmente, Você | Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora