Pov' Brunna
É Henrique e Juliano, eu pensava que minha ferida estava curada. Pensei que quando eu a olhasse, nem iria tremer, talvez a saudade teria esquentado o frio na barriga e aquela distancia enorme tinha zerado o amor. Mas foi o exato oposto. Quando eu a vi, parece que entrei em um deja vu. As batidas do meu coração se acelerou, e ao mesmo tempo, me veio uma grande vontade de chorar, que consegui disfarçar, graças ao abraço que Marcos me deu. Ele contou o quanto estava com saudades e só então me soltou. Voltando a me deixar vulnerável sobre o olhar de sua amiga. Tentei não demonstrar o quão abalada eu estava e cumprimentei todos os seus amigos que estavam por ali, inclusive a maioria eu estava conhecendo pela primeira vez.
Pensei uma, duas, três, quatro, cinco... E por mais um pouco não chegava a conhecer o infinito dos números. Tudo isso para pensar se iria a cumprimentar ou apenas fingir que sua presença ali não me fazia diferença. Mas a verdade é que fazia, e muita. Mário Jorge percebeu todo o desconforto entre nós e me puxou para mais perto dele. Me deixando a poucos passos da cantora, que ainda me olhava. E eu tentava a todo custo desvendar o seu olhar, mas era em vão. Eu não tenho mais o poder de lhe conhecer, então apenas me dei por vencida e encostei na barra de ferro que separava as áreas. Ficando na mesma posição que ela. Cheguei a implorar para que meu amigo não saísse dali, mas em um tempo determinado da noite, ele foi até o bar pegar uma bebida. Deixando por ali, apenas eu e ela.
- Acho que Londres tirou a educação que você tinha. - ela brincou depois de um longo tempo, apenas misturando suas bebidas. Eu pensei em ignorar, mas o seu olhar castanho me atraiu. O mesmo olhar castanho de dez anos atrás.
- Talvez. - suspirei - Boa noite, Ludmilla.
- Boa noite, Brunna. - disse simples - Eu não sabia que você estava de volta ao Brasil, depois de tanto tempo. Pra ser sincera, eu nem esperava que você fosse voltar.
- Se você tivesse me escutado de verdade, teria entendido, que meu propósito era só fazer a faculdade. E que quando acabasse, eu voltaria. - olhei em seus olhos - Eu disse isso para todos, inclusive para você.
- E como foi sua faculdade? - questionou ao mudar de assunto de forma brusca, ou talvez ela realmente estava curiosa para saber como teria sido.
- Ótima. Tive oportunidade de aprender muitas coisas, que se eu tivesse ficado aqui no Brasil, não teria aprendido. - falei com sinceridade - E bom, tenho meu diploma.
- Que bom, doutora. - ela sorriu simples - E como está se sentindo, de volta em casa?
- Estranha. - observei o ambiente, que tinha diversas pessoas dançando - Acho que eu me desacostumei com essa vida informal. Lá em Londres todo mundo é sério, sem senso de humor. - gargalhei baixo - Aqui é tudo muito diferente de lá. Mas ainda assim é bom.
- Para melhorar ainda tem aquele inverno que nunca acaba. - deu de ombros e deu um gole na sua bebida. Como ela sabia que em Londres é frio, sendo que ela sempre odiou geografia? Será que esteve pesquisando? Ou apenas aprendeu com o tempo?
- Sim! - falei simples e voltei a desviar os nossos olhares. Olhando agora para o meu amigo Mário, que estava aos beijos com o novo namorado - Desde quando isso está acontecendo?
- Não sei. Mas não parece ser recente. - ela sorriu ao ver os homens - Você se lembra de quando o Mário e o Marcos tiveram um caso?
- Aquilo foi horrível. - fiz uma careta - Com certeza é o tipo de coisas que eu não quero lembrar.
- Realmente tem coisas que merecem ser esquecidas. - senti isso como uma alfinetada e resolvi mudar de assunto, antes que isso se tornasse uma discussão de um relacionamento que não existe mais.
- E você? Como está essa vida de artista? - perguntei realmente interessada na resposta.
- Uma loucura. - ela se animou - Eu estou tendo a vida que sempre sonhei. Aonde eu vou, sou reconhecida. Todo mundo sabe cantar as minhas músicas, tem noção disso Brunna?
