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O gotejar silencioso, o som de cada batida do seu coração, nunca estiveram tão altos e ecoando ao redor de sua cabeça. Ela apertou a coberta entre suas mãos, tentando suportar o que cada vez mais lhe transpassava o peito, chegando aos seus ouvidos. Seus olhos se apertaram, e em um segundo, sua mente caiu em um lugar distante...

Fleches de luz entravam pelas janelas longas e extensas na parede direita do cômodo, dando vida ao cômodo. Mas claro, não era apenas a luz, como cheiro adocicado e a decoração adorável do ambiente. As cômodas brancas, os armários extensos e a poltrona próxima a varanda, tinham um perfeito acordo com a decoração simples e doce. O quarto da bebê, que não demoraria para nascer, prometia proteção.

E com as mãos ao redor de sua barriga que estava enorme, por cima do tecido de sua camisola longa de mangas finas, Maria o adentrou lentamente - lembrando que ali viveria a sua menina. O fruto do seu amor, entre o seu marido e ela.

Ao reconhecer as mãos dele em seus ombros, um suspiro baixo saiu de suas narinas.

- O que faz aqui sozinha?

Ela deu um risada baixa, inclinando sua cabeça para que esta descansasse sobre o ombro de seu esposo.

- Eu não estou sozinha, meu amor. Estou com a nossa filha.

Ele sorriu, também unindo suas mãos às de sua esposa, sobre a barriga enorme que tanto adorava ver e sentir contra sua mão.

- A nossa pequena filha.

Maria gargalhou quando sua pequena deu um chute, mostrando sua alegria por escutar a voz do pais. A mulher nunca se sentiu tão amada, tão cheia e sem mais a necessidade de ter outra coisa. Tudo o que ela tinha, estava bem ali diante de seus olhos.

Mas assim que abriu seus olhos mais uma vez, deparou-se com o clima totalmente diferente do que havia vivido antes. Sua barriga estava baixa, sem a presença de qualquer outro ser. Ela ofegou, olhou para os lados. Porém, a pequena apreensão cessou no momento em que escutou o choro baixo centímetros à frente.

Em passos lentos, ela se aproximou do berço branco onde, no canto, uma boneca de pano descansava sua cabeça contra a madeira do móvel. Seus olhos brilharam, e suas mãos se esticaram para acalentar a pequena.

Todo o corpinho estava abrigado em um macacão rosa de tricô, as mãos cheias e pequenas abriram-se de uma vez ou outra próximo ao rosto redondo, e a sombra dos cabelos que logo iriam nascer coloria a cabeça arredondada. O nariz era pontudo, os lábios pequenos mas que facilmente faziam sorriso dóceis aparecerem.

Maria desceu sua mão para a cabeça da criança, dedilhado cada parte e desejando beijar cada uma.

- Como eu te amo minha pequena, como eu te amo...

A mãe passou a fazer movimentos ritmados, enquanto cantou uma cantiga baixa a fim de acalmar a menininha. Ela chegou a fazer isso, e um silêncio se instalou no ambiente. Maria deixou a cabeça da pequena descansar em seu ombro, enquanto inspirou o cheiro doce e único que a menina tinha.

Ela desejou morar ali eternamente, porém, quando um estalo ecoou em outro cômodo da casa, seu coração saltou.

Buscando o ar com toda a sua força, chegando a erguer o seu tronco na cama. Maria abriu seus olhos abruptamente. Tudo ao seu redor, dos objetos da casa aos desenhos, passou a fazer sentido. Ela reconheceu o cheiro da noite, o frio que aos poucos passou a ronda-la. O som de vozes...

Tudo, tudo passou a fazer sentido para ela.

Suas mãos correram para sua garganta, diante da seca que fez o ar ficar difícil de ser inspirado.

Simplesmente, Você | Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora