Capítulo 14

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Eu odiava ser mulher de passar recados. Na escola, quando me enviavam bilhetes para que eu entregasse a outra pessoa, minha vontade era de abrir e descobrir o que estava escrito ali, naquele papel dobrado e amassado. Eu não contaria para ninguém, apenas queria saber.

Poxa, isso é considerado tão errado assim?

Era por esse motivo, que neste exato momento, eu negava o pedido de Eva, uma das senhoras fofoqueiras que estava atrás de mim, me implorando para fazer uma "boa ação".

- Dona Eva, esquece! - mando, enquanto passo à rede na piscina, fazendo o possível para tirar até os mínimos grãos de sujeira.

- Por favor Aly, querida! - implora com as mãos juntas.

- Eu não vou fazer isso - digo convicta.

- É só um bilhete!

- Um bilhete para o jardineiro, Dona Eva - Paro meus movimentos na piscina e a encaro, ela sustentava um bilhete amarelo quase na minha cara.

- Por favor!!

- Por que não pede para Dote ou Vera?

- Elas vão rir da minha cara - faz drama - Aquelas velhas asquerosas e invejosas não querem me ver amando.

Seguro para não rir.

- Eu ainda tenho que limpar mais um quarto no andar de cima, não tenho tempo para isso - explico, mas me arrependo quando vejo seu brilho sumindo.

Não acredito que ela queira mesmo fazer isso, passar um bilhete romântico, em pleno século vinte e um.

- Não acha que... - hesito, procurando as palavras certas - Que isso... - aponto para o bilhete - Não está um pouco ultrapassado?

- Você quer colocar idade para o amor, Alya? - pergunta com o cenho franzido e eu arregalo os olhos.

- Não, meus Deus, não!!! - balanço aos mãos - é só que...

- Já sei, você acha que sou velha demais para o amor! - abaixa a cabeça - Tudo bem, você deve estar certa.

- Não, eu não disse isso.

- Está tudo bem, eu devia ter ouvido Dote e..- Antes que ela termine, tiro o papel de sua mão, desesperada para que ela parasse de tirar conclusões precipitadas.

Meu Deus, não acredito que estou cogitando em entregar esse bilhete.

- Tudo bem, tudo bem! - Me dou por vencida.

- Ótimo - Vejo o olhar triste de Eva, se transformando em um alegre, em questões de segundos.

E estava começando a acreditar que eu havia sido manipulada por uma senhora de sessenta anos.

- Mas apenas depois que meu horário acabar.

Eva concorda super animada e logo em seguida dá as costas balançando os ombrinhos. De repente, sinto um cheiro bom e espeto o nariz no ar, procurando de onde vinha esse perfume.

Devagar, levo o papel até o nariz exalando o mesmo.

Não, não pode ser.

Eva havia passado perfume no bilhete.

Rio da situação. Ok, tenho que admitir que aquilo era bem fofo, e esperava que ela conseguisse o quê tanto queria.

Enfio o papel no bolso da saia branca do uniforme, tomando todo o cuidado para não amassar o bendito bilhete, pois ele significava muito para ela.

Termino rapidamente de limpar a piscina e guardo o equipamento no quartinho de limpeza, pronta para passar para o próximo local.

Saio da área da piscina e subo as escadas para o segundo andar, fazendo o possível para não me perder. Dona Flor mandou limpar o único quarto que tinha em um dos corredores, e era isso que estava prestes a fazer, mas no momento, me encontrava confusa sobre qual corredor, pois havia vários na casa. Corredores longos e largos, dando a impressão de que eu estava em um labirinto.

Esqueça as Chamas e a Tempestade (Livro 1 da série: Herdeiros) Onde histórias criam vida. Descubra agora