- Deve ser... - busquei a palavra certa para me expressar - Maneiro.
Pov' Ludmilla
Passamos anos sem nos falar, sem nos olhar. Mas a sensação de tê-la por perto, ainda me deixava confortável. Hoje em dia, ela é ainda mais bonita. O seu cabelo ondulado a deixou com um jeito de mulher. Além disso, a sua voz está diferente, agora seu sotaque carioca se misturou com o sotaque inglês e deixou tudo melhor. Me mantive atenta em toda a nossa conversa e só me afastei quando umas pessoas da área do lado começaram a acenar em minha direção e ultrapassaram o meu espaço pessoal.
Caminhei até o bar e pedi mais uma dose de gin tônica. Fui surpreendida pela presença da Daiane com um sorriso de lado no rosto e eu poderia jurar que ela estava na quinta série. Revirei os olhos ao entender qual era a sua intenção e me sentei no pequeno sofá em que eu estava antes. Pensei que ela me deixaria em paz, mas se sentou ao meu lado e levou seu braço em torno do meu pescoço.
- Estava mesmo com saudades da sua Bru, hein? - me olhou de lado - Está até um pouco mais jovem.
- Deixa de ser insuportável, Daiane. - retirei seu braço do meu corpo - Se eu soubesse que ela estaria aqui, obviamente não viria. Mas eu não sabia.
- Ah claro, até porque você pensava que a tal amiga que o Mário iria trazer era a Lady gaga. - gargalhou alto, provavelmente pelo efeito da bebida, já que ela é tímida - Me poupe das suas mentiras, Lud.
- Não estou mentindo, Daiane. Me deixa em paz. - pedi - Acho que você já bebeu demais por essa noite. Está até variando.
- Ainda são duas horas da manhã. Eu irei beber até às cinco. - retirou o copo da minha mão - Se você é uma idosa e não aguenta mais o pique, pode ir embora.
Ela se levantou e caminhou até a pequena pista de dança. Pensei em voltar até o bar e buscar outra bebida, mas apenas me ajeitei no sofá, recebendo agora um olhar acusador de Marcos, que estava tentando me mostrar uma mulher, que estava me observando do outro lado da área. Eu sabia exatamente o que ele queria dizer com aquele olhar, mas a volta da Brunna mexeu com algo que estava muito bem escondido dentro de mim, o amor.
Uma das minhas músicas favoritas começou a tocar na boate e eu fiquei de pé, na intenção de dançar. Ygor e Mário, por um rápido milésimo de segundo pararam de se beijar e me acompanharam na dança. Vez ou outra eu sentia o olhar indecifrável da Brunna sobre mim, mas fiz questão de evitar por toda aquela noite. Chegou uma certa hora em que Daiane não conseguia mais ficar de pé, e eu estava da mesma forma. Então chegou a hora de ir embora.
Uma das melhores coisas de sair com meus amigos, é que sempre vamos de van, o que facilita nossas voltas para casa. Pensei em me despedir da médica, mas a perdi de vista naquela boate consideravelmente grande. E só me restou cumprimentar Mário com um beijo na bochecha e ser guiada pro Marcos até a van que nos esperava na porta. Não sei como foi o caminho de volta para casa, já que a última coisa que me lembro foi de ter bebido mais um copo de vodka e apagado dentro daquele automóvel.
Acordei apenas no outro dia, com uma dor de cabeça insuportável e com a voz alta da minha mãe, enquanto ela abria as cortinas do meu quarto. Suspirei pesadamente e me controlei para não xinga-la. Por sorte a Luane deixou uma cartela de remédios contra enxaqueca sobre a mesa de cabeceira e eu agilizei para tomar. Esperei fazer o efeito para só então criar coragem de ir ao banheiro me aprontar para começar o dia. A pergunta que estava sondando em minha mente é: será que ela realmente voltou ou foi apenas uma armadilha do meu subconsciente?
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Maliciosa (Brumilla)
FanfictionLudmilla, uma cantora e compositora brasileira, dona de diversos hits, desde funk até o pagode, conhece o amor da sua vida, Brunna Gonçalves, em uma roda de Samba em Duque de Caxias, os compromissos diários acaba separando as duas, e só o tempo e a...