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Sem compreender as lágrimas e tremores dos dois à sua frente, Mavi se indignou ao ser nomeada por um nome que não lhe pertencia. E não só por isso, mas por todos estarem emotivos.

— Eu não estou entendendo o que vocês estão falando!

Com o coração recuperando as forças, Maria abraçou Mavi.

— Você é a minha filha, Mavi. Você é a minha menina!

Mavi encontrou-se completamente aturdita sem poder compreender o que estavam dizendo. Como assim, de uma hora para a outra, Maria estava dizendo que era sua mãe? Que ela era a menina que estava torcendo para que fosse e encontrada, como?

— Nós somos os seus pais — anunciou Eduardo.

Mavi se afastou bruscamente de Maria.

— Não, vocês não são os meus pais... vocês não podem ser os meus pais!

— Não diga isso, minha filha.

— Não me chame de filha porque eu não sou a sua filha! — exclamou.

— Mavi, por favor.... escute o seu pai — Maria suplicou, trêmula.

— Ele não é o meu pai, Maria! Ele não é!

A voz de Eduardo soou como um trovão que estremeceu Mavi.

— Deixa eu te provar isso.

Os dedos do homem abriram com facilidade o pingente, enquanto o coração do mesmo já estava cansado de todo aquele sofrimento. Sua mão trouxe Mavi para perto, a deixando com os olhos à vista do objeto dourado nas mãos do desconhecido.

— Em que dia você nasceu, Mavi?

Ela relutou, mais ainda assim respondeu.

—... dia cinco.

— Como eu já sabia... — afirmou, levando a ponta dos seus dedos — Esses números presentes desse lado, dez, cinco e oito. São os das datas do meu nascimento, o seu, e o da sua mãe — contou.

—... e essas letras? — questionou Maria, ao unir-se aos dois.

— O "M", é de Maria. O "E", é de Eduardo — suspirou — E o "A" — olhou para Mavi — De Aurora.

Mavi fixou seu olhar com todo seu sentimento, no pingente aberto. Ela segurou a si mesma em total negação. Descobrir o significado de tudo aquilo, de que aquele colar ligava ao seu passado, que ele era a ponte para que ela pudesse reencontrar os seus pais depois de tantos anos, fez o chão fugir sob seus pés enquanto lutou para não cair de suas próprias pernas.

Ela estava diante daqueles que a trouxeram ao mundo, daqueles que a deram um nome que ela mesma não tinha ideia que lhe pertencia. Eles deveriam ter feito parte da sua vida desde o momento em que veio ao mundo... e se fosse eles sempre ao seu lado, o choro, o medo, a fome, o desespero e dor, seriam totalmente pequenos. Toda a força que um dia usou e depositou para que odiasse à elas, foi revertida e lágrimas grossas que desceram queimando a pele de seu rosto.

—.... não, meu Deus... não...

Ela olhou para Maria, impossibilitada de acreditar que ela era a sua mãe.

— Mavi.

Ela olhou para Eduardo, o homem que nunca viu em sua vida mas que mudou o rumo da sua história num estalar de dedos. O homem, que era o seu pai. Não podendo suportar o peso daquela descoberta, daquela dor imensa, Mavi recuou dos braços de Maria quando esta tentou a abraçar novamente. Seus olhos cristalinos, que um dia brilharam de alegria para Maria, agora, tinham ódio, raiva, dor, medo... Ela não podia ter o mesmo sangue o que o seu, não ela... Maria não podia ser a mesma mulher, que por tudo o que sofreu em sua vida, ela passou a aprender a odiar. Na velocidade da luz, Mavi deixou a todos da casa partindo porta à fora.

Simplesmente, Você | Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora