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Forçando a si mesma a permanecer caminhando pela calçada, Mavi não deu crédito nenhum ao frio, tudo o que mais queria era estar longe o possível de todos. Mesmo que nesses todos, Adam estivesse incluído. Era dolorido estar no mesmo ambiente com ele e sempre lembrando que faltava pouco para não ser mais como antes. A se tornarem quase que desconhecidos.

E além de tudo, a sua garotinha preferida disse algo que lhe corroeu a alma, mas que não deixou de ser uma verdade. Adam pertencia, e sempre pertenceria à Silvana. E ela, é claro, não daria ele assim de mão beijada.

Tudo o que Mavi, no fundo, queria de verdade era dar realmente aquele amor que ela segurava tanto para acabar não sendo tão despejado. Mas ela temia, temia que no fim ele acabasse, mesmo recebendo todo o carinho e vendo o que significava para ela, tornando-se cada vez mais distante, chegando a esquecê-la.

Mavi já estava a um ponto de chorar, quando, no meio da calçada aonde um muro com rosas à sua esquerda, a presença do desconhecido lhe chegou aos olhos.

A capa, o sorriso satânico, o chapéu e as unhas longas a fez estremecer ali mesmo. Era o mesmo dos seus sonhos, era o mesmo que surgia em momentos que ela menos esperava. Como algo como aquilo poderia estar perante os seus olhos? Ela estava tão bem consciente como nunca.

— Não, isso não pode ser verdade. Eu devo estar ficando maluca — levou suas mãos a cabeça — Isso é um pesadelo, isso é um pesadelo!

— Não está me reconhecendo, Mavi? — rosnou a voz do desconhecido.

Ela estremeceu dando um passo atrás, incapaz de associar tudo aquilo.

— Vim dar uma visitinha para você — ele deu alguns passos, congelando cada vez mais os pés da jovem no chão — Cansei de te ver apenas em seus sonhos.

Um berro alto vibrou da garganta de Mavi. Seus passos se apressaram, mas não puderam a levar tão rapidamente para longe. Ele conseguiu a agarrá-la pelo pulso, a puxando para si.

— ME SOLTA! ME SOLTA! — esperneou.

— Calma, calma... Ainda vamos nos divertir muito essa noite!

Um arrepio quebrantou todas as forças de Mavi, a deixando quase sem ar e quase incapaz de dar forças aos seus chutes para sair do aperto que cada vez mais aumentou.

— ME DEIXA EM PAZ! ME DEIXA EM PAZ!

Ela apertou os olhos, desejando que aquilo tudo fosse um pesadelo e que pudesse acordar. Mas ao sentir a mão fria e assustadora contra a pele de seu rosto, seus pulmões se espremeram em busca de ar para conseguir respirar. O medo lhe achegou como uma cobra sorrateira, que aos poucos foi subindo por sua pele e ossos, até alcançar o seu coração.

Todas as vezes que acordou aos berros por medo daquele que agora a segurava, passaram como luzes diantes de seus olhos. As vezes em que foi acolhida por Genésio, por Adam... Ah, Adam, onde você poderia estar?

A dor recorrente, vibrou por cada célula de Mavi, fazendo-a cair num choro desesperador. Entretanto, a mesma dor que uma vez a fuzilou com tanta força, foi revertida em força. Mavi conseguiu se agitar nos braços de quem a segurava, gritando em seguida. Seus olhos se fecharam quando tudo passou a ficar nublado e a dor aumentar dentro do seu coração.

Quando estava prestes a ficar inconsciente graças aos seus gritos e todo o pavor nunca sentido antes, sentiu seu corpo ser totalmente liberto e quase jogado ao chão. Ela se segurou ainda em suas pernas, sem desviar o olhar para aonde ele parou.

A criatura que lhe havia agarrado, travou a luta com alguém que ela não pôde reconhecer. Os dois chegaram a trocarem socos, mas não demorou já que o encapuzado deixou-o quem o pegou desprevenido com passos largos.

Simplesmente, Você | Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